domingo, 14 de janeiro de 2007

A reprodução assistida: crítica feroz do diretor do HC.

Jorge Hallak é médico urologista formado na FMUSP e, dirige o Centro de Reprodução Humana do HCFMUSP. Em O Estado de S.Paulo (14/01/07), Aureliano Biancarelli e Mônica Manir publicam entrevista com ele. O conteúdo é explosivo pelo grau de denúncia. Nada novo para quem conhece o que se passa nesse setor, movido a muito dinheiro, assessorias de imprensa eficazes que informam somente sucessos e, atitudes médicas discutíveis. Recomenda-se guardar a entrevista para apresentar a casais que procuram clínicas de infertilidade. A citação dos custos com berçário de alto risco merece ser destacada. Em suma, uma atitude corajosa, contra o corporativismo e, a favor da medicina.
Com a a palavra, o CREMESP e CFM. Abaixo a abertura da entrevista.
A espera e a chegada de um filho estão entre os eventos mais marcantes na vida do homem e da mulher. Significa a continuidade e a preservação da vida. Para cerca de 15% dos casais, número estimado de pares inférteis, só haverá espera, não chegada. O que seria uma festa, passa a ser uma seqüência de frustrações.Esse cenário está mudando. A tecnologia reprodutiva vem revertendo a lei da seleção natural, permitindo que quase a metade dos casais inférteis tenha filhos. Por conta dos altos custos, os procedimentos ainda estão restritos a uma minúscula parcela dos casais que necessitam, menos de 5%, no Brasil.Para muitos daqueles que podem pagar - cerca de R$ 40 mil por criança nascida viva -, a busca pela reprodução assistida tem sido uma peregrinação cheia de falsas promessas, procedimentos inúteis e gastos desnecessários.'Se os casais que procuram pela reprodução assistida fossem bem informados, um quarto deles deixaria de fazê-la', diz o urologista Jorge Hallak, diretor científico do Centro de Reprodução da Universidade de São Paulo, 41 anos, sem filhos.Embora o Brasil esteja na ponta da tecnologia reprodutiva, Hallak diz que a prática sem regras nem ética de muitas clínicas vem transformando o Brasil num país de 'turismo reprodutivo', atraindo especialmente casais europeus.Procedimentos como a redução embrionária, a implantação de muitos embriões, a escolha do sexo do bebê e intervenções sem diagnóstico são praticados sem nenhuma fiscalização. 'O Brasil se transformou numa fábrica de bebê de proveta, onde não há tempo para se fazer o diagnóstico. Aqui, de cada 100 casais que chegam para fazer inseminação artificial, 95% acabam fazendo, mas menos da metade deles precisariam.'O emprego do ICSI - técnica sofisticada que permite a implantação de um único espermatozóide dentro do óvulo - 'deve ser o último recurso para um casal que não consegue ter filhos', diz o médico. 'No Brasil, é sempre a primeira opção, porque é mais rápida e dá mais dinheiro. A reprodução assistida virou uma terra de ninguém.'As clínicas 'só não informam aos pais angustiados de que esses recursos provocam gravidez múltipla, parto prematuro, nascimento de baixo peso e risco de morte para a mãe e o bebê'.Fascinante, a tecnologia reprodutiva coloca questões éticas ainda não estabelecidas, como os bancos de sêmen, o congelamento de embriões, o consentimento informado dos pais, a barriga de aluguel, a escolha de embriões com base na evidência de doenças e, em última instância, o direito do embrião à vida. Essas são algumas das questões a serem tratadas no Núcleo de Pensamento Jurídico em Reprodução Humana, instalado na semana passada por profissionais da USP e do Mackenzie, e do qual Jorge Hallak é o coordenador técnico científico. Abaixo, trechos de sua entrevista

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