quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Em recesso, mas atento: a mística de 1968

Muito bom o texto de Élio Gáspari na Folha de S. Paulo (26/12/2007) sobre os acontecimentos de 1968. (assinante da Folha, clique aqui). Um trecho segue a a seguir: A brutalidade da ditadura militar cobriu com um manto sagrado a natureza autoritária dos projetos de quase toda a esquerda brasileira.Passado o tempo, essas militâncias são explicadas a partir da idéia de que aquela foi uma geração que correu atrás de um sonho. Tudo bem, pois ninguém pode discutir com uma pessoa que teve um sonho há 40 anos.A sacralização do 1968 brasileiro tem seu melhor momento na gloriosa passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro, na tarde de 26 de junho de 1968. É pena, mas por mais que ela tenha assustado os generais, foi outro fato quem levou todas as águas do São Francisco para a moenda da ditadura escancarada. Naquela madrugada, um comando da VPR jogara um veículo com explosivos contra o portão do QG do 2º Exército, em São Paulo, matando o sentinela Mário Kozel Filho.No Brasil, 1968 foi o ano de um terrível desencontro provocado pela radicalização política. Talvez não pudesse ser evitado mas, ao contrário de 1989, teria sido melhor que não tivesse existido.
Em outubro, esse blogue em Os vitimizados de 68 já acordaram advertia sobre o porre que será no próximo ano, a louvação ao ano de 1968.
Domingo, 7 de Outubro de 2007
Os vitimizados de 68 já acordaram
Pensei que iria comentar sobre o risco do "ataque de vitimização da geração 68" somente em janeiro, talvez fevereiro de 2008. Mas, começou com o Che, agora no Estadão, o fótografo da passeata dos cem mil está procurando onde estão os participantes. Haja paciência, simplesmente muita paciência com esses mimados com sessenta anos de idade. Essa geração clama ao mesmo tempo os créditos por heroísmo e a recompensa por vítimas. Os eventos de 68 foram somente fotográficos (quantas vezes veremos a foto do carro queimado na Ipiranga com São João ou a briga da Maria Antônia no próximo ano?) mas pouco efetivos em termos de ganhos. Não há como negar a guerrilha urbana e rural foi uma enorme irresponsabilidade que ceifou vidas e justificou o que existia de pior no estamento militar. Quando da promulgação do AI-5 em dezembro, várias organizações "saudaram o fato", porque assim a "ditadura mostrava a sua real face".
Os acontecimentos de 1977 - nos quais participei ativamente - tinham objetivos como anistia, amplas liberdades democráticas e convocação de uma assembléia constituinte. Ganhamos o jogo.
A repressão ao movimento em 77 como a invasão das Faculdades de Medicina da UFMG e USP e da PUC não mereceram nenhuma reportagem. No caso da PUC, mesmo as vítimas reais (queimaduras graves) não se portaram como "vítimas".
Voltando ao fotógrafo de 68, aposto que o número de presentes na passeata dos cem mil chegará a um milhão! Vários com certeza vão entrar com pedidos de indenização ou semelhante.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Blogue em recesso

O final de ano obriga a muitas coisas: entregar relatórios, enviar textos atrasados, corrigir teses e, como não poderiam faltar: as festas, os almoços, e as confraternizações.
As coisas no Brasil esfriam, mas se mantém acesa no hemisfério norte. Mesmo assim, é o momento do recesso.
Um momento de reflexão, de ler aquela montanha de livros e textos que li apressadamente e, recomendei.
Agradeço a atenção da minha quase duas centenas de leitores diários nesse ano de 2007. Em fevereiro de 2008 voltarei normalmente, exceto algo muito excepcional ocorra, tal como um novo caso Avandia que rendeu a maior audiência do blogue em 2007.
Até o final do ano farei uma postagem com um balanço do ano.
Feliz Natal e Ótimo 2008.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Juiced, finalmente o beisebol

A Major League Baseball confirmou o que todo o mundo esportivo sabia: há doping no beisebol. Na gíria, “juiced”. Um esporte sem qualquer controle de doping. Ontem, foi liberado um relatório imenso sobre jogadores com alta performance envolvidos no uso de testosterona e hormônio do crescimento. (clique aqui para ver a versão completa) Aproveitando o post anterior, por enquanto – acredito eu, na minha ingenuidade – o doping está somente na química fina, mas quando chegar na biotecnologia....
Quem quiser aprofundar o tema, Charles Yesalis publicou vários livros sobre o tema. Basta procurar na Amazon. Pena que o tema ainda não se difundiu no Brasil. Por enquanto somente o caso Rebeca e, o ridículo “doping” com finasterida de Romário. Na figura, charge de Barry Bonds, o recordista de home run, mas visivelmente “juiced”.
NEW YORK -- Former Sen. George Mitchell said on Thursday that performance-enhancing drug use has been pervasive in the sport for more than a decade as he released his findings in the shape of a 311-page report, which was fashioned during the past 20 months of investigations. "Everyone involved in baseball shares responsibility," Mitchell said during a news conference at the Grand Hyatt Hotel. "Commissioners, club officials, the Players Association and players. I can't be any clearer than that." In all, 89 players were named in the report, including free agent Roger Clemens, Andy Pettitte of the New York Yankees, Miguel Tejada of the Houston Astros, Eric Gagne of the Milwaukee Brewers and Paul Lo Duca of the Washington Nationals, as well as a list of players like Barry Bonds who have already been publicly associated with steroid use. The report itself is posted at MLB.com and is available to read in its entirety.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Sai a química fina, entra a biotecnologia.

The Wall Street Journal apresenta relato impressionante da queda de empregos na Big Pharma. (vejam a figura) A causa é o fim da química fina no ramo inovador e de marca. Assiste-se a sua transformação em commodities e, consequentemente em genéricos. O futuro está com a biotecnologia. Saem os químicos, entram os biólogos. Aqui, temos a CNTBio .....bem, o que faz a CNTBio?
PARADIGM LOST
As Drug Industry Struggles,Chemists Face Layoff Wave
Lipitor Pioneer Is Out At Doomed Pfizer Lab;A Blockbuster Drought
By AVERY JOHNSON See Corrections & Amplifications
belowDecember 11, 2007; Page A1
ANN ARBOR, Michigan -- In January,
Pfizer Inc. announced it was closing its storied research laboratories here, laying off 2,100 people. Among the casualties: Bob Sliskovic, a 23-year lab veteran who helped create the world's most successful drug.
The closure and Dr. Sliskovic's abrupt change of circumstances are emblematic of the pharmaceutical industry's declining fortunes. It was at the Ann Arbor facility in the late 1980s that Dr. Sliskovic first assembled the chemicals that make up Lipitor, the cholesterol-lowering drug that has generated about $80 billion in sales since its launch and ranks as the bestselling pharmaceutical product ever. Today, Lipitor is nearing the end of its patent life, and Pfizer hasn't been able to come up with enough promising new drugs to replace it.
Following that initial breakthrough some 20 years ago, Dr. Sliskovic worked on several other research projects, but none panned out. His losing streak mirrors the industry's. A byproduct of the late-19th-century chemical business, pharmaceutical research thrived for more than a century by finding chemical combinations to treat diseases. But after contributing substantially both to human health and drug-industry profits, it has failed to produce significant innovations in recent years.
igh failure rates have long plagued chemistry-based drug research. Between 5,000 and 10,000 compounds are tested for every drug that makes it to market. In recent years, the problem seems to have gotten worse. Despite spending tens of billions of dollars more on research and development, pharmaceutical companies have fewer and fewer drugs to show for it. In 2006, the industry received Food and Drug Administration approval for just 18 new chemical-based drugs, down from 53 in 1996. Moreover, many of those drugs are variations of existing medicines.
Robert Massie, president of the American Chemical Society's database of chemistry research, says some researchers are questioning how many more chemical combinations there are that are useful against diseases. "It's like how coming out with metal drivers in golf was a huge innovation, but now it's incremental. You're just coming out with drivers that are a little longer or rounder," he says.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

No ar, RECIIS

No ar, a Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz.
Clique aqui para acessar o site e, leia o manifesto de lançamento abaixo.
RECIIS é uma revista pluralista, bilíngüe, não-doutrinária, voltada para a compreensão da dinâmica do presente da arena da saúde, aberta a contribuições que entendam a ciência, a tecnologia e a inovação como expressões, geograficamente situadas, de processos culturais, políticos, econômicos, sociais e históricos, e passíveis de questionamentos e transformações. A revista publica, semestralmente, após avaliação pelos pares, conteúdos críticos sobre informação, comunicação e inovação em saúde. Os manuscritos poderão ser enviados em português ou inglês. Todos os textos aprovados serão traduzidos pela RECIIS e publicados em ambos os idiomas.

Wal-Mart põe consulta médica na prateleira

Esse é o título da reportagem de Valor Econômico de hoje, 12/12/07, sobre a disposição da Wal-Mart de oferecer consulta médica a R$20,00 na rede de supermercados Todo Dia, em Olinda, Pernambuco. Os consultórios serão gerenciados pela Intermédica (que não recebeu a reportagem do jornal para maiores explicações). O laboratório Lavoisier já utiliza locais como shopping-centers para coleta de exames. Nos Estados Unidos, as Rede Clinic funcionam muito bem, mas sem a presença de médicos, mas dependem da legislação de cada estado. Bem, vamos ver o acontecerá.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Harvard adapta anuidades

A Harvard University está atraindo alunos de classe média com descontos de acordo com a renda familiar. Altruísmo? Não exatamente, somente a necessidade de não perder os melhores alunos. Bem, aqui a discussão andou um pouco com a visita da Ministra da Educação da China e a "excelente" performance dos formandos em medicina no exame do CRM.
Harvard announces sweeping middle-income initiative
Cambridge, Mass. – Harvard President Drew Faust and Dean of the Faculty of Arts and Sciences Michael D. Smith today (Dec. 10) announced a sweeping overhaul of financial aid policies designed to make Harvard College more affordable for families across the income spectrum. The new initiative focuses on ensuring greater affordability for middle- and upper-middle-income families through major enhancements to grant aid, the elimination of student loans, and the removal of home equity from financial aid calculations.
This initiative builds on Harvard’s recent pathbreaking policies to ensure that families with incomes below $60,000 are not asked to contribute to the cost of sending their children to Harvard. The new policy has three major components: • The “Zero to 10 Percent Standard”: Harvard’s new financial aid policy dramatically reduces the amount families with incomes below $180,000 will be expected to pay. Families with incomes above $120,000 and below $180,000 and with assets typical for these income levels will be asked to pay 10 percent of their incomes. For those with incomes below $120,000, the family contribution percentage will decline steadily from 10 percent, reaching zero for those with incomes at $60,000 and below. For example, a typical family making $120,000 will be asked to pay approximately $12,000 for a child to attend Harvard College, compared with more than $19,000 under existing student aid policies. For a typical family with $180,000 of income, the payment would be approximately $18,000, compared with more than $30,000 today. The new standard reduces the cost to families by one-third to one-half, making the price of a Harvard education for students on financial aid comparable to the cost of in-state tuition and fees at the nation’s leading public universities. The new initiative also establishes a standard that students and their families can easily understand. • No Loans: In calculating the financial aid packages offered to undergraduates, Harvard will not expect students to take out loans. Loan funds will be replaced by increased grants from the University. Of course, students will be permitted to cover their reduced cost of attendance through loans if they wish. • Eliminate Home Equity from Consideration: Under the new policy, Harvard will no longer consider home equity in determining a family’s ability to pay for college. This will reduce the price by an average of $4,000 per year for affected families as compared with current practice. “We want all students who might dream of a Harvard education to know that it is a realistic and affordable option,” said Faust. “Education is fundamental to the future of individuals and the nation, and we are determined to do our part to restore its place as an engine of opportunity, rather than a source of financial stress. With no loans, no consideration of home equity, and a dramatic increase in grant aid, we are not tinkering at the margins, we are rebuilding the engine. “This is a huge investment for Harvard,” Faust continued, “but there is no more important commitment we could make. Excellence and opportunity must go hand in hand.”
(restante da matéria, clique aqui)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Beber e Dirigir:um estudo brasileiro.

DUAILIBI, Sérgio, PINSKY, Ilana e LARANJEIRA, Ronaldo.
Prevalência do beber e dirigir em Diadema, estado de São Paulo.
Rev. Saúde Pública, dez. 2007, vol.41, no.6, p.1058-1061. ISSN 0034-8910.
Problemas decorrentes do consumo de álcool em motoristas têm sido amplamente estudados no mundo e indicam elevadas taxas de morbidade e mortalidade relacionadas à bebida e direção. Existem poucos estudos nacionais a respeito. Assim, realizou-se estudo com o objetivo de estimar a prevalência do uso de álcool por motoristas conduzindo veículos e testar a aceitabilidade dos bafômetros ativos e passivos. Foram avaliados 908 motoristas nas principais vias de trânsito de Diadema, estado de São Paulo, de fevereiro de 2005 a março de 2006. A metodologia adotada foi do tipo pontos de fiscalização de sobriedade. Em 23,7% dos motoristas foi encontrado algum traço de álcool no ar expirado; 19,4% estavam com níveis de álcool iguais ou acima dos limites permitidos pela legislação. O bafômetro passivo mostrou-se confiável e com resultados comparáveis aos do ativo. Esses achados foram seis vezes superiores aos encontrados internacionalmente, sugerindo a relevância desse problema. São necessárias políticas específicas para combater esse problema, além de outras pesquisas em âmbito nacional.

Dirigir embrigado: lá, como cá,mal motoristas há. Mas, impunidade......

O ator Kiefer Sutherland – o Jack Bauer de “24 horas” - ficará preso 48 dias por dirigir embriagado. Em Phoenix, Arizona há um site (clique aqui) com legislação de trânsito, descrição de vítimas e, principalmente, nome e foto de culpado por dirigir embriagado. Nos Estados Unidos, além das penalidades criminais, há indenizações cíveis pesadas e, não há seguradora que aceite um infrator que dirigiu bêbado como cliente.
Aqui, Edmundo bate um bolão no Palmeiras, Alexandre Pires ganha muito dinheiro em shows e, brevemente o comentarista da Globo retornará, talvez somente para os jogos da segunda divisão.

A regulamentação dos propagandistas farmacêuticos (nos EUA)

The Washington Post (reportagem completa) divulgou ontem reportagem sobre projeto de lei restrita ao Distrito de Colúmbia regulamentando a profissão e atividade do representante farmacêutico. Se aprovada a lei, a implicação será o estabelecimento de código de ética e de um board (conselho regional). Uma das implicações será o controle das atividades de vigilância da prescrição médica em prática lá como cá.
Leiam o final da reportagem, onde há sempre a questão dos médicos.
Barry is particularly critical of the legislation's licensing rules. "If you regulate detailers, so what?" he asked. "The doctors don't need to be protected from detailers." Christopher McCoy disagrees. McCoy, a physician in internal medicine in Minnesota, is a member of the prescription privacy committee of the National Physicians Alliance. The group of doctors, formed two years ago, does not accept money from pharmaceutical companies. There has been controversy recently over doctors receiving money from drug companies for speaking engagements and other activities, which critics say influences doctors' prescription choices.
"Our self-confidence makes us believe we are immune to marketing," McCoy said. "Why would the drug companies spend $12 billion if it didn't work?" The industry actually spends an average of $25 billion a year on marketing, and 60 percent of that is for pharmaceutical samples, Powell said. Last year, it also spent $55.2 billion on research and development of new medicines, she said.
McCoy said his group is most worried about data mining. "They have more information than we do. Most doctors I talk to are offended by this," he said. A U.S. District judge blocked New Hampshire this year from enforcing its law prohibiting data mining on the grounds that it restricts commercial free speech. State Rep. Cindy Rosenwald (D) said the state is appealing. "There's no question that using doctors' prescriptions to fine-tune your marketing plan has an impact on drug sales," she said. "There's no other industry that has such detailed information of their customers without their permission." Powell said data mining has benefits for patients because sales representatives can learn more about which drugs doctors are prescribing and better inform them of their effects.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A eliminação da Doença de Chagas no Brasil.

Abaixo, resumo de artigo excelente de Eduardo Massad, meu colega na Faculdade de Medicina da USP sobre a eliminação da Doenças de Chagas no Brasil. Alerto que cálculos e fórmulas são meio indigestos aos não iniciados. Mas, o autor pode fornecer o artigo original e informar mais em edmassad@dim.fm.usp.br
The elimination of Chagas' disease from Brazil.Epidemiol Infect. 2007 Dec 4;:1-12
Massad E.School of Medicine, The University of São Paulo, LIM 01/HCFMUSP, Brazil, and London School of Hygiene Tropical Medicine London, UK.
SUMMARYOn 9 June 2006 the Pan American Health Organization (PAHO) presented the Minister of Health of Brazil with the International Elimination of Transmission of Chagas' Disease Certificate. This act was the culmination of an intensive process that began in 1991 with the Southern Cone Initiative, a joint agreement between the governments of Argentina, Bolivia, Brazil, Chile, Paraguay, Uruguay and Peru, to control Chagas' disease by the elimination of the main vector, Triatoma infestans. This initiative has been highly successful and the prevalence area of the vector diminished rapidly in the last years. As a consequence, the current seroprevalence in children aged between 0 and 5 years is of the order of 10-5, a clear indication that transmission, if it is occurring, is only accidental. In this review I calculate the basic reproduction number, R0, for Chagas' disease and demonstrate that its relatively low value (1.25) explains why vectorial transmission was interrupted relatively easily. In addition, I used a mathematical model to forecast how long the remaining cases of the disease, as well as the additional vertically transmitted cases will last.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Uma nova perspectiva para a prevenção cardiovascular

No The Lancet, o cálculo da estratégia da polipílula para prevenção primária e secundária da doença cardiovascular. A proposta é administrar aspirina+estatina+hidroclorotiazida+enalapril a indivíduos com risco elevado de doença cardiovascular. Para aqueles que já sofreram infarto do miocárdio se acrescentaria o atenolol. O estudo apresentado é um simulação para países de baixa e e média renda, mas poderá ser também um bom exercício para uma política ampla de prevenção cardiovascular. Infelizmente, o texto no The Lancet é somente para assinantes.
Prevention of cardiovascular disease in high-risk individuals in low-income and middle-income countries: health effects and costs
Stephen S Lim, Thomas A Gaziano, Emmanuela Gakidou, K Srinath Reddy, Farshad Farzadfar, Rafael Lozano, Anthony Rodgers
In 2005, a global goal of reducing chronic disease death rates by an additional 2% per year was established. Scaling up coverage of evidence-based interventions to prevent cardiovascular disease in high-risk individuals in low-income and middle-income countries could play a major part in reaching this goal. We aimed to estimate the number of deaths that could be averted and the fi nancial cost of scaling up, above current coverage levels, a multidrug regimen for prevention of cardiovascular disease (a statin, aspirin, and two blood-pressure-lowering medicines) in 23 such countries. Identifi cation of individuals was limited to those already accessing health services, and treatment eligibility was based on the presence of existing cardiovascular disease or absolute risk of cardiovascular disease by use of easily measurable risk factors. Over a 10-year period, scaling up this multidrug regimen could avert 17·9 million deaths from cardiovascular disease (95% uncertainty interval 7·4 million–25·7 million). 56% of deaths averted would be in those younger than 70 years, with more deaths averted in women than in men owing to larger absolute numbers of women at older ages. The 10-year financial cost would be US$47 billion ($33 billion–$61 billion) or an average yearly cost per head of $1·08 ($0·75–1·40), ranging from $0·43 to $0·90 across low-income countries and from $0·54 to $2·93 across middle-income countries. This package could effectively meet three-quarters of the proposed global goal with a moderate increase in health expenditure.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Quase tudo sobre tuberculose no Brasil

A Revista de Saúde Pública lançou edição especial sobre a tuberculose no Brasil. Com acesso livre (clique aqui) há quase tudo que “você-gostaria-de-saber-sobre-tuberculose-no-Brasil-mas-tem-vergonha-em-perguntar”. Abaixo, a apresentação dessa edição com o panorama histórico.
A tuberculose (TB) afeta a humanidade há pelo menos cerca de 8.000 anos. Até a metade do século XIX o caráter infecto-contagioso da tuberculose não era reconhecido; a doença era atribuída a diversas causas como a hereditariedade, aos miasmas e a outros determinantes ambientais e sociais. Em 1882, Robert Koch identificou a Micobacteria tuberculosis, definindo assim a TB como uma doença infecciosa. Isto permitiu que a florescente pesquisa biomédica iniciasse a busca por vacinas e tratamentos medicamentosos. A vacina BCG foi, em 1921, usada pela primeira vez em humanos. Anos mais tarde, em 1944, a estreptomicina foi utilizada com sucesso no tratamento da TB, sendo o primeiro de uma série de medicamentos utilizados na terapêutica anti-TB. Essas descobertas trouxeram renovadas possibilidades para prevenção e tratamento da TB. Porém, não se deve esquecer que a mortalidade por esta doença na Europa no século XIX era mais alta do que é hoje na África. Entretanto, naquele continente, a mortalidade começou a declinar de maneira vertiginosa já no final do século XIX, portanto muitas décadas antes da existência dos modernos recursos preventivos e terapêuticos, possivelmente, em razão das mudanças ocorridas nas condições de vida da sua população. Na atualidade, nos países mais desenvolvidos a tuberculose continua sendo um problema quase restrito aos imigrantes dos países pobres e outras populações marginalizadas (desabrigados, alcoólatras, prisioneiros, e outros).

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Big Pharma ameaçada pelos genéricos

The Wall Street Journal apresenta hoje uma reportagem bem objetiva, acompanhada de quadro mostrando que todos os grandes produtos da Big Pharma em cinco anos poderão ser vendidos como genéricos. Entende-se a nova linha de "pesquisa-marketing" de remédios combinados, p.ex. hipertensão e dislipidemia, como um jeito de aumentar o período de patente.
Big Pharma Faces Grim Prognosis
Industry Fails to FindNew Drugs to ReplaceWonders Like Lipitor

By BARBARA MARTINEZ and JACOB GOLDSTEIN
December 6, 2007; Over the next few years, the pharmaceutical business will hit a wall.
Some of the top-selling drugs in industry history will become history as patent protections expire, allowing generics to rush in at much-lower prices. Generic competition is expected to wipe $67 billion from top companies' annual U.S. sales between 2007 and 2012 as more than three dozen drugs lose patent protection. That is roughly half of the companies' combined 2007 U.S. sales.
At the same time, the industry's science engine has stalled. The century-old approach of finding chemicals to treat diseases is producing fewer and fewer drugs. Especially lacking are new blockbusters to replace old ones like Lipitor, Plavix and Zyprexa.
The coming sales decline may signal the end of a once-revered way of doing business. "I think the industry is doomed if we don't change," says Sidney Taurel, chairman of
Eli Lilly & Co. Just yesterday, Bristol-Myers Squibb Co. announced plans to cut 10% of its work force, or about 4,300 jobs, and close or sell about half of its 27 manufacturing plants by 2010. Between 2011 and 2012, annual industry revenue will decline, estimates Datamonitor, a research and consulting firm. That would be the first decline in at least four decades. Patent expirations are a big problem. Drugs are granted 20 years of patent protection, although companies often fail to get a product to market before half of that period has elapsed. Once it hits the market, however, the patent-protected drug is highly profitable: Typical gross margins are 90% to 95%. When patents expire, generic makers offer the products at a price much closer to the cost of production. Pfizer Inc. will be particularly hard-hit when the patent expires as early as 2010 on Lipitor, the cholesterol-lowering blockbuster that ranks as the most successful drug ever. Pharmacists and managed-care companies will aggressively fill prescriptions with generics, reducing annual Lipitor sales to a fraction of last year's $13 billion.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Como é difícil aceitar que a poção mágica não é mágica

Somente nosso pensamento é mágico. A natureza segue seu rumo, com lógicas próprias que deixo para Edward Wilson, Stephen Jay Gould, Richard Dawkins e outros discutirem. Destaco hoje, pesquisa publicada em JAMA que avalia informações oriundas de estudos observacionais: vitamina E e doença cardiovascular, beta-caroteno e câncer e estrógeno e doença de Alzheimer. Todas essas associações não se comprovaram em ensaios clínicos, porém a maioria dos artigos abordando o tema, ainda consideram que vitamina E, beta-caroteno e estrógeno têm utilidade na prevenção da doença cardiovascular, do câncer e da demência, respectivamente.
Persistence of Contradicted Claims in the Literature Athina Tatsioni, MD; Nikolaos G. Bonitsis, MD; John P. A. Ioannidis, MD JAMA. 2007;298(21):2517-2526.
Context Some research findings based on observational epidemiology are contradicted by randomized trials, but may nevertheless still be supported in some scientific circles.
Objectives To evaluate the change over time in the content of citations for 2 highly cited epidemiological studies that proposed major cardiovascular benefits associated with vitamin E in 1993; and to understand how these benefits continued being defended in the literature, despite strong contradicting evidence from large randomized clinical trials (RCTs). To examine the generalizability of these findings, we also examined the extent of persistence of supporting citations for the highly cited and contradicted protective effects of beta-carotene on cancer and of estrogen on Alzheimer disease.
Data Sources For vitamin E, we sampled articles published in 1997, 2001, and 2005 (before, early, and late after publication of refuting evidence) that referenced the highly cited epidemiological studies and separately sampled articles published in 2005 and referencing the major contradicting RCT (HOPE trial). We also sampled articles published in 2006 that referenced highly cited articles proposing benefits associated with beta-carotene for cancer (published in 1981 and contradicted long ago by RCTs in 1994-1996) and estrogen for Alzheimer disease (published in 1996 and contradicted recently by RCTs in 2004).
Data Extraction The stance of the citing articles was rated as favorable, equivocal, and unfavorable to the intervention. We also recorded the range of counterarguments raised to defend effectiveness against contradicting evidence.
Results For the 2 vitamin E epidemiological studies, even in 2005, 50% of citing articles remained favorable. A favorable stance was independently less likely in more recent articles, specifically in articles that also cited the HOPE trial (odds ratio for 2001, 0.05 [95% confidence interval, 0.01-0.19; P < .001] and the odds ratio for 2005, 0.06 [95% confidence interval, 0.02-0.24; P < .001], as compared with 1997), and in general/internal medicine vs specialty journals. Among articles citing the HOPE trial in 2005, 41.4% were unfavorable. In 2006, 62.5% of articles referencing the highly cited article that had proposed beta-carotene and 61.7% of those referencing the highly cited article on estrogen effectiveness were still favorable; 100% and 96%, respectively, of the citations appeared in specialty journals; and citations were significantly less favorable (P = .001 and P = .009, respectively) when the major contradicting trials were also mentioned. Counterarguments defending vitamin E or estrogen included diverse selection and information biases and genuine differences across studies in participants, interventions, cointerventions, and outcomes. Favorable citations to beta-carotene, long after evidence contradicted its effectiveness, did not consider the contradicting evidence.
Conclusion Claims from highly cited observational studies persist and continue to be supported in the medical literature despite strong contradictory evidence from randomized trials.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Avandia: agora osteoporose

Quando uma empresa força demais a indicação de um medicamento, ocorre uma reação inversa, que muitas vezes é desproporcional ao potencial dano do medicamento. Um exemplo é o relatado abaixo pela Associated Press e, repetido em todos os jornais do planeta. Apesar, da empresa reconhecer a possibilidade de aumento de fraturas, o objeto de discussão - osteoporose - não é objeto de preocupação em termos clínicos. Primeiro, os dados foram obtidos em animais. Segundo, o risco cardíaco é mais importante do que o aumento de risco de osteoporose. Por último, notem que o pesquisador que identificou o mecanismo em ratos de forma súbita já indica ações médicas a longo prazo.
Popular Diabetes Drug May Increase Osteoporosis
Associated PressDecember 2, 2007 1:29 p.m.
WASHINGTON -- The popular diabetes drug marketed as Avandia may increase bone thinning, a discovery that could help explain why diabetics can have an increased risk of fractures. New research raises the possibility that long-term treatment with rosiglitazone, as Avandia is also called, could lead to osteoporosis. The diabetes drug is used to improved response to insulin. While bones seem solid, they constantly are being broken down and rebuilt by the body. Researchers found that in mice, the drug increased the activity of the cells that degrade bones, according to a report in this week's online issue of Nature Medicine. Avandia recently was labeled with warnings about the risk of heart failure in some patients.
GlaxoSmithKline, which markets the drug, already has acknowledged that a study found a higher risk of fractures among women who take the drug. But this report is the first to attempt to explain the link between the drug and fractures.
The finding "has led to a better understanding of the challenges associated with long-term treatment of patients with Type II diabetes," said Ronald M. Evans of the Salk Institute for Biological Studies in La Jolla, Calif., lead author of the report. "It also provides a basis for the development of a "next generation" of drug that can specifically dial out this side effect and a new insight into a previously unrecognized aspect of bone physiology that has important medical consequences," he said in an interview via e-mail. Nearly 21 million people in the United States have diabetes. Rosiglitazone is widely used in people with Type II, or adult onset diabetes, the most common form of the disease. Evans said the discovery was fortuitous. Researchers were looking at different aspects of the diabetic mice and did not realize they would be able to change the bone-removing activity. The assumption had been that more brittle bones in diabetics were the result of a reduced bone-building activity, not increased bone removal. "Considering the widespread use of these drugs and the known action in people it is surprising that such a key observation had been missed," he said. "The long-term use of rosiglitazone should be cautious in patients with higher risk of fractures such as older women," he added. Using it in combination with anti-osteoporosis drugs could be beneficial, he said. The research was funded by the Howard Hughes Medical Institute and the National Institutes of Health.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Vacinação para gripe e redução das desigualdades: pesquisa da USP no IJE

Professores da USP publicam no International Journal of Epidemiology pesquisa mostrando o impacto da vacinação para gripe na cidade de São Paulo. Mais um dado que vai contra os famosos detratores do SUS, aqueles da "falência da saúde pública", "má utilização de recursos" etc etc
Effectiveness of influenza vaccination and its impact on health inequalities de José Leopoldo F. Antunes, Eliseu A. Waldman, Carme Borrell and Terezinha M. Paiva. O artigo completo pode ser solicitado a leopoldo@usp.br , o resumo é apresentado abaixo.
Background Since 1998, annual publicly funded campaigns for mass vaccination against influenza of the population aged 65 years or older have been performed in the city of São Paulo, Brazil. The effectiveness of the intervention was not assessed for its contribution to the reduction of influenza-attributable mortality. This study sought to compare the age-specific mortality (65 years or older) before and after the onset of yearly vaccination, and to assess the impact of the intervention on health inequalities in relation to inner-city areas.
Methods Official information on deaths and population allowed assessment of overall pneumonia and influenza mortality. Monitoring of outbreaks and the estimation of mortality attributable to influenza peaks used Serfling and ARIMA models. Rates were compared between 1998 and 2002, when vaccination coverage ranked higher than 60% among individuals aged 65 years or older, and 1993–97 (prior to vaccination).
Results Overall mortality due to pneumonia and influenza fell by 26.3% after vaccination. An even higher reduction was observed for mortality specifically attributable to influenza epidemics; the number of peaks of influenza mortality also decreased. Deprived areas of the city had a higher decrease of mortality by pneumonia and influenza during the vaccination period.
Conclusions Influenza vaccination contributed to reduce influenza-attributable mortality in this age group, and was associated with the reduction of inequalities in the burden of the disease among social groups. The concurrent promotion of health and social justice is feasible when there is political will and commitment to implement public health interventions with prompt and effective universal access.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Os precursores da epidemiologia moderna

Abaixo, os comentários de MichaelMarmot publicados no The Lancet sobre o livro mostrado ao lado.
When I joined Epidemiology at the London School of Hygiene and Tropical Medicine, in 1976, I was told: this School is run by upper-class Englishmen and lower-class Scotsmen—my informant was a Scotsman. He went on: it reflected the old Colonial Medical Service; the Englishmen went to the tropics to run the empire, and the Scots to escape their lousy weather. In the USA, I had been told, it was surprising how many of the older generation of epidemiologists had a father who was a preacher, or were of Jewish background. It reflected their social concern.
Of course, the London School has Hygiene as well as Tropical Medicine in its title and there were motivations, other than noblesse oblige or the weather, that brought people into epidemiology. One of the attractions of The Development of Modern Epidemiology is the insight it gives into these motivations. It brings together contributions from many who have been centrally involved in the International Epidemiology Association (IEA) during the 50 years of its existence.
So many of the key figures came to epidemiology because they wanted to improve health in society. John Pemberton, the co-founder of the IEA, was a member of the Socialist Medical Association that was started in 1930. Many of their members believed that poverty was an important cause of ill-health and that some solutions to health problems required political action. In the same vein, Mervyn Susser was aroused to hope and commitment to a socially useful occupation. He, and Zena Stein, saw the practice of socially oriented medicine as an important form of activism. As always, such commitment does not arise, prosper, or otherwise in a vacuum. The pioneers of this approach in South Africa, among them Sydney Kark, as well as Susser and Stein, had to leave because they fell foul of the political regime promoting apartheid. Jerry Morris, in the UK, stated it clearly: “Society largely determines health; ill-health is not a personal misfortune due often to personal inadequacy but a social misfortune due, more commonly, to social mismanagement and social failure.”
The commitment to improving health for the whole of society runs through many of the contributions in this volume. Ian Prior's great grandfather was a missionary in Fiji whose public-health contribution was to convince his parishioners to give up cannibalism. Henry Blackburn, the master of the ECG in epidemiology, was influenced by experiences in Cuba, in 1949, that taught him of the limitations of medicine to deal with mass disease due mainly to poverty and ignorance. Lester Breslow, slightly coy, says that friendly advice was that “with my ideology, I consider public health”. Public Health is grateful that he heeded this advice.
I am in awe of these pioneers. Today, rightly, we expect our students to do Master's degrees and PhDs, to get accredited, pass exams. That is as it should be. But it does not stop me worshipping at the shrine of these founders of our discipline who had none of these qualifications. It may be social concern that motivated these pioneers of epidemiology, but they brought methodological rigour to their enquiries and they had to make it up as they went along. Richard Doll, in a characteristically pithy piece, does not suggest that he chose to go into “epidemiology” as such. Rather, he used his mathematical bent to help a distinguished clinician, Avery Jones, to investigate variations in the occurrence of peptic ulcer. A short course in medical statistics with Bradford Hill (what, no PhD!) and he was put to work to figure out why lung cancer was on the rise. He reports that there were a few early case-control studies of cancer that had come in for methodological criticism. Doll and Hill, therefore, designed their case-control study of lung cancer and smoking to be better. They published in 1950, concluding, with no messy understatement or qualification: “that cigarette smoking is an important cause of cancer of the lung”.
The pioneers developed their investigations with rigour and, in part because of shortage of funds, with precision. Archie Cochrane is justly famous for effectiveness and efficiency and has been immortalised in the Cochrane collaboration. He also did so much to develop observational epidemiology. Nearly 30 years ago I made a pilgrimage to south Wales to see Archie at work, then in his 80s. He drove me in his little car out into the Rhondda where he was still following a cohort of miners. We called on a miner's cottage and a woman took a death certificate off the mantelpiece with the words that her husband had died 3 years previously and she kept the certificate because she knew that Professor Cochrane would call. We then drove back to Cardiff. “That's it”, I asked, “just the death certificate, no questionnaire to the widow?” “What would you want to ask?”, said Archie, “I got all the information I needed.”
Archie Cochrane's personal contribution sums up another theme running through the volume: the different uses of epidemiology, to borrow Jerry Morris' 1957 phrase. Breslow and Detels are clear: epidemiology is the basic science of public health. Richard Heller and Kerr White are equally clear: epidemiology can be used to improve clinical practice and the evaluation and, hence, operation of health services. When we discover that some non-infectious diseases are infectious in origin it makes clear that there should not be two epidemiologies—infectious and non-infectious.
There is surprisingly little whingeing in this volume. There is the occasional allusion to sneering reactions from the medical establishment to the pursuit of epidemiology. These pioneers cannot have had it easy, yet they focus on getting the job done rather than dwelling on their critics. Richard Doll says simply: “epidemiology has contributed more than any other branch of science to our knowledge of the causes of cancer”.
There is some allusion to the political nature of a concern with the health of populations. Adapting this to contemporary debates, a critic, exercising his prejudices, might read the accounts by John Pemberton and others of their social concerns and see not a group motivated by the highest ideals but a bunch of do-gooders who are out to provide ammunition to the nanny state to control people's lives.
Rodolfo Saracci puts this another way. In a thoughtful chapter he suggests that, in the period 1945–75, the rise in epidemiology reflected the impulse of postwar reconstruction and a sense of social solidarity. Accepting health as the right of everybody meant that epidemiology with its focus on whole populations had a ready political acceptance and results had some chance of influencing policy. At the start of the millennium, says Saracci, a neoliberal climate will pay more attention to economics than to a political desire to improve the lot of all sectors of society. Saracci's implications are plain: we need high-quality epidemiological research and we need the political commitment to implement findings to improve population health.
In: Walter W Holland, Jørn Olsen and Charles du V Florey, Editors, The Development of Modern Epidemiology: Personal Reports From Those Who Were There, Oxford University Press (2007) ISBN 0-19856-954-8 Pp 472. US$110·00

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os riscos da tomografia computadorizada

No The New England Journal of Medicine, o artigo Computed Tomography — An Increasing Source of Radiation Exposure de David J. Brenner e Eric J. Hall cujas conclusões apresento abaixo.
Conclusions
The widespread use of CT represents probably the single most important advance in diagnostic radiology. However, as compared with plain-film radiography, CT involves much higher doses of radiation, resulting in a marked increase in radiation exposure in the population.
The increase in CT use and in the CT-derived radiation dose in the population is occurring just as our understanding of the carcinogenic potential of low doses of x-ray radiation has improved substantially, particularly for children. This improved confidence in our understanding of the lifetime cancer risks from low doses of ionizing radiation has come about largely because of the length of follow-up of the atomic-bomb survivors — now more than 50 years — and because of the consistency of the risk estimates with those from other large-scale epidemiologic studies. These considerations suggest that the estimated risks associated with CT are not hypothetical — that is, they are not based on models or major extrapolations in dose. Rather, they are based directly on measured excess radiation-related cancer rates among adults and children who in the past were exposed to the same range of organ doses as those delivered during CT studies.
In light of these considerations, and despite the fact that most diagnostic CT scans are associated with very favorable ratios of benefit to risk, there is a strong case to be made that too many CT studies are being performed in the United States. There is a considerable literature questioning the use of CT, or the use of multiple CT scans, in a variety of contexts, including management of blunt trauma, seizures,
and chronic headaches, and particularly questioning its use as a primary diagnostic tool for acute appendicitis in children. But beyond these clinical issues, a problem arises when CT scans are requested in the practice of defensive medicine, or when a CT scan, justified in itself, is repeated as the patient passes through the medical system, often simply because of a lack of communication. Tellingly, a straw poll of pediatric radiologists suggested that perhaps one third of CT studies could be replaced by alternative approaches or not performed at all.
Part of the issue is that physicians often view CT studies in the same light as other radiologic procedures, even though radiation doses are typically much higher with CT than with other radiologic procedures. In a recent survey of radiologists and emergency-room physicians,
about 75% of the entire group significantly underestimated the radiation dose from a CT scan, and 53% of radiologists and 91% of emergency-room physicians did not believe that CT scans increased the lifetime risk of cancer. In the light of these findings, the pamphlet "Radiation Risks and Pediatric Computed Tomography (CT): A Guide for Health Care Providers," which was recently circulated among the medical community by the National Cancer Institute and the Society for Pediatric Radiology, is most welcome.
There are three ways to reduce the overall radiation dose from CT in the population. The first is to reduce the CT-related dose in individual patients. The automatic exposure-control option
on the latest generation of scanners is helping to address this concern. The second is to replace CT use, when practical, with other options, such as ultrasonography and magnetic resonance imaging (MRI). We have already mentioned the issue of CT versus ultrasonography for the diagnosis of appendicitis. Although the cost of MRI is decreasing, making it more competitive with CT, there are not many common imaging scenarios in which MRI can simply replace CT, although this substitution has been suggested for the imaging of liver disease.
The third and most effective way to reduce the population dose from CT is simply to decrease the number of CT studies that are prescribed. From an individual standpoint, when a CT scan is justified by medical need, the associated risk is small relative to the diagnostic information obtained. However, if it is true that about one third of all CT scans are not justified by medical need, and it appears to be likely,
perhaps 20 million adults and, crucially, more than 1 million children per year in the United States are being irradiated unnecessarily

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Maurício Lima Barreto, Editor do JECH

O professor Maurício Lima Barreto foi indicado pelo BMJ Group- após seleção disputada - editor do Journal of Epidemiology and Community Health. Um dos melhores periódicos de saúde coletiva do planeta. Parabéns a Maurício, a Estela - incansável companheira, às duas meninas, à imensa família Barreto (vai ter buchada!), ao Instituto de Saúde Coletiva (ISC), à Universidade Federal da Bahia (dirigida agora por Naomar Almeida, também fundador do ISC como Maurício e, seu primeiro diretor) e todos que colaboram nessa conquista, que como sempre decorre da competência e tenacidade de um indivíduo, cujo memorial na base lattes pode ser acessado livremente. (clique aqui)
foto: Agência Fapesp

terça-feira, 27 de novembro de 2007

IDH: o problema é a estatística alheia

Acabei de ler a notícia no UOL: O Brasil entrou pela primeira vez para o grupo de países de "alto desenvolvimento humano" no ranking elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado nesta terça-feira em Brasília. De acordo com o relatório da ONU, o Brasil atingiu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,800, em uma escala de 0 a 1. Países com índice inferior a 0,800 são considerados de "médio desenvolvimento humano", categoria na qual o Brasil figurava desde 1990, quando o PNUD começou a divulgar o ranking.
Não li as repercussões, mas imagino que todos os espectros da blogosfera irão vociferar, exceto o site "voz do brasil". Eu já corri um pouco opaís e esse planeta e, para mim a septuagésima posição é ainda reflexo de problemas estatísticos (falseamentos) que são sistemáticos em outros países. Aqui temos uma tradição das melhores, graças à tradição entre outras instituições, o IBGE.
Ditaduras não deveriam ser incluídas, porque seus dados não são confiáveis. O mesmo vale para países semi-democráticos, como os do Leste Europeu e, os membros da OPEP. O Brasil encontra-se em posição muito mais favorável em termos de desenvolvimento humano do que vários do que nos antecede nessa lista.
Aos pessimistas de plantão, o blog está oferecendo bolsas de estudo (na moeda local) com passagem somente de ida para Albânia, Belarus, Cuba, Líbia, Quatar, Panamá e Romênia. Todos países melhor classificados do que o Brasil.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Os bastidores de um ótimo artigo científico: a segurança das estatinas e o mercado americano OTC

Quinta-feira à noite é publicado no The Lancet uma revisão excelente mostrando que as estatinas são muito seguras, mas como pouco destaque para a efetividade desse grupo de medicamento. Confesso que não entendi o desbalanço dessa revisão, mas fui convencido que o medicamento deve ser amplamente comercializado no Brasil. Tanto que no domingo, eu recomendei nesse blogue que as estatinas façam parte do rol do programa Farmácia Popular. Além disso, já há genéricos da lovastatina, pravastatina e lovastatina no mercado brasileiro. Segunda-feira, à noite, compreendi a preocupação com a segurança das estatinas expressa no referido artigo. Publicou-se a notícia que a Glaxo Smith Kline (britânica como The Lancet) comprou os direitos da lovastatina nos Estados Unidos para venda livre de receita. O FDA não aprovou o uso sem receita (OTC, over the counter) por causa dos riscos do uso indevido do medicamento, principalmente lesões musculares e hepáticas. A recusa ocorreu em duas oportunidades, mas no Reino Unido há permissão para venda sem receita. Ou seja, há uma possibilidade maior de aprovação para venda OTC.
Como se pode deduzir, as decisões editorias do The Lancet são bem independentes e, desligadas de qualquer interesse empresarial.

Glaxo Gets Rights to Sell ProposedOver-the-Counter Cholesterol Drug
By JEANNE WHALENNovember 26, 2007 3:28 p.m.
GlaxoSmithKline PLC acquired the rights to sell a cholesterol-lowering drug without a prescription in the U.S. but could face a tough time winning Food and Drug Administration approval to actually sell the product.
Glaxo said Monday that it has bought the marketing rights to the drug Mevacor from
Merck & Co. for an undisclosed sum. Despite two past attempts, Merck has so far been unable to get the FDA to approve Mevacor for sale without a prescription.
Selling a cholesterol-lowering drug without a prescription could potentially be big business for Glaxo. The drugs, known as statins, are available only by prescription in the U.S. today and are among the industry's top sellers. The drugs racked up U.S. sales of $21.6 billion last year, according to IMS Health, a healthcare research firm. An FDA advisory panel is scheduled to meet Dec. 13 to consider Merck's most recent application to sell Mevacor without a prescription. A Merck spokesman said the company plans to present new data addressing earlier concerns that consumers wouldn't take the drug correctly. Merck will handle that FDA meeting, but Glaxo will take over marketing of the drug should the FDA grant approval, the Merck spokesman said. Merck will receive royalty payments on any sales, he said. The company's decision to sell the rights does not reflect any concern that OTC Mevacor won't be approved. "We're optimistic," he said.The FDA's rejection of Mevacor goes back to 2000, when it rejected an application by Merck to sell a weaker version of the drug without a prescription. In 2005, the FDA again rejected an application for over-the-counter Mevacor, this time filed by Merck and former partner Johnson & Johnson, after advisers to the FDA expressed concern that consumers would use the drug incorrectly.
In 2004, the U.K. approved for sale a non-prescription version of the statin Zocor, which is sold by a joint venture between Merck and Johnson & Johnson—and is similar to Mevacor. When they started selling the drug, the companies estimated that the market for an OTC statin was about £600 million ($1.25 billion) in the U.K. alone.
Merck began selling prescription Mevacor in 1987. The U.S. patent for the drug expired in 2001

Homicídios: Nova Iorque, Rio de Janeiro e São Paulo

Bem, continuando o texto publicado na Folha de S.Paulo, por Alba Zaluar, que afirma que a experiência do criminólogos americanos indica que o homicídio é o indicador de violência menos influenciável pelo policiamento. Ela traz de volta a questão do crack tanto nos EUA como no Brasil como sendo o determinante maior da epidemia de homicídio, uma hipótese muito plausível. Abaixo, o texto

E no Brasil, como estamos? Mal. É verdade que a epidemia de crack também se abateu sobre as cidades do Sudeste, a região mais rica do país, em diferentes momentos e ritmos. No Rio de Janeiro, em 1998 morreram assassinadas 2.406 pessoas, das quais 94% eram homens. Destes, 29% eram brancos, 13% negros e 42% pardos. Em 2005, nos últimos dados disponíveis no Ministério da Saúde, foram 2.044 homicídios, dos quais 95% de homens, 30% brancos, 17% negros e 52% pardos. Uma suada diminuição de 15%. Na taxa de homicídio entre homens de 15 a 39 anos, a queda naquela cidade foi de 20%. No mesmo período, essa taxa de homicídio em São Paulo diminuiu 55%. Em Belo Horizonte, ao contrário, a taxa subiu 230%. Em parte porque as epidemias da cocaína e do crack não foram simultâneas; em parte pelas diferentes estratégias adotadas pelas polícias em cada estado. De todo modo, a queda registrada ainda é muito pouca diante dos extraordinários números de assassinatos nas três cidades mais ricas do país.

Um momento! se, em Nova Iorque a queda foi de 81% de 1990 até 18/11/2007, não é justo afirmar que a queda do Rio de Janeiro de 15% é "suada" entre 1998 e 2005. Simplesmente, não dá para comparar. O mesmo vale para o que ocorre em São Paulo. A queda de 55% em sete anos é muito expressiva, talvez superior ao observado em Nova Iorque.

Outro comentário: a autora reconhece que diferenças entre as três cidades brasileiras (SamPa, Rio, BH) deve-se também a "diferentes estratégias adotadas pelas polícias em cada estado", ou seja o policiamento conta.
Uma picuinha, pela primeira vez na grande imprensa há informação do aumento dos homicídios em BH, que já mostrei superaram as taxas do Rio de Janeiro em 2005. A aliança tucano-petista mineira ignora o problema.
Finalmente, encerrando meus comentários. Os cientistas sociais precisam acreditar que polícia pode e deve ser forma de administração da democracia e, não um "aparato repressivo da burguesia" como gostam de repetir frases dos surrados (e, mal traduzidos) textos do final do século XIX.

Homicídios em Nova Iorque: queda de 400% ?

De, Alba Zaluar - uma das acadêmicas mais produtivas e competentes na área de violência (leiam o texto "8 pontos para debate", por exemplo) - a prova que o erro pode estar presente até em textos de abalizados intelectuais. Detesto corrigir , mas essa afirmativa foi muito forte, nem o marqueteiro Rudy Guiliani endosssaria. Abaixo, trecho do artigo na Folha de S. Paulo.
Que guerra é essa?
O HOMICÍDIO É O CRIME menos suprimível pela polícia, concluem criminólogos e policiais na cidade de Nova York. Ali se comemora a contínua queda do número de homicídios desde o início dos anos 90, após a severa alta provocada pela epidemia de crack nos anos 1980. Em 1990, a cidade registrava o número mais alto de assassinatos em um ano -2.245-, quando predominava a violência entre estranhos. Em 2007, até 18 de novembro, foram mortas 428 pessoas, ou seja, a queda foi de mais de 400%. E agora se pergunta: o que fazer para manter a façanha?
A queda não foi 400%, mas 81%. ((2245-428)/2245)) Uma conta, simples, mas que começou com o ataque à logica que se consagrou na imprensa brasileira : a tal expressão "cinco vezes menos recursos no orçamento", quando o correto é "um quinto do orçamento anterior".

domingo, 25 de novembro de 2007

Estatinas no programa "Farmácia Popular já!"

The Lancet apresenta um revisão excelente sobre as estatinas.(infelizmente, somente para assinantes) Medicamentos para redução do colesterol, cuja ação na redução de eventos cardiovasculares suplanta aquele obtido na diminuição dos lípides séricos. A primeira geração das estatinas - lovastatina, simvastatina e pravastatina - já estão disponíveis na formulação de medicamentos genéricos. O primeiro estudo que mostrou utilidade dessa classe de medicamentos foi em 1995, o 4S ( The Scandinavian Simvastatin Survival Study Group. Randomised trial of cholesterol lowering in 4444 patients with coronary heart disease: the Scandinavian Simvastatin SurvivalStudy (4S). Lancet 1994; 344: 1383–9.) destinado a quem já tinha doença coronariana. Posteriormente, outros estudos foram mostrando que as estatinas vieram para ficar no arsenal terapêutico da aterosclerose. Aqui, no Brasil as estatinas de primeira geração poderiam ser incorporadas de imediato no programa Farmácia Popular com preços reduzidíssimos.

sábado, 24 de novembro de 2007

Programa antitabágico: aumentar o imposto (IPI) do cigarro

Após avanços na última década, o programa antitabágico perdeu o foco, ou melhor, deixou de ser interessante para efeitos midiáticos. Melhor, discutir descriminação da maconha ou o aborto ou mesmo a obesidade infantil. Apesar de reduções importantes na prevalência, a magnitude do problema é maior do que das três situações acima somadas. Veja divulgou estudo pouco conhecido feito entre outros por Vera Costa e Silva, uma das responsáveis pelo sucesso do plano brasileiro no início dos anos 90. Abaixo, trecho da reportagem.
O programa brasileiro de combate ao cigarro colecionou uma série de avanços ao longo das últimas duas décadas. O país foi o primeiro no mundo a proibir, nas embalagens, o uso de palavras que poderiam levar o consumidor a uma falsa idéia de segurança. Eram termos como "light" e "baixos teores". Também se destacou por fazer constar nos maços fotografias pavorosas sobre os males do fumo à saúde. Foram os primeiros passos de uma campanha que teve no banimento da propaganda do tabaco seu ponto forte. Nos primeiros sete anos conseguiu reduzir o consumo per capita de cigarros em 33,6%. Com medidas e resultados assim, o programa, criado em 1987, deu ao país uma posição de liderança na luta contra o tabagismo. Mas as notícias agora já não são tão animadoras. Ao completar duas décadas, acaba de sair do forno a primeira grande avaliação sobre sua eficácia. Um estudo do Banco Mundial, ao qual VEJA teve acesso com exclusividade, concluiu que o programa empacou. Desde 1994 ele não produz nenhum impacto significativo. O consumo per capita naquele ano era de 1.220 unidades e hoje se encontra em 1 200 . Pior, nada indica que será reduzido. A estagnação é preocupante. O tabaco é responsável por 200 000 mortes por ano no Brasil. Para vencer essa guerra, serão necessárias armas mais poderosas. A estratégia sugerida pelo estudo é mirar diretamente o bolso dos fumantes.
Nos anos 90, o maço de cigarros populares custava, em média, 2,45 reais. Hoje está em torno de 2,27 reais. Os pesquisadores perceberam que a queda do preço se deu em razão da redução do peso do imposto sobre produtos industrializados (IPI) no preço do cigarro. Nos anos 90, ele representava 41% do preço final do maço. Atualmente, equivale a 20%. (
assinante de Veja, clique aqui)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Vasectomias e esterilização: finalmente um pouco de inteligência

A Agência Nacional de Saúde Suplementar acertou com as operadoras a cobertura de vasectomia, esterilização tubárea e planejamento familiar. Nada mais certo e atrasado. Trata-se de um burrice. Vejam agora, a declaração do presidente da ABRAMGE na Folha de S. Paulo:
O presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), Arlindo Almeida, afirmou que a inclusão de novos procedimentos "vai ter um impacto financeiro e influir nos preços dos planos"."Os cálculos ainda serão feitos, mas a previsão inicial é de que o impacto será de cerca de 10%." Almeida aponta a queda de abortos clandestinos como um benefícios para as próprias operadoras, o que pode suavizar o "impacto financeiro"."É louvável em certos aspectos, pois pratica medicina de planejamento. Com isso evita muitos abortos. As operadores têm um custo alto com as conseqüências destes procedimentos. A longo prazo, pode-se dizer que pode até ter uma vantagem [para as empresas]."
Há tempos que médicos clamam que esses procedimentos são lucrativos a longo prazo para as próprias operadoras.

Novartis em Pernambuco

Finalmente uma boa notícia da Big Pharma. A Novartis instalará planta industrial em Goiana, Pernambuco para produzir e exportar vacinas para meningite. Segundo, Valor Econômico será uma das poucas empresas do complexo industrial saúde que exportará mais do que importará. Pena que o site da empresa não explica nada.

A queda dos homicídios em São Paulo: enfim um pouco de lucidez

A Folha de S.Paulo traz hoje um artigo muito bom do já famoso coronel José Vicente. O título é ótimo: mais polícia e mais escola. Abaixo, trecho do artigo.
"O sr. Sérgio Salomão Shecaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, argumenta ("Tendências/Debates", 30/ 10) que, além do esforço policial diferenciado, o fenômeno paulista se deveu também a outros fatores, como a recuperação do emprego e a retomada econômica. É curioso que esses fatores também tenham ocorrido em outras capitais sem que semelhantes resultados aparecessem. Em Porto Alegre, por exemplo, cidade com exuberantes programas sociais, os homicídios cresceram 16% no primeiro semestre, enquanto, na capital paulista, houve queda de 28%. O que fez diferença em São Paulo foi o sucesso na organização e na gestão do aparato policial, que quebrou o ciclo da violência e intimidou os criminosos após prender mais de 700 mil deles em sete anos. Nem o governo federal, nem os intelectuais, nem os tucanos reconhecem esse fato. Dois grandes entraves ideológicos prejudicam sistematicamente as medidas de redução da violência no país. Um deles é a mania de pensar o criminoso como vítima da pobreza e da injustiça da sociedade, concedendo-lhe, em decorrência, uma profusão de benefícios absurdos, como visita íntima nas prisões, liberdade provisória para autores de crimes hediondos, volta às ruas dos bandidos após cumprir um sexto da pena, ou considerando cruel e desumano o isolamento em cela individual dos piores criminosos. A pobreza não é fator criminógeno tão poderoso quanto a impunidade, cujo maior exemplo é o escárnio do criminoso paraibano Ronaldo Cunha Lima. Pobres, ricos, pretos, brancos, eleitos e eleitores cometerão menos crimes se forem intimidados por ações competentes e ágeis da polícia e da Justiça. Outro entrave é a descrença na capacidade do aparato policial, judicial e prisional de impor freios aos criminosos e reduzir a violência. ( clique aqui)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um limite para a judicialização da assistência médica (nos EUA)

Mitt Romney, ex governador de Massachusetts, candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano tem uma proposta melhor do que o do partido dele, mas inferior ao dos democratas para aumentar o acesso à assistência médica. Devido a isso, resolveu atacar um outro problema sério: os processos por má prática médica, uma praga que enriquece advogados e, torna a medicina como um todo defensiva, com custos elevados. (abaixo parte de reportagem da AP).
Aqui, essa praga não pegou porque médicos e hospitais não são tão ricos assim para compensar a "indústria do processo". Porém, temos outro problema sério na judicialização: os processos para aquisição de medicamentos de alto custo. Mas, isso é assunto para outro momento.
Romney: Cap Medical Malpractice Lawsuits
By DAVID PITT – 1 day ago DES MOINES, Iowa (AP) — Republican presidential candidate Mitt Romney on Tuesday called for placing a cap on medical malpractice lawsuits, a point that drew loud applause at an Iowa medical school. Romney focused on health care in an address to some 500 students and faculty at Des Moines University. As governor of Massachusetts,
"I believe we have to enact federal caps on non-economic and punitive damages related to malpractice," Romney said. "These lottery-sized awards and frivolous lawsuits may enrich the trial lawyers but they put a heavy burden on doctors, hospitals and, of course through defensive medicine, they put a burden on the entire health care system." Romney also would encourage states to create health courts with judges experienced in handling medical liability cases and would ask states to adopt sanctions against lawyers and others who repeatedly file frivolous malpractice claims. "We've got to reign in the incessant cost of medical liability," he said.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Eleitorado americano quer mudanças no sistema de cobertura universal de saúde e mais gastos

The New England Journal of Medicine (acesso livre) debate o que se passará nos Estados Unidos depois da eleição presidencial, onde o tema "assistência médica " será o mais importante - como esse blogue insiste há mais de um ano - depois da questão Iraque.
A figura ao lado, reproduzida desse artigo, é o resultado de pesquisa da Kaiser Foundation, uma medicina de grupo da costa oeste americana. Essa enquete mostrou que mais da metade do eleitorado quer mudanças profundas.
A conclusão do artigo é uma síntese genial desse debate genuinamente americano sobre assistência médica.
The 2008 presidential election will not resolve the debate over health care reform, but the results will go a long way toward determining the future of U.S. health policy. It would be a mistake, however, to read the candidates' plans too literally. A plan offered during the primaries usually looks different in key respects from the plan that a newly elected president takes to Congress, to say nothing of any legislation that Congress actually passes. Still, it is clear that there is a wide partisan gap on health care reform that reflects ideological divisions over the roles that government and market forces should play in the health care system. And the further U.S. health policy moves from incrementalism, the more that partisan divide is likely to be exposed.

Autoria fantasma: reproduzido sem comentário do blogue do The Wall Street Journal

Odd Ghostwriting Offer Raises Researcher’s Blood Pressure Posted by Jacob Goldstein (blogueiro do The Walt Street Journal; a figura foi adicionada por mim)
Cornell researcher
Jean E. Sealey was a bit surprised — and eventually outraged — by an email she received on Nov. 12 from an employee of Medicus International, a London-based consultant that helps drug companies publish research on their drugs.
The email asked whether Sealey would be interested in authoring an abstract article for an upcoming meeting of the
American Society of Hypertension. The article would discuss research on nebivolol, a high blood pressure drug from Forest Laboratories, and the “effects of nebivolol in men versus women.”
Sealey, professor emerita of physiology and biophysics in medicine at the Weill Cornell Medical College, is a well-known expert in hypertension. But she was being asked to author a report on research she hadn’t conducted. In fact, she had never heard of the drug until receiving the email pitch.
To Sealey, it appears the company was shopping for a name to slap on the cover of internal drug company research. “I was totally perplexed,” she says. “I surmised they wanted a name and maybe a woman because they were going to compare the drug in men versus women.”
The email indicates the abstract would have to be submitted by Nov. 19 — just a week later. But the email assured Sealey that she wouldn’t have to do much work. “We can draft the abstract, offer our editorial support in developing the content of the abstract and help with the submission process on your behalf,” wrote Liz Burtally, who identifies herself in the email as a medical writer “for the nebivolol team working with Forest Laboratories.” Burtally sent another email on Nov. 13, and called Sealey the next day. Sealey asked a lot of questions. Would she be the only author? Yes, she says she was told. When Sealey asked if she would have access to the raw data, the phone went dead. Burtally never called or emailed again. The Health Blog called Burtally, who says she didn’t hang up on Sealey, but confirmed the call was cut off. She said Forest Labs had recommended Sealey for the authorship. Asked if it was common to ask someone to author an article on research they hadn’t conducted, she said “no, not really.” When told it appeared the company was offering to ghost write the abstract for Sealey, Burtally said she wasn’t sure what to call the proposed arrangement. She did say Forest wasn’t going to go forward with the planned abstract. A Forest spokesman said the abstract idea pitched to Sealey was for a sub analysis of data from already published studies. Under that circumstance, he said, the offer met guidelines established by the international association of medical journal articles. The Food and Drug Administration, meanwhile, is expected to make a decision by the end of the month on an application from Forest to sell nebivolol in the U.S

Variações temporais do suicídio

Ao lado encontra-se figura do artigo original Sunshine and suicide at the tropic of Capricorn, São Paulo, Brazil, 1996–2004 de autoria de Kennedy Nejar, Isabela Benseñor e Paulo Lotufo. Encontra-se disponível no site da Revista de Saúde Pública (acesso livre). O abstract segue abaixo:
Several studies have confirmed seasonal variation in suicide rates according to hours of sunshine. The suicide pattern was assessed in São Paulo, southeastern Brazil, at the tropic of Capricorn from 1996 to 2004. Poisson regression was employed to estimate parameters of seasonality, as well as to verify associations for each day between daylight duration and suicide. During the nine-year study period, there were 3,984 suicides (76.9% in men; median age=38.7 years old). Seasonal averages of suicides were similar, as were monthly averages. Poisson regression did not reveal any association between suicide rates and hours of sunshine (p=0.45) for both sexes. In conclusion, no seasonal pattern was observed for suicides.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Doença Cerebrovascular mata mais preto, depois pardos em São Paulo

A figura ao lado foi publicado nos Arq NeuroPsi (acesso livre) em artigo de minha autoria. Ele mostra a diferença por sexo das taxas de mortalidade pela doença cerebrovascular em São Paulo. Considerando as mulheres brancas (menor taxa) como padrão há 60% a mais de chance do homem branco na mesma idade morrer da doença. A mulher parda tem 40% a mais de risco, o homem pardo 90%, a mulher preta 100% e o homem negro 130%. Com esses dados quem continuar a afirmar que "negro morre de violência, branco de doença" está mal informado ou é racista, mesmo.

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (o fato)

O artigo que foi manchete da Folha de S.Paulo traz afirmativas, no mínimo, confusas. Não vou discutir que o perfil de mortalidade dos pretos é diferente dos pardos. Basta verificar os dados que os autores utilizaram os autores que motivou a matéria: o Datasus referente ao ano de 2005. Mas, vamos ficar somente na manchete do jornal.
Entre os classificados como pretos e pardos houve 366.082 óbitos, sendo 95.909 por doenças cardiovasculares, 62.095 por causas externas e 42510 por câncer. Ora, 95 mil é maior do que 62 mil, logo a afirmação não vale para ambos os sexos. Talvez, para o masculino. Mas, a má interpretação já foi feita. Quando se analisa, somente os homens, houve 54.073 mortes por causa externa e, 51.861 pelas doenças cardiovasculares. Mas, como a própria reportagem relatou há uma enormidade de óbitos mal definidos (quase sempre doença, raramente violência) entre os negros, revelando - concordo integralmente - um diferencial na qualidade da assistência médica. Ou seja, o risco maior dos negros é de morrer de doença cardiovascular e, não de violência.
Entro agora no título provocativo: "inocente útil". Os pretensos defensores da raça negra ao apresentar um dado - errado - permitiram que o jornalista fizesse um manchete que traz mais problema do que solução:"negros morrem de violência, brancos de doença". Isso é mentira! Negros têm maior risco de morrer seja de violência ou de doença. Precisam de acesso a unidades básicas de saúde, hospitais regionais e hospitais especializados. Precisam de cateterismo, transplante, quimioterapia etc etc etc
Esse discurso é a volta das do discurso "doenças de rico e doenças de pobre", agora "doenças de branco e doenças de negro".
Isso é retrocesso! A carga da doenças e dos agravos com violência se distribuem desigualmente na sociedade, afetando mais aqueles com menor capacidade de defesa social. Entre eles, pretos e pardos.

O inocentes úteis e o artigo escondido.

Esse artigo foi manchete da Folha de S.Paulo, no próximo post, explico os erros sérios apresentados no artigo. O texto não foi encontrado por mim utilizando PubMed, Scopus, Scielo, Google Schollar. Repete-se o mesmo com o trabalho da FGV sobre aborto e criminalidades. Não está publicado, mas já rende manchete. Acadêmicos podem e devem utilizar a imprensa, mas somente com artigos (livros, artigos originais, apresentação em congressos) que possam ser lidos e comentados pelos outros.

Violência é a maior causa de mortes entre homens negros
Principais causas de mortalidade de homens negros são externas, como homicídios; brancos morrem mais de doenças, diz estudoDe 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34; entre os negros, aumentou de 52 para 61
ANTÔNIO GOISDA SUCURSAL DO RIO A desigualdade racial brasileira, já bastante dissecada a partir de indicadores de renda e escolaridade, pode também ser constatada pelo padrão de mortalidade de cada grupo. Entre os homens negros, a principal causa de mortalidade foram as externas (homicídios, acidentes e outras razões não-naturais). Entre os brancos, essas causas são o terceiro item mais comum, atrás das doenças do aparelho circulatório e das neoplasias (tumores).Além de negros -somatório de pretos e pardos no estudo- e brancos apresentarem padrão de mortalidade diferente em 2005, estudo dos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano, da UFRJ e do Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais, mostra que, desde 99, cresce a desigualdade entre os dois grupos quando se comparam as taxas de mortalidade por homicídios, HIV, tuberculose e problemas no parto.Em alguns casos, essa desigualdade cresceu porque houve melhoria dos índices entre brancos e piora entre os negros. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os homicídios. De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34 mortes. No mesmo período, a mesma taxa entre os homens negros aumentou de 52 para 61 por 100 mil.O estudo mostra que esse padrão de aumento da desigualdade aconteceu mesmo de 2003 para 2005. Nesse período, as taxas em ambos os grupos caíram, mas a queda foi mais intensa entre os brancos.Ao trabalhar com os microdados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do DataSus, Paixão e Carvano mostram ainda que, se é verdade que homicídios vitimam mais os negros, também é verdade que os acidentes de trânsito matam mais os brancos: a taxa entre pessoas brancas em 2005 foi de 20,8 mortes por 100 mil habitantes. Entre as negras, ficou em 17,1 por 100 mil.Especificamente quando se analisa os atropelamentos, os dados se invertem: 5,5 mortes por atropelamento por 100 mil habitantes, ante 5,1 mortes por 100 mil entre os brancos.No que diz respeito à mortalidade por HIV/Aids, os pesquisadores identificaram que o único grupo em que há redução de 1999 a 2005 é o de homens brancos. Nos demais (homens negros e mulheres brancas e negras), as taxas aumentaram.Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que, entre os negros, o percentual de mortes por causas mal definidas -um indicador de maior precariedade no atendimento médico- é muito maior. Entre mulheres, 15% das mortes em 2005 não foram definidas, percentual que cai para 8% entre brancas.Quando se compara a mortalidade por problemas no parto, novamente é verificada melhoria na razão de mortalidade das mulheres brancas, enquanto entre as negras as taxas pioram.RazõesA dificuldade nesse tipo de pesquisa, comparando as causas de morte entre negros e brancos no Brasil, é identificar o quanto desse diferencial é causado pela discriminação racial e o quanto é explicada por razões econômicas ou sociais. Ou seja, como os indicadores de pobreza e escolaridade são piores entre os negros, é de se esperar que eles tenham pior acesso aos serviços de saúde.Segundo Paixão, no caso dos homicídios, não há dúvida de que há um componente racial. "Nas demais causas de mortalidade, minha hipótese é: se vivem de forma diferente, logo, morrerão de forma diferente."No estudo, os pesquisadores afirmam que as razões das desigualdades precisam ser melhor estudadas: "Chamamos a atenção para a existência de causas de mortalidade que afetam de forma muito especial a população negra, em muitos casos tendo sido verificados aumentos nas desigualdades raciais em termos do número de afetados ou das razões de mortalidade".

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (origem)

Durante um bom período, discuti muito com sanitaristas que faziam um diagnóstico errado do perfil epidemiológico brasileiro: pobre morreria de doenças infecciosas e ricos de doença cardiovascular e câncer. A lógica deles propiciava um arranjo profundamente injusto: saneamento para os pobres e excelentes hospitais para os ricos, vide o InCor. Demorou para perceberem que a lógica da desigualdade social atua em quase todos os aspectos do binômio saúde-doença. Em outras palavras, o risco de doença cardiovascular e câncer é maior entre os pobres do que nos ricos. Somente, doenças que surgiram de fora, como a aids, tinham um padrão inverso, agora a realidade é inversa: o risco do HIV é maior entre os pobres. Todos estudos empíricos mostram que hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo são mais prevalentes entre pobres do que entre ricos ou (utilizando outra forma de medida) então entre os com menor escolaridade comparado àqueles com diploma universitário.
Voltando aos anos 80: esse raciocínio impediu que a tecnologia de atendimento à doença cardíaca se espalhasse nos hospitais da periferia. Afinal, para que? Conclusão, hoje o risco de morrer de doença cardíaca nos moradores dos bairros mais pobres é o dobro quando comparado ao dos residentes nos bairros afluentes. Bem, e o racialismo? Fica para o post seguinte.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Vacinação obrigatória mesmo

A vacinação obrigatória faz parte da história da humanidade. Agora, nos Estados Unidos, o sistema escolar está obrigando os pais a manter seus filhos com a "vacina em dia". Aqui, seria interessante afrontar a pseudo-ciência e religião que "condena" a imunização. Abaixo, o relato da AP.
UPPER MARLBORO, Md. (AP) -- Scores of grumbling parents facing a threat of jail lined up at a courthouse Saturday to either prove that their school-age kids already had their required vaccinations or see that the youngsters submitted to the needle.
The get-tough policy in the Washington suburbs of Prince George's County was one of the strongest efforts made by any U.S. school system to ensure its youngsters receive their required immunizations.
Two months into the school year, school officials realized that more than 2,000 students in the county still didn't have the vaccinations they were supposed to have before attending class.
So Circuit Court Judge C. Philip Nichols ordered parents in a letter to appear at the courthouse Saturday and either get their children vaccinated on the spot or risk up to 10 days in jail. They could also provide proof of vaccination or an explanation why their kids didn't have them.
By about 8:30 a.m., the line of parents stretched outside the courthouse in the county on the east side of Washington.
Many of them complained that their children already were properly immunized but the school system had misplaced the records. They said efforts to get the paperwork straightened out had been futile.
"It was very intimidating," Territa Wooden of Largo said of the letter. She said she presented the paperwork at the courthouse Saturday and resolved the matter.
"I could be home asleep. My son had his shots," said Veinell Dickens of Upper Marlboro, who also blamed errant paperwork.
Aloma Martin of Fort Washington brought her children, Delontay and Taron, in 10th and 6th grade, for their hepatitis shots. She said she had been trying to get the vaccinations for more than a month, since the school system sent a warning letter. She had an appointment for Monday, but came to the courthouse to be safe.
"It was very heavy handed," she said of the county's action. "From that letter, it sounded like they were going to start putting us in jail."
School officials deemed the court action a success. School system spokesman John White said the number of children lacking vaccinations dropped from 2,300 at the time the judge sent the letter to about 1,100 Friday.
After Saturday's session, 172 more students were brought into compliance, including 101 students who received vaccinations at the courthouse and 71 whose records were updated.
That still left more than 900 students out of compliance with vaccination requirements, White said.
"Obviously, we still have some more work to do," he said.
Any children who still lack immunizations could be expelled. Their parents could then be brought up on truancy charges, which can result in a 10-day jail sentence for a first offense and 30 days for a second.
Prince George's State's Attorney Glenn Ivey couldn't say Saturday whether he would prosecute parents who fail to comply.
"We have to sit down with school and health services," he said. "We haven't ruled anything out. We need to figure out where we stand."
White said the school system, with about 132,000 students, has been trying for two years to get parents to comply with state law. That law allows children to skip vaccines if they have a medical or religious exemption. It was unclear how many medical or religious exemptions were involved.
Maryland, like all states, requires children to be immunized against several childhood illnesses including polio, mumps and measles. In recent years, it also has required that students up to high school age be vaccinated against hepatitis B and chicken pox.
Nichols said nobody actually came before him Saturday, but he was there if any parent asked to see him.
The judge noted the unhappy looks of some of the kids in line waiting for vaccinations.
"It's cute. It looks like their parents are dragging them to church," Nichols said.
Several organizations opposed to mass vaccinations demonstrated outside the courthouse. While the medical consensus is that vaccines are safe and effective, some people blame immunizations for a rise in autism and other medical problems.
"People should have a choice" in getting their children immunized, said Charles Frohman, representing a physicians' group opposed to vaccines.
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