terça-feira, 30 de outubro de 2007

Comparando taxas de homicídio em São Paulo

Testei a tendência dos homicídios em São Paulo. Todo o estado (vermelho), o interior (verde) e a capital (azul). Abaixo, em letras menores explico a metodologia. Houve redução significativa nas três populações, com queda anual diferenciada: capital, -8,5%, estado 7% e interior, 5%. No gráfico é fácil mostrar que as taxas estavam muito mais elevadas na capital em 1999 do que no interior, ou seja a cidade de São Paulo estava fora da média. Agora, aproximam-se para o mesmo valor. Trata-se do fenômeno de regressão à média, bem conhecido dos estatísticos. Há um outro problema metodológico na avaliação dos homicídios na capital: 7,7% dos óbitos ocorridos na capital foram de habitantes de outras cidades nesse período (variação de 3,4% em 1999 a 10,2% em 2003) o que traz viés importante para qualquer análise que se fixe somente na capital. Eu sempre prefiro utilizar regiões metropolitanas.
metodologia: utilizei os dados de mortalidade por residentes e de população disponíveis no site do Ministério da Saúde (http://www.datasus.gov.br), calculei as taxas sem ajuste por idade. Apliquei regressão linear simples para verificar o declínio anual (coeficiente angular/coeficiente linear) e, testei o declínio utilizando o recurso "curvefit" do SPSS 15.0. Não consegui determinar o melhor "fitness" para essas curvas, por isso não comparei os declínios (aceito sugestões)

Retórica sem qualquer comprovação na queda dos homicídios.

O professor da Faculdade de Direito, Sérgio Salomão Schecaira, no dia 11/10/07 escreveu na Folha de S. Paulo artigo onde considerava desnecessário o número de prisioneiros, visto que as taxas de homicídios estão em declínio. Bem, tratava-se de uma certa confusão entre causa e efeito. O mais simples seria dizer que pelo aumento do número de potenciais homicidas, houve queda nos assassinatos. O pior é que comparava com os demais estados, onde havia menos prisioneiros, mas mais homicídios. Hoje, ele recidivou e resolveu confundir a demografia e a estatística.
O texto na Folha de S. Paulo reproduzo abaixo em itálico e negrito
Vejamos. Em 1999, nossa capital tinha um índice de 52,57 homicídios por 100 mil habitantes ao ano (fórmula internacionalmente aceita para medição da violência). Em 2006, em queda vertiginosa de 63,74%, o índice chegou a 19,06. Projeta-se para 2007 um índice de 12 homicídios, ficando a capital mais segura que a média do interior. No mesmo período, o Estado, protegido pela mesma polícia, viu um decréscimo de 35,33 (1999) homicídios por 100 mil habitantes para 15,23 (56,89%). Ou seja, na mesma base territorial em que atua a polícia paulista, o decréscimo de mortes violentas foi muito menor e em grande parte promovido pela diminuição na região metropolitana. A mesma "polícia" foi eficaz na capital, mas nem tanto no resto do Estado. Ou, em outras palavras, não foi a polícia sozinha que determinou a baixa dos índices. Quais circunstâncias concorreram para a queda brutal desses índices?
Agora, vou por partes :
(1) primeiro não há como comparar a parte e o todo, o correto seria comparar capital versus interior;
(2) reduzir taxas de mortalidade é mais fácil quando os valores iniciais são mais elevados: 52/100 mil na capital versus 35/100 mil em todo o estado;
(3) as reduções pontuais entre 1999 e 2006 na capital e no estado foram 63% e 56%, mostram uma diferença formal, mas que necessita ser testada utilizando instrumentos básicos de estatística, ou seja elas podem ser iguais.
(4) o autor cita os dados de 2006, mas prefiro trabalhar até 2005 com os dados consolidados do Ministério da Saúde que são mais exatos porque fazem a compensação com os demais estados.
Antes, que alguém pergunte: não sei explicar as causas da redução dos homicídios em São Paulo.
Gostaria que estudo empírico fosse realizado logo, porque opiniões há em excesso.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

The Red Sox Nation

Ao dar os votos de feliz 2007, aproveitei o momento para apresentar os meus desejos de torcedor no esporte brasileiro e americano. (ver abaixo em itálico) Palmeiras no campeonato paulista, copa do Brasil e brasileirão, Santos na Libertadores e New England Patriots no futebol americano ficaram longe do título. O Leandrinho quase chegou lá, mas incompetência brasileira e uruguaia permitiram um Jamaica e Bolívia na final do Pan. Ao menos, o Boston Red Sox conquistou hoje, a World Series no beisebol. Parabéns, à Red Sox Nation!
PS: meus desejos para o próximo ano se resumem aos esportes:
(1) Palmeiras, campeão paulista e brasileiro (vale Copa do Brasil);
(2) New England Patriots vencendo mais um SuperBowl e, o Boston RedSox levando a World Series em outubro;
(3) voto útil para o Santos na Libertadores e Mundial para reduzir o tamanho do topete (merecido) tricolor;
(4) que o Leandrinho seja o MVP da NBA;
(4) que o Brasil não enfrente o Uruguai na final de futebol no Panamericano do Rio.

domingo, 28 de outubro de 2007

Tratamento cirúrgico da obesidade e diabetes: a proposta é mais antiga

Esse blogue não é parte dos "media-watchers". Por esse motivo, não estou discutindo a decisão editorial de Veja em abrir capa sobre o tratamento cirúrgico do diabetes. Mas, sim o fato de que proposta original publicada na revista Sao Paulo Medical Journal - do qual fui editor entre 1999 a 2005 - no ano de 2006 seguida de editorial sobre o tema não foi citada na reportagem da revista. Nem mesmo, Sérgio Santoro, o autor principal. Explicando melhor: o autor submeteu artigo em 2003, enviei o manuscrito - como norma da revista - a dois revisores e, um deles expressamente não recomendou o artigo. Eu recusei o artigo. Em 2005, o autor recorreu da decisão e, enviei a outros dois revisores que consideraram o artigo merecedor de publicação . O artigo foi publicado em 2006 já em outro mandato editorial.
O que eu gostaria de saber é: (1) se os médicos entrevistados citaram os resultados iniciais da equipe de Santoro às jornalistas e, elas por motivo que não interessa aqui - por inócuo -decidiram não entrevistá-lo; ou (2) houve omissão por parte de um dos entrevistados, o que seria estranho, porque afinal, ele foi o revisor foi um dos revisores do artigo acima citado no já longíquo 2003. Fica o registro aqui, para a posteridade. Abaixo, o resumo do artigo de Santoro.

CONTEXT AND OBJECTIVE: Most bariatric surgical techniques include essentially non-physiological features like narrowing anastomoses or bands, or digestive segment exclusion, especially the duodenum. This potentially causes symptoms or complications. The aim here was to report on the preliminary results from a new surgical technique for treating morbid obesity that takes a physiological and evolutionary approach. DESIGN AND SETTING: Case series description, in Hospital Israelita Albert Einstein and Hospital da Polícia Militar, São Paulo, and Hospital Vicentino, Ponta Grossa, Paraná. METHODS: The technique included vertical (sleeve) gastrectomy, omentectomy and enterectomy that retained three meters of small bowel (initial jejunum and most of the ileum), i.e. the lower limit for normal adults. The operations on 100 patients are described. RESULTS: The mean follow-up was nine months (range: one to 29 months). The mean reductions in body mass index were 4.3, 6.1, 8.1, 10.1 and 10.7 kg/m2, respectively at 1, 2, 4, 6 and 12 months. All patients reported early satiety. There was major improvement in comorbidities, especially diabetes. Operative complications occurred in 7% of patients, all of them resolved without sequelae. There was no mortality. CONCLUSIONS: This procedure creates a proportionally reduced gastrointestinal tract, leaving its basic functions unharmed and producing adaptation of the gastric chamber size to hypercaloric diet. It removes the sources of ghrelin, plasminogen activator inhibitor-1 (PAI-1) and resistin production and leads more nutrients to the distal bowel, with desirable metabolic consequences. Patients do not need nutritional support or drug medication. The procedure is straightforward and safe.

Raça, gênero e doença cerebrovascular

Abaixo, resumo do artigo original Raça, Gênero e Mortalidade por Subtipo de Doença Cerebrovascular em São Paulo, Brasil publicado no Arquivos de Neuro Psiquiatria, de autoria de Paulo A Lotufo, Alessandra C Goulart e Isabela M Bensenor. O texto completo em inglês pode ser lido na base scielo. (clique aqui)

As taxas de mortalidade pela doença cerebrovascular apresentam distribuição diferenciada de acordo com variáveis socioeconômicas. Informação sobre raça é nova no sistema de informação de mortalidade do Ministério da Saúde. Na cidade de São Paulo foi verificada entre três categoria de raça – branca, parda e negra – a taxa específica de mortalidade nos anos de 1999-2001 para pessoas entre 30 e 79 anos. Para o conjunto das doenças cerebrovasculares as taxas de mortalidade ajustadas para idade (x 100.000) para homens foram maiores entre os negros (150,2), intermediária para os pardos (124,2) e menor para brancos (104,5). Esse gradiente foi o mesmo para todos os subtipos, excluindo a hemorragia subaracnoídea. Para as mulheres, as taxas foram menores quando comparada aos homens e, o mesmo padrão foi observado para negras (125,4), pardas (88,5) e brancas (64,1). A razão de risco para homens negros quando comparado aos brancos foi 1.4, mas entre as mulheres negras e as brancas foi o dobro. Concluindo, houve um gradiente significativo da mortalidade cerebrovascular de acordo com raça, principalmente entre mulheres.
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A tuberculose continua

A gripe aviária está fora das manchetes. Há quem diga que o objetivo era vender antiviral, mas não vamos seguir por aí. Há uma ameça maior vinda do Oriente. O mapa-mundi ao lado publicado no The Lancet revela os números absolutos de casos de tuberculose. Em vermelho, Ásia e África, verde Europa e branco Américas. Há ameaça de aumento da doença na Europa. Nessa semana houve conferência dos ministros de saúde europeus para discutir o problema, principalmente porque na Ásia e, principalmente na África há cepas multirresistentes do Micobacterium tuberculosis. O risco da tuberculose aumentar a incidência na Europa está mais na dependência da política de inclusão de imigrantes, do que propriamente nos serviços de saúde pública. Em outras palavras, reprimir imigrantes ilegais é mais fácil do que bactérias, vírus etc etc.
A situação mundia da tuberculose pode ser lida no relatório da Organização Mundial da Saúde.

Trasylol: vai e vem do FDA, agora há risco

Uma novela que não acaba: Trasylol e o FDA. Já tratei do assunto aqui três vezes (clique aqui) Ontem, o FDA emitiu mais um parecer, agora reconhecendo que há risco maior no uso do medicamento em cirurgias cardíacas.
FDA Says Evidence PointsTo Increased Risk From TrasylolAssociated PressOctober 25, 2007 6:02 p.m.WASHINGTON -- The Food and Drug Administration said Thursday that accumulating evidence suggests a Bayer AG drug used to prevent excessive bleeding during heart bypass surgery increases the risk of death when compared with other drugs. The announcement came as a Canadian study comparing the safety and efficacy of the drug, Trasylol, with two others was halted. Preliminary results from that trial also suggested Trasylol increased the risk of death when compared with the other drugs. The trial was to include 3,000 patients. Trasylol, also known as aprotinin, works by blocking enzymes that dissolve blood clots. Bayer said it believes Trasylol remains a safe and effective treatment option, but that the company would work with the FDA and regulators in other countries to re-evaluate the drug's risks and benefits and determine where any label changes are needed. The FDA said such changes, as well as other, unspecified regulatory actions, may result. The announcement came a month after FDA advisors recommended Trasylol remain on the market despite its links to an increased risk of death and other serious side effects. The FDA approved it in 1993 to stanch the loss of blood and prevent the need for blood transfusions in surgeries to bypass clogged coronary arteries. The agency began re-evaluating the drug's safety after the January 2006 publication of two studies that linked the drug's use to serious side effects, including kidney problems, heart attacks and strokes.More recent studies have suggested the drug also raises the risk of death. One of those studies previously was withheld by Bayer from the FDA due to what a company investigation later characterized as a "regrettable human error."

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Voltando ao caso Avandia: impacto para a empresa

Abaixo, notícia publicada no Valor Econômico de ontem, 24/10/2007 sobre os lucros da Glaxo Smith Kline.
Um detalhe: traduzir The New England Journal of Medicine para Jornal de Medicina de Nova Inglaterra é excesso de licença poética! The Lancet será O Bisturi? Cuidado, O Bisturi já existe há quase cem anos. Ele é o jornal do Centro Acadêmico "Oswaldo Cruz" da FMUSP.
GlaxoSmithKline registra queda de 7% em seu lucro líquido no terceiro trimestre
SÃO PAULO - A farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) anunciou hoje uma queda de 7% em seu lucro líquido no terceiro trimestre, para 1,88 bilhão de libras, contra 2,02 bilhões de libras no mesmo intervalo do ano passado. As vendas recuaram 3% no período, para 5,48 bilhões de libras. Os motivos para as quedas no lucro e nas vendas foram a forte redução no comércio da droga anti-diabetes Avandia e a competição com medicamentos genéricos no mercado dos EUA. Além do resultado, a empresa também anunciou um programa de reestruturação para cortar 1,5 bilhão em custos no intuito de tentar compensar os problemas com genéricos e com o Avandia no ano que vem. A GlaxoSmithKline se mantém no caminho para alcançar suas metas para o ano, apesar desses desafios significativos, disse o executivo-chefe da empresa, Jean-Pierre Garnier, que deve se aposentar em 2008. As vendas da família Avandia caíram 38%, para 225 milhões de libras entre julho e setembro. Apenas nos EUA, elas recuaram 48%, para 130 milhões de libras. Nesse país, a queda foi causada pela preocupação dos usuários quanto à sua segurança, questionada por um artigo publicado em maio no Jornal de Medicina de Nova Inglaterra.

Revista Pesquisa Médica nas bancas

O número 3 da revista Pesquisa Médica se encontra-se nas bancas
ESTUDO MULTICÊNTRICO: Confronto de terapias - 19/10/2007Uma pesquisa americana sobre o que é melhor para o paciente cardíaco reacende a discussão quanto aos benefícios da medicação versus a invasiva angioplastia+ PRÁTICA CLÍNICA: Vacinas na mulher adulta - 23/10/2007Os exames pré-concepcionais e a imunização da paciente em idade reprodutiva são fundamentais para prevenir o risco de problemas para o feto e a própria gestante.
EPIDEMIOLOGIA: Alcoolismo na adolescência - 19/10/2007Metade dos jovens brasileiros começa a beber antes dos 14 anos de idade e boa parte deles continua consumindo álcool, muitas vezes em quantidades excessivas+ leia mais
ENTREVISTA:MUDANÇA DE PARADIGMA - 23/10/2007O ensino da medicina passa hoje por um processo de transformação inédito no mundo. Ganha espaço nos currículos, pela primeira vez desde que as escolas médicas existem de uma forma mais científica, a pesquisa sobre os processos de interação entre corpo e mente, emoções e doença. O infectologista...+ leia mais
MEDICINA DE VIAGEM: Mundo Vulnerável - 19/10/2007O trânsito de pessoas no mundo atual, cada vez mais intenso, estimula a disseminação de novas doenças infecciosas+ leia mais
PRÁTICA CLÍNICA: O RETORNO DE UM MAL ANTIGO - 23/10/2007A OMS calcula que surgem, por ano, 9 milhões de novos casos de tuberculose. Desse total, 1,6 milhão de pessoas morre em decorrência da doença, que é hoje curável.
CONVERSANDO COM ESPECIALISTAS: Problema de saúde pública - 19/10/2007O acidente vascular cerebral ou encefálico, popularmente conhecido como derrame, é hoje a principal causa de morte no Brasil e a terceira doença que mais mata no mundo.
CAPA: A MEDICINA NA PALMA DA MÃO - 19/10/2007Pequenos dispositivos digitais, conhecidos como PDAs, permitem hoje ao médico levar no bolso uma biblioteca completa de referências, além de arquivos complexos, como o histórico dos pacientes ou bancos de dados com informações de apoio.
ESPECIALISTAS: TRATANDO O AVC - 19/10/2007O atendimento adequado dos pacientes, em unidades especializadas, poderia reduzir a alta mortalidade associada às doenças cerebrovasculares.A seguir, especialistas informam sobre como proceder na assistência às vítimas de AVC, do diagnóstico à reabilitação: os exames que devem ser feitos,

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A fé como fator de cura e consolo


A procura ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida por enfermos e incapacitados remota desde o surgimento da santa. Há quem considere um fenômeno brasileiro, com características culturais próprias. Hoje, The Wall Street Journal mostra que um seguro-saúde holandes paga a ida de seus segurados ao santuário de Lurdes na França.

By JOHN W. MILLEROctober 23, 2007; Page A1
LOURDES, France -- In 1985, Dutch teenager Marcel Roeg fell off his moped and into the darkness. The smart-aleck jock would never again play goalie, ride a scooter or dance with his girlfriend Marissa. The accident left him brain-damaged and blind.
Since that day, Mr. Roeg has spent most of his time in a home for the handicapped, harboring a dream. In the dream, he goes to Lourdes to visit the famous place where in 1858 a 14-year-old peasant girl claimed to see the Virgin Mary. There, he is healed. He rides a motorcycle again. And he is no longer lonely.

Last month, Mr. Roeg, now 37 years old, actually made the trip to Lourdes -- thanks to his insurance company, VGZ.
In an unusual scheme, the Dutch company spends about $280,000 a year to fly 600 of its sickest and most disabled clients to Lourdes. The company doesn't expect the Virgin Mary to intercede. It hopes for a different sort of miracle.
"Lourdes leads people to compassion and friendship," says Johan Rozendaal, a VGZ board member. "They remember what it's like to have somebody really care about them."
Mr. Roeg expected more than that. His mother had made a pilgrimage to Lourdes just a week before his fateful crash. He figured the place owed him something.
When Mr. Roeg had his accident, doctors weren't sure he would live. When he awoke from a two-month coma, he was confused and afraid. Slowly, he learned to talk and walk.
A doctor, Jan de Lint, was devoted to his rehabilitation. He met regularly with the boy, and counseled the family on how to deal with the accident.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Queda dos homicídios: novamente a negativa

Globo News discutiu a violência no programa Entre Aspas. Um juiz carioca e um professor mineiro. Durante 23 minutos não se discutiu a queda dos homicídios em São Paulo. Somente a ção da polícia carioca. O juiz afirmou que o aumento de presos não teve qualquer impacto nos indicadores de violência. A apresentadora citou o exemplo de Bogotá. Somente no final, o professor mineiro - Claudio Beato - ressaltou o ocorrido em São Paulo como exemplo positivo e associado ao aumento do encarceramento. O juiz ficou furioso e afirmou que houve várias ações sociais que reduziram os homicídios. O programa acaba.
Comentando: há um medo imenso em discutir o que se passou em São Paulo, afinal vai contra tudo o que os intectuais da área preconizaram por décadas.
O surto de enterococos resistentes a vancomicina no Rio de Janeiro merece preocupação. O mesmo vale para as cepas de estafilococos

domingo, 21 de outubro de 2007

Comparando risco na estrada, melhor do que preço de pedágio

Está na coluna de Elio Gaspari (hoje):
BOA NOTÍCIA A Agência Nacional de Transportes Terrestres, ANTT quer botar na internet as planilhas do fluxo de veículos em todas as rodovias privatizadas do país. Pode demorar uns meses, mas deve acontecer. Com esses números será possível ver com mais precisão a receita das concessionárias federais e estaduais
Melhor notícia ainda: com esses dados, mais o de acidentes com vitimas graves e mortes será possível calcular as taxas de acidente e morte em cada trecho de cada rodovia pedagiada. Depois será comparar as taxas obtidas com o valor do pedágio.

sábado, 20 de outubro de 2007

O elementar caro Watson

James Watson é o exemplo típico onde o adjetivo que inglês fica mais bonito: "overrated".
Já falou muita asneira. A última (não repetirei aqui) é pior de várias. Uma esquecida que a imprensa mundial toda entrou foi a cura do cãncer em 1998. Ele confidenciou a Gina Kolata que uma novo grupo de medicamentos - a angiostatina - revolucionaria o tratamento das neoplasias malignas e, que em dois anos, a cura chegaria a todos. Gina noticiou no The New York Times. Repercutiu em todo o mundo. Até Folkman, do Childrens Hospital de Boston, cientista principal dessa linha de pesquisa não entendia o porquê de tanto sensacionalismo. A razão, o elementar caro Watson.

Mais brasileiros do que chineses e indianos

Se o IBGE aceitasse todas as retificações de contagem populacional dos prefeitos - notícia de hoje, em todos jornais - seríamos a maior população do mundo, superando a Índia e a China. A ganância por mais recursos impulsiona os ataques ao IBGE e seus técnicos. No Censo de 2000 parte da imprensa embarcou na onda, sempre apresentando alguém - artista, celebridade - que não tinha sido abordado pelo Censo. Pura bobagem, os problemas de contagem são conhecidos e podem ser contabilizados pelos técnicos do IBGE.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Onde não existe impunidade no trânsito

A notícia abaixo saiu no The Boston Globe. Uma mulher com câncer de mama, 76 anos, talvez por "barbeiragem" entrou com o carro na entrada do hospital próximo a Boston, onde ela se tratava e, matou duas pessoas, ironicamente um médico radioterapeuta que poderia tratá-la no futuro. Os promotores não tiveram dúvida em acusá-la de homicídio doloso. (homicídio culposo em inglês é manslaughter) Ressalto que a senhora de 76 anos foi acusada, não condenada. Mas, acusada foi. Não sei como seria aqui. Mas, a "velhinha com câncer" seria vítima,não os filhos e viúvas dos dois mortos.
Essa é a diferença básica entre uma sociedade que não aceita que se mate com o carro, de outra que considera o acidente de trânsito como mera contigência de uma época.
Em Boston, quando do recebimento da licença de motorista, há necessidade de assinar um documento onde o motorista assume que ele está recebendo uma concessão de dirigir no estado de Masschusetts e, não exercendo um direito legal.

A 76-year-old Rockland woman whose car plowed into an entrance of Brockton Hospital Monday, killing two staff members, has been charged with motor vehicle homicide.
Jane Berghold, a breast cancer patient, was at the hospital for an appointment when her car crashed into the hospital, killing Dr. Mark A. Vasa, chief of radiation therapy, and fatally injuring Susan Plante of East Bridgewater. Two other staff members were injured in the crash.
Plymouth District Attorney Timothy Cruz has charged Berghold with two counts of motor vehicle homicide by negligent operation and one count of operating a vehicle to endanger, said Bridget Norton Middleton, a spokeswoman. She would not elaborate on why prosecutors filed charges. An initial court date has not been set.Berghold, her husband, and her son have said she tried to stop the car. A man who answered the phone today at the Berghold residence said the family would not comment.

Aumento da licença-maternidade: lógica demográfica

O Senado aprovou a proposta de extensão da licença-maternidade de 4 para 6 meses,mas com cláusula de compensação, via renúncia fiscal, para a empresa optante. O debate ideológico corre solto. Fico fora. Do ponto de vista estritamente demográfico, a medida é adequada. Países com taxa de fecundidade abaixo de 2,1 filhos por mulher em idade fértil necessita de políticas de incentivo à maternidade. Se essa medida será efetiva, há mais dúvidas do que certezas observando as experiência européias.
Apesar da lógica demográfica, sou testemunha de que as mulheres amam seus filhos, mas gostam também de trabalhar. A primeira amiga a engravidar, confidenciou-me, ainda na época dos 84 dias de licença, que ficar em casa o tempo todo não era exatamente atrativo a ela. Fiquei estarrecido, mas comprovei que a opinião dessa amiga seria a mesma de inúmeras outras amorosas e dedicadas mães.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pedágio e morte nas estradas

A discussão dos governo federal e a do estado de São Paulo realizada pelos seus apoiadores na mídia é ridícula, para dizer o mínimo.
Proponho que uma parcela minúscula da privatização das rodovias permitsse a análise epidemiológica do acidente de trânsito. Já existe expertise entre os engenheiros e médicos de tráfego. O que eles fariam? Simplesmente, contariam o número de acidentes por trecho e construiriam taxas de acidentes. O numerador seria o número de acidentes (e de vítimas fatais) e o denominador o número de carros circulantes no trecho e período, uma informação que somente as rodovias pedagiadas permitem. Depois disso fariam uma análise sócioeconomica considerando todos os custos envolvidos. Aí, sim poderemos dizer quem cobra pouco, quem cobra muito. Afinal, melhor gastar 10 e, vivo do que 5 e, morto.

A pílula da barriga: dúvidas no EUA, lucro na Europa, publicidade no Brasil.

O Bom Dia Brasil levantou a bola do Acomplia, nome do rimonabant, como a pílula da barriga. (clique aqui para ver a reportagem) . Não entendi, afinal o medicamento aprovado pela ANVISA, recusado pelo FDA ainda não está no mercado. Na Europa, no entanto o sucesso é enorme e , a Sanofi está satisfeira. Abaixo reportagem do The Wall Street Journal.
Sanofi Satisfied with Acomplia in Europe
Posted by Jeanne Whalen
Although Sanofi-Aventis failed to get its obesity pill rimonabant approved in the U.S. this summer, the company says it’s satisfied with the uptake in Europe, where the medicine was launched last year.
Nearly 300,000 Europeans are taking rimonabant, sold under the brand name Acomplia. About half of them are obese and also have type 2 diabetes, Pierre Chancel, Sanofi’s head of global marketing told the Health Blog. Chancel said Sanofi is pleased with this patient profile because the company wants the drug to be seen as a serious medical treatment and not just a pill for cosmetic weight loss. Sanofi is testing rimonabant as a treatment for diabetes in several big trials and plans to request regulatory approval for that use in 2009.
So far Acomplia sales “are completely comparable to the ramp-up of anti-diabetic drugs…so 300,000 is something that is very satisfactory,” Chancel said. Some European governments have refused to pay for Acomplia, however, judging it a “lifestyle” drug with few real medical benefits despite the company’s arguments. Some patients are choosing to paying for it out of their own pocket, Chancel said. Acomplia costs about 2.60 euros per pill (or $3.68).
Worries about psychiatric side effects, including suicidal thinking, weighed on a panel of medical experts who
advised the U.S. FDA in June to reject the drug. Weeks later Sanofi withdrew its application to U.S. regulators for the medicine, while it gathers additional data to quell concerns about the drug. Stateside the brand name was to be Zimulti, which reminded the Health Blog of an Italian pasta dish.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Los muertos que vos matais: a impunidade no trânsito é parte da glorificação do marginal

A pauta "morte nas estradas" e "morte no trânsito" pegou. Nada diferente do passado, simplesmente com a redução dos homicídios, esse problema está cada vez mais candente. Há culpados de vários níveis e gradações. Vamos, por parte:
1. a imprensa que há dez anos fez pouco caso do novo Código de Trânsito e, se preocupa mais com valor de pedágio do que com a segurança nas estradas pedagiadas e não-pedagiadas;
2. proprietários que não mantêm os carros em condições mínimas de segurança, mas gastam em rádios novos, p.ex.;
2. a publicidade cervejeira que estimula o consumo de álcool;
3. governos que não cuidam e não cuidaram de estradas no seu devido tempo;
4. empresas automobilísticas que não utilizam no Brasil, os dispositivos de segurança existentes nos países de origem das empresas;
Porém, milhões de cidadãos utilizam carros inseguros em estradas inseguras, mas fazem a conservação do veículo e , não dirigem sob efeito do álcool. E, consequentemente não matam ninguém, a não ser na definição estrita de "fatalidade".
Ao contrário, há uma minoria extrema de homicidas que utilizam seus carros da forma a mais agressiva possível. A eles, nenhum perdão deve ser admitido, a não ser a mão pesada da lei. Seja ele jogador de futebol, membro do ministério público, comentarista da rede Globo ou pagodeiro. Matou, vai preso.
Parece que estamos acordando para o fato simples que "bandido é bandido" e que a "criminalidade se reduz combatendo o criminoso". Por isso, rigor na punição aos assassinos que portam carros, não revólveres é urgente.

sábado, 13 de outubro de 2007

O tráfico de benzodiazepínicos, agora na mão de traficantes.

Como é muito chique fazer apologia do crime, estou aderindo ao discurso da classe média culpada sei-lá-do-que de solidariedade a criminosos. Bem, explicando melhor e, retirando o sarcasmo da frase anterior, o fato de gangues estarem falsificando receituários e carimbos de médicos para vender benzodiazepínicos já é um avanço. Como? Primeiro, que não há mais jeitinho nas farmácias. Segundo, médicos estão recusando à chantagem corriqueira de vizinhos, parentes, professores de inglês, treinadores de academia, pais de amigos dos filhos que pedem, solicitam, ameaçam por um receitinha de Lexotan ou outros benzodiapínicos. Já tratei disso em Doutor, não colabore com o tráfico de drogas. Abaixo, reportagem do Jornal da Tarde.
MP denuncia tráfico de receitas
Esquema funciona livremente na Praça da Sé
Felipe Grandin e Fernanda Aranda
O Ministério Público (MP) vai investigar o tráfico de receitas médicas que acontece livremente no Centro da Capital. O esquema foi denunciado na quarta-feira pelo Jornal da Tarde. A reportagem comprou quatro receituários e com um deles adquiriu um medicamento tarja preta, de uso controlado, em uma farmácia. A oferta é tão grande que há até concorrência: o preço das receitas varia de R$ 20 a R$ 70.O remédio e os receituários adquiridos pelo JT foram entregues ao MP, que encaminhou o material à polícia e determinou a abertura de um inquérito para apurar o crime. Cópias da denúncia foram enviadas ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), para apurar a eventual irregularidade na conduta dos médicos, e à Vigilância Sanitária, que investigará se houve conivência ou falha na fiscalização.O promotor Eronides dos Santos, que formalizou a denúncia, diz achar difícil, no entanto, que esses profissionais estejam envolvidos no crime. 'Temos que investigar, mas muito provavelmente não houve participação de médicos e agentes públicos', disse. O presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Henrique Gonçalves, concorda: 'Invariavelmente os médicos não conhecem quem cometeu o crime.'Segundo o promotor, o importante será a investigação policial, pois tudo indica que os receituários foram roubados ou falsificados. 'Pela investigação podemos chegar a quem cometeu o furto ou à gráfica que fez a falsificação. Pode ser até uma quadrilha organizada', afirma Santos.Na quarta-feira, três homens foram presos pela Polícia Militar depois do esquema ser denunciado pelo JT. O plaqueiro Oliveira Ferreira, de 73 anos, Roberto Joaquim da Silva, de 58, conhecido como Macumba, e Luis Carlos do Nascimento, 46, o Cabeção, foram autuados em flagrante por falsificação de documento público, exercício ilegal da medicina e por fornecer remédio em desacordo com a receita. Junto com eles, foram apreendidas 40 receitas e atestados médicos, 15 cartelas de medicamentos controlados e um carimbo com nome de médico.A porta de entrada do tráfico de receituários são os 'homens-placa' que anunciam atestados médicos na Praça da Sé. Os plaqueiros levam os compradores até os traficantes, que fornecem as receitas ou os próprios remédios controlados. Durante a reportagem, foi oferecido até um serviço de delivery, em que o medicamento é entregue na casa do 'cliente'.
CarimbosOntem, o JT mostrou também que qualquer um pode fazer o carimbo de médico e falsificar as receitas de medicamentos controlados. A reportagem encomendou por fax dois modelos com nome fictício e CRM inativo em lojas diferentes do Centro. Não foi preciso apresentar nenhum documento. Os carimbos com o nome de Alberto Caeiro,uma das identidades usadas pelo poeta português Fernando Pessoa, ficaram prontos no mesmo dia, ao custo de R$ 6 e R$ 15,90

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A elite topa com a realidade e chama a tropa

Há um debate intenso sobre o filme Tropa de Elite e o artigo de Luciano Huck. Não participo desses debates, mas há algo interessante nas argumentações que lembram um outro tópico em discussão

A maldade da elite

Os jornais estão repercutindo o filme Tropa de Elite e o texto de Luciano Huck

Chagas na Amazônia

O Estado de S.Paulo noticia hoje 100 casos de doenças aguda de Chagas com 4 mortes devido ao consumo do açaí em estados da região Norte. Em 2006 foram 115 casos. Nos Cadernos de Saúde Pública há artigo de Roberto Briceno- Leon, La enfermedad de Chagas y la globalización de la Amazonia (artigo completo), cujo resumo encontra-se abaixo.
El incremento de casos autóctonos de la enfermedad de Chagas en la Amazonia a partir de los años setenta hace temer que pueda convertirse en un novedoso problema de salud pública en la región. Este cambio del patrón epidemiológico de la enfermedad en la región amazónica debe ser explicado por las transformaciones ambientales y sociales que han ocurrido en los pasados treinta años. Este artículo utiliza la teoría sociológica de los efectos perversos para explicar esos cambios como el resultado indeseado del cambio de modelo de desarrollo "hacia adentro", que había existido hasta los años setenta, por otro "hacia fuera" que está orientado por las fuerzas de la producción y el comercio internacional que conocemos como globalización. El artículo destaca que la implantación de cinco nuevos patrones de ocupación agrícola, ganadero, minería, madera y urbano que han generado cambios en el medio ambiente y el hábitat indígena tradicional y que han provocado corrientes migratorios, deforestación, sedentarización de la población, presencia de animales domésticos y modificaciones en el hábitat que facilitan la colonización de las viviendas por los vectores y la transmisión domestica y laboral de la enfermedad. La expansión de la enfermedad de Chagas es un efecto perverso del proceso de globalización de la Amazonia.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Geriatras e o cuidado com o idoso.

A entrevista com Alexandre Kalache, médico carioca, que esteve 30 anos no Reino Unido e na Organização Mundial de Saúde com enfoque em gerontologia traz dados e conceitos já conhecidos dos "iniciados", mas ainda distante da maioria dos médicos e profissionais de saúde. Por exemplo, uma coisa é reduzir o número de pediatras. Outra é substituí-los por geriatras. Sempre lembro que antes do envelhecimento há muito a fazer na clínica médica geral (e, suas especialidades).
FOLHA - Temos no Brasil perto de 550 geriatras contra 30 mil pediatras. Com o envelhecimento da população, esse quadro deve mudar?
KALACHE - Até certo ponto. A gente não vai conseguir formar geriatras em quantidade para atender, em planos mundiais, 2 bilhões de idosos no ano de 2060. A gente vai poder fazer com que todos os profissionais de saúde saibam aquilo que seja a essência, a base da atenção do idoso. Estou muito mais interessado em que todos os ortopedistas de amanhã, todos os oftalmologistas, todos ginecologistas, todos cirurgiões saibam lidar com idosos e entendam o mínimo sobre a fisiologia do idoso, a anatomia, a depressão, a saúde mental do que formar especialistas. Do contrário, o risco é você acabar medicalizando e tornando o envelhecimento uma especialidade e não uma etapa da vida. O papel do geriatra é muito importante porque, você tendo bons geriatras, terá bons treinadores daqueles profissionais que precisam ser treinados.

domingo, 7 de outubro de 2007

Há indicações e indicações, usos e usos, cuidados e cuidados: a talidomida e o Citotec

Um famoso deputado federal popularizou a frase "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". No caso dos medicamentos, esse adágio traz algo de real e concreto. Não há medicamento bom ou ruim. Somente há indicação correta e incorreta. Uso adequado e inadequado. Cuidado existente na guarda de medicamento ou nenhum cuidado. Na semana que se divulgaram novos casos de lesão fetal pela talidomida, The Lancet publicou ensaio clínico realizado na França mostrando que a adição da talidomida ao tratamento clássico do mieloma múltipla estende a sobrevida média em seis meses dos pacientes com esse tipo de câncer. Um avanço no tratamento considerando o baixo custo e risco nenhum, exceto permitir o uso pela filha como aconteceu no Rio Grande dos Sul. Há que tomar cuidado, porque em breve haverá um demagogo propondo a proibição da talidomida no país.
Em tempo, o excelente medicamento para úlcera péptica associada ao uso de anti-inflamatórios, o misoprostol (popular Citotec) foi proibido por ser abortivo . Com isso, os idosos perderem a possibilidade de utilizar um excelente medicamento (ele também é indicado para indução do aborto incompleto). A proibição atingiu somente ao uso terapêutico. Quanto ao uso no aborto, tentem acessar no google "citotec".

Carta ao Presidente: Vítimas da Talidomida (O Estado de S. Paulo, 07/10/07)

Hoje, em "O Estado de S.Paulo" há carta aberta reproduzida abaixo pela Associação de vítimas da talidomina. Há informação inédita como o sumiço de 5 mil comprimidos e, a recomendação para uso na malária. Descobri que a repercussão no Brasil ocorreu por causa da reportagem do The Financial Times no dia 01/10. No dia seguinte, Valor Econômico reproduziu a matéria e, no dia seguinte (junto com esse blogue que tinha lido no site do jornal inglês), a Folha de S. Paulo publicou reportagem completa com entrevista com a autora do artigo e representante do Ministério. Acho que a assessoria de imprensa da UFRGS e do Ministério da Sáude precisam ficar mais atentas ao que se publica sobre o país. Estranho, sermos pautados pelos ingleses. Aliás, depois da compra do The Wall Street Journal por Robert Murdoch, resta o The Financial Times.
'Descontrole na área da Saúde gerou a segunda e a terceira geração de vítimas da talidomida'
Claudia Marques Maximino e Flávio Augusto Werner Scavasin, PRESIDENTE E VICE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PORTADORES DA SÍNDROME DA TALIDOMIDA
Em nome das vítimas brasileiras da talidomida, e com o apoio de diversas entidades internacionais, é nosso dever informá-lo, uma vez mais, que ao contrário do que até muitos médicos pensam, o Brasil continua a gerar crianças com graves deficiências físicas provocadas por essa droga. Isso acontece devido a reiterada omissão governamental e deliberada intenção de expandir ainda mais o seu uso. É uma tragédia anunciada exclusivamente brasileira - tal qual a do setor aéreo -, já que nenhum outro país caminha nessa vergonhosa direção, com tantos erros, prevaricação, falta de controle, impunidade e acobertamento de interesses escusos. Não queremos que o senhor diga que não sabia dos seguintes pontos: o descontrole na área da Saúde gerou a segunda e a terceira geração de vítimas da talidomida; em seu governo, esse remédio vitimou pelo menos mais cinco brasileirinhos, em apenas 2 anos (eles portam graves problemas físicos externos e em órgãos internos); mais vítimas estão nascendo porque nada tem sido feito, mesmo diante do desaparecimento de 5.760 comprimidos de talidomida; médicos insensatos chegam a sugerir em eventos oficiais que a droga seja utilizada até preventivamente contra a malária e o governo federal continua lavando as mãos, descumprindo a legislação, inclusive educativa; todas as conquistas das vítimas, quando estas logram êxito, têm sido obtidas em morosos processos judiciais; projetos de lei de nosso interesse ficam parados no Legislativo (PL 1156/2006, PLS 08e 19 /2006); ninguém presta ajuda ou sequer tenta consolar as famílias das crianças que não sobrevivem. Senhor presidente, ainda nos resta a esperança de que seu governo possa dar uma exemplar reviravolta na trajetória macabra da talidomida no Brasil. Queremos basicamente respeito e rígido cumprimento da legislação pertinente - sempre no sentido de restringir o uso da talidomida e buscar um sucedâneo -, assim como uma ampla campanha de esclarecimento sobre os riscos da droga e da automedicação, prática amplamente difundida na população.

Os vitimizados de 68 já acordaram

Pensei que iria comentar sobre o risco do "ataque de vitimização da geração 68" somente em janeiro, talvez fevereiro de 2008. Mas, começou com o Che, agora no Estadão, o fótografo da passeata dos cem mil está procurando onde estão os participantes. Haja paciência, simplesmente muita paciência com esses mimados com sessenta anos de idade. Essa geração clama ao mesmo tempo os créditos por heroísmo e a recompensa por vítimas. Os eventos de 68 foram somente fotográficos (quantas vezes veremos a foto do carro queimado na Ipiranga com São João ou a briga da Maria Antônia no próximo ano?) mas pouco efetivos em termos de ganhos. Não há como negar a guerrilha urbana e rural foi uma enorme irresponsabilidade que ceifou vidas e justificou o que existia de pior no estamento militar. Quando da promulgação do AI-5 em dezembro, várias organizações "saudaram o fato", porque assim a "ditadura mostrava a sua real face".
Os acontecimentos de 1977 - nos quais participei ativamente - tinham objetivos como anistia, amplas liberdades democráticas e convocação de uma assembléia constituinte. Ganhamos o jogo.
A repressão ao movimento em 77 como a invasão das Faculdades de Medicina da UFMG e USP e da PUC não mereceram nenhuma reportagem. No caso da PUC, mesmo as vítimas reais (queimaduras graves) não se portaram como "vítimas".
Voltando ao fotógrafo de 68, aposto que o número de presentes na passeata dos cem mil chegará a um milhão! Vários com certeza vão entrar com pedidos de indenização ou semelhante.

sábado, 6 de outubro de 2007

Dica errada: Health Vault somente nos EUA

Quebrei a cara e espalhei uma dica não acessível. O HealthVault da Microsoft é acessível somente nos EUA. Fica então o registro.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O"software para saúde" da Microsoft

A Microsoft disponibilizou versão beta de "software para saúde". Chama HealthVault e, pode ser acessado no endereço http://www.healthvault.com/. Os princípios do software são apresentados abaixo. Fica a sugestão a todos leitores para testarem a utilidade desse instrumento. Eu vou testar nesse fim de semana.
Our Health Privacy Commitment
1. The Microsoft HealthVault record you create is controlled by you.
2. You decide what goes into your HealthVault record.
3. You decide who can see and use your information on a case-by-case basis.
4. We do not use your health information for commercial purposes unless we ask and you clearly tell us we may

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Haja irresponsabilidade e incompetência: ONU Habitat

Apareceu o pai da criança, ou melhor a mãe da criança "dados de homicídio de São Paulo". Trata-se da arquiteta Cecília Martinez, mexicana que dirige a agência da ONU para moradias. Bem, se dependermos dela e dessa agência para a questão de moradia contiuaremos ao relento. Vejam, as duas declarações abaixo em negrito. Haja irresponsabilidade. Jornalistas, por favor não confiem em organismos internacionais, invariavelmente são dirigidos por pessoas com qualificação sofrível.
ONU admite: dados eram antigos
SP diz que índice de homicídio é atualizado todo dia em site
Jamil Chade e Bruno Paes Manso
O mal-entendido criado pela ONU com o governo de São Paulo permanece. Na segunda-feira, a agência da ONU para moradia - Hábitat - publicou o primeiro relatório sobre a violência nas cidades e apontou que 1% dos homicídios do mundo ocorreriam em São Paulo. O governo do Estado reagiu e negou que esses seriam os números corretos e atualizados."Fizemos um grande esforço para coletar todas as informações. Sabemos que não são os dados mais recentes. Mas era o que tínhamos de mais confiável", afirmou ontem a diretora do escritório do ONU Hábitat para a América Latina, Cecília Martinez. "Alguém precisava iniciar o debate e foi isso que fizemos. Pedimos que os governos providenciassem os dados mais recentes da violência para que possamos fazer nosso trabalho nos próximos anos."A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que os dados de criminalidade no Estado são públicos. O governo publica trimestralmente, desde 1995, os números da área de segurança no Estado, que estão disponíveis no site da secretaria na internet.O secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, ligou ontem para o diretor do escritório da ONU no Brasil, Giovanni Quaglia, e explicou que os dados de criminalidade estão à disposição da entidade. O diretor da Coordenadoria de Análise e Planejamento da secretaria, Túlio Kahn, disse que o estudo causa "dano irreparável à imagem do Estado no mundo" e reforça a sensação de insegurança entre a população. Segundo estatísticas da secretaria, de 1999 e 2007, os homicídios caíram 60,7% no Estado - de 35 assassinatos por 100 mil habitantes em 1999, para 11,8 por 100 mil em 2007. "Quando a ONU afirma que a cidade de São Paulo permanece violenta, isso tem efeitos econômicos, porque diminui a quantidade de turistas", disse."São pesquisas como essa que explicam porque a sensação de segurança em São Paulo não diminui, apesar da queda nos índices."

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A cultura da auto-medicação: talidomida na gravidez

The Financial Times publicou artigo que teve pouca repercussão no Brasil: em Porto Alegre houve três crianças nascidas com defeitos por uso de talidomida por parte da mãe. Não, nenhum médico prescreveu o medicamento a elas. Mas, parentes estavam em uso indicado do medicamento para lepra (dois casos ) e mieloma múltiplo. O texto completo pode ser solicitado à autora, Lavinia Schuler-Faccini (lavinia.faccini@ufrgs.br). Os autores propõem que nas áreas endêmicas de hanseníase haja vigilância de defeitos congênitos. Esse fato é mais um a favor do controle maior sobre a dispensação de medicamentos e, o hábito de se manter as famosas "farmácias domésticas".
Brazil births raise fresh thalidomide fears
By Andrew Jack in London and Jonathan Wheatley in Sao Paulo
Published: October 1 2007 23:31 Last updated: October 1 2007 23:31
At least three children in Brazil have been born with severe physical disabilities caused by thalidomide in the past two years, triggering fresh questions over the government’s continued authorisation of the drug 46 years after its initial withdrawal.
An article in the latest edition of the Birth Defects Research journal describes two births last year and one in 2005 that were identified through “coincidental random events”, and warns that total numbers are likely to be much higher
PS. somente à noite tive acesso a reportagem da Folha de S.Paulo, bem completa repercutindo a reportagem do The Financial Times. Abaixo, a versão do Ministério da Saúde divulgada nessa reportagem.(assinante clique aqui)
O aumento da prescrição da talidomida para outras doenças além da hanseníase, associado a uma "afrouxada" na vigilância do uso da droga, levou ao aparecimento de novos casos da síndrome. A avaliação é do próprio Ministério da Saúde, que pretende aumentar o rigor da utilização do remédio, distribuir material educativo sobre os perigos e mudar a embalagem do remédio e o termo de consentimento informado.A pasta também está financiando uma pesquisa para avaliar os casos de bebês que nascem com má-formações nas maternidades brasileiras para saber se há casos subnotificados da síndrome, como suspeitam os pesquisadores.Segundo Maria Leide Wan-Del-Rey, coordenadora do programa de controle de hanseníase do ministério, em pelo menos dois casos recentes de crianças nascidas com a síndrome, possivelmente, as gestantes tomaram o remédio com a intenção de abortar."A caixa do remédio traz uma ilustração de uma grávida com risco na barriga, que quer dizer que ele não deve ser tomado por grávidas. Mas, por ignorância, as mulheres pensam que o remédio é abortivo. Temos que mudar a embalagem."Ela afirma que a preocupação é grande porque, nos próximos anos, deve aumentar a indicação da talidomida para outros fins. "A talidomida é um medicamento fantástico, barato, com poucos efeitos adversos e bem tolerado pela pessoa que toma dentro do que está previsto na legislação. Só tem que ter muito cuidado."Hoje, o remédio é fabricado por um laboratório do governo federal. O paciente com hanseníase, por exemplo, recebe o remédio a cada 30 dias. Apesar de haver uma portaria que proíbe a mulher em idade fértil de receber a droga, ela prevê o uso em casos excepcionais, desde que a mulher utilize dois métodos anticoncepcionais, sendo que um deve ser injetável e aplicado na unidade de saúde.Segundo a coordenadora, outra preocupação do ministério é com a talidomida contrabandeada que pode chegar ao Brasil. "Temos um total controle na fabricação, mas há outros fabricantes de talidomida no mundo e vai ser difícil controlá-la. As pessoas podem comprar desses laboratórios." (CC)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Uma velha história e o "relatório" da ONU

Nossa ciência contribuiu muito para o conhecimento da doença de Chagas, desde claro a sua descrição por aquele que foi honrado com um dos poucos epônimos ainda existentes na medicina. João Carlos Pinto Dias desenvolveu em Bambuí (MG), o seguimento de pacientes que trouxe muitos ensinamentos da doença como também do método de seguimento prospectivo. As escolas paulistas em Ribeirão Preto e São Paulo inovaram no tratamento cirúrgico. Agora em Goiás seguimento da cardiopatia chagásica permitiu publicação no The New England Journal of Medicine. Porém, houve época que existia tantos outros " pesquisadores dedicados à doença de Chagas", que um já falecido professor afirmou "hoje, há mais gente vivendo do que morrendo da doença de Chagas!"
Bem, tudo isso para comentar o "relatório" da ONU falando em 1% dos homicídios do mundo ocorrendo em São Paulo. Os dados são de 2003 ou de 1999, não fica claro. Quando há informação de 2007! A fonte é reportagem do jornal La Nácion!
Há um bom tempo, os ongueiros da violência omitem descaradamente a redução dos homicídios em São Paulo (e, pasmem no Rio de Janeiro) porque afinal interessa muito manter a ordenha da vaca de ouro dos financiamentos na área de violência. Logo aparece, um novo edital do Ministério da Justiça, depois um financiamento de algum organismo internacional etc etc. Claro, que sempre em São Paulo ou Rio. Nada de se locomover ao interior da Amazônia ou Nordeste. Nada de apoiar a iniciativa Pacto pela Vida do governador de Pernambuco, o primeiro a assumir o problema da violência sem subterfúgios. Nada de fustigar o governador Aécio Neves e, o recorde de homicídios em Belo Horizonte. Melhor, fazer relatórios em São Paulo e palestras no Rio de Janeiro, com uma "escapada" para o exterior para "denunciar as mazelas".
Logo, logo o espírito do velho professor descerá em algum pano branco para afirmar: há mais gente vivendo da violência do que morrendo por ela!
Ah, em breve mais um "mapa da violência" !!!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Aumenta o custo, reduz a cobertura: o dilema americano

The Wall Stret Journal (clique aqui) traz reportagem depois da greve da General Motors onde o pagamento do seguro-saúde foi pauta importante. O número de empresas que cobrem seguro-saúde caiu recentemente de 69% para 60%.

A relação com o custo da assistência médica é direta como observada no gráfico que ilustra a materia.

Por isso, o tema "seguro-saúde" é o tema que mais mobiliza o precoce debate eleitoral americano.