quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Em recesso, mas atento: a mística de 1968

Muito bom o texto de Élio Gáspari na Folha de S. Paulo (26/12/2007) sobre os acontecimentos de 1968. (assinante da Folha, clique aqui). Um trecho segue a a seguir: A brutalidade da ditadura militar cobriu com um manto sagrado a natureza autoritária dos projetos de quase toda a esquerda brasileira.Passado o tempo, essas militâncias são explicadas a partir da idéia de que aquela foi uma geração que correu atrás de um sonho. Tudo bem, pois ninguém pode discutir com uma pessoa que teve um sonho há 40 anos.A sacralização do 1968 brasileiro tem seu melhor momento na gloriosa passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro, na tarde de 26 de junho de 1968. É pena, mas por mais que ela tenha assustado os generais, foi outro fato quem levou todas as águas do São Francisco para a moenda da ditadura escancarada. Naquela madrugada, um comando da VPR jogara um veículo com explosivos contra o portão do QG do 2º Exército, em São Paulo, matando o sentinela Mário Kozel Filho.No Brasil, 1968 foi o ano de um terrível desencontro provocado pela radicalização política. Talvez não pudesse ser evitado mas, ao contrário de 1989, teria sido melhor que não tivesse existido.
Em outubro, esse blogue em Os vitimizados de 68 já acordaram advertia sobre o porre que será no próximo ano, a louvação ao ano de 1968.
Domingo, 7 de Outubro de 2007
Os vitimizados de 68 já acordaram
Pensei que iria comentar sobre o risco do "ataque de vitimização da geração 68" somente em janeiro, talvez fevereiro de 2008. Mas, começou com o Che, agora no Estadão, o fótografo da passeata dos cem mil está procurando onde estão os participantes. Haja paciência, simplesmente muita paciência com esses mimados com sessenta anos de idade. Essa geração clama ao mesmo tempo os créditos por heroísmo e a recompensa por vítimas. Os eventos de 68 foram somente fotográficos (quantas vezes veremos a foto do carro queimado na Ipiranga com São João ou a briga da Maria Antônia no próximo ano?) mas pouco efetivos em termos de ganhos. Não há como negar a guerrilha urbana e rural foi uma enorme irresponsabilidade que ceifou vidas e justificou o que existia de pior no estamento militar. Quando da promulgação do AI-5 em dezembro, várias organizações "saudaram o fato", porque assim a "ditadura mostrava a sua real face".
Os acontecimentos de 1977 - nos quais participei ativamente - tinham objetivos como anistia, amplas liberdades democráticas e convocação de uma assembléia constituinte. Ganhamos o jogo.
A repressão ao movimento em 77 como a invasão das Faculdades de Medicina da UFMG e USP e da PUC não mereceram nenhuma reportagem. No caso da PUC, mesmo as vítimas reais (queimaduras graves) não se portaram como "vítimas".
Voltando ao fotógrafo de 68, aposto que o número de presentes na passeata dos cem mil chegará a um milhão! Vários com certeza vão entrar com pedidos de indenização ou semelhante.

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