quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Os riscos da tomografia computadorizada

No The New England Journal of Medicine, o artigo Computed Tomography — An Increasing Source of Radiation Exposure de David J. Brenner e Eric J. Hall cujas conclusões apresento abaixo.
Conclusions
The widespread use of CT represents probably the single most important advance in diagnostic radiology. However, as compared with plain-film radiography, CT involves much higher doses of radiation, resulting in a marked increase in radiation exposure in the population.
The increase in CT use and in the CT-derived radiation dose in the population is occurring just as our understanding of the carcinogenic potential of low doses of x-ray radiation has improved substantially, particularly for children. This improved confidence in our understanding of the lifetime cancer risks from low doses of ionizing radiation has come about largely because of the length of follow-up of the atomic-bomb survivors — now more than 50 years — and because of the consistency of the risk estimates with those from other large-scale epidemiologic studies. These considerations suggest that the estimated risks associated with CT are not hypothetical — that is, they are not based on models or major extrapolations in dose. Rather, they are based directly on measured excess radiation-related cancer rates among adults and children who in the past were exposed to the same range of organ doses as those delivered during CT studies.
In light of these considerations, and despite the fact that most diagnostic CT scans are associated with very favorable ratios of benefit to risk, there is a strong case to be made that too many CT studies are being performed in the United States. There is a considerable literature questioning the use of CT, or the use of multiple CT scans, in a variety of contexts, including management of blunt trauma, seizures,
and chronic headaches, and particularly questioning its use as a primary diagnostic tool for acute appendicitis in children. But beyond these clinical issues, a problem arises when CT scans are requested in the practice of defensive medicine, or when a CT scan, justified in itself, is repeated as the patient passes through the medical system, often simply because of a lack of communication. Tellingly, a straw poll of pediatric radiologists suggested that perhaps one third of CT studies could be replaced by alternative approaches or not performed at all.
Part of the issue is that physicians often view CT studies in the same light as other radiologic procedures, even though radiation doses are typically much higher with CT than with other radiologic procedures. In a recent survey of radiologists and emergency-room physicians,
about 75% of the entire group significantly underestimated the radiation dose from a CT scan, and 53% of radiologists and 91% of emergency-room physicians did not believe that CT scans increased the lifetime risk of cancer. In the light of these findings, the pamphlet "Radiation Risks and Pediatric Computed Tomography (CT): A Guide for Health Care Providers," which was recently circulated among the medical community by the National Cancer Institute and the Society for Pediatric Radiology, is most welcome.
There are three ways to reduce the overall radiation dose from CT in the population. The first is to reduce the CT-related dose in individual patients. The automatic exposure-control option
on the latest generation of scanners is helping to address this concern. The second is to replace CT use, when practical, with other options, such as ultrasonography and magnetic resonance imaging (MRI). We have already mentioned the issue of CT versus ultrasonography for the diagnosis of appendicitis. Although the cost of MRI is decreasing, making it more competitive with CT, there are not many common imaging scenarios in which MRI can simply replace CT, although this substitution has been suggested for the imaging of liver disease.
The third and most effective way to reduce the population dose from CT is simply to decrease the number of CT studies that are prescribed. From an individual standpoint, when a CT scan is justified by medical need, the associated risk is small relative to the diagnostic information obtained. However, if it is true that about one third of all CT scans are not justified by medical need, and it appears to be likely,
perhaps 20 million adults and, crucially, more than 1 million children per year in the United States are being irradiated unnecessarily

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Maurício Lima Barreto, Editor do JECH

O professor Maurício Lima Barreto foi indicado pelo BMJ Group- após seleção disputada - editor do Journal of Epidemiology and Community Health. Um dos melhores periódicos de saúde coletiva do planeta. Parabéns a Maurício, a Estela - incansável companheira, às duas meninas, à imensa família Barreto (vai ter buchada!), ao Instituto de Saúde Coletiva (ISC), à Universidade Federal da Bahia (dirigida agora por Naomar Almeida, também fundador do ISC como Maurício e, seu primeiro diretor) e todos que colaboram nessa conquista, que como sempre decorre da competência e tenacidade de um indivíduo, cujo memorial na base lattes pode ser acessado livremente. (clique aqui)
foto: Agência Fapesp

terça-feira, 27 de novembro de 2007

IDH: o problema é a estatística alheia

Acabei de ler a notícia no UOL: O Brasil entrou pela primeira vez para o grupo de países de "alto desenvolvimento humano" no ranking elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado nesta terça-feira em Brasília. De acordo com o relatório da ONU, o Brasil atingiu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,800, em uma escala de 0 a 1. Países com índice inferior a 0,800 são considerados de "médio desenvolvimento humano", categoria na qual o Brasil figurava desde 1990, quando o PNUD começou a divulgar o ranking.
Não li as repercussões, mas imagino que todos os espectros da blogosfera irão vociferar, exceto o site "voz do brasil". Eu já corri um pouco opaís e esse planeta e, para mim a septuagésima posição é ainda reflexo de problemas estatísticos (falseamentos) que são sistemáticos em outros países. Aqui temos uma tradição das melhores, graças à tradição entre outras instituições, o IBGE.
Ditaduras não deveriam ser incluídas, porque seus dados não são confiáveis. O mesmo vale para países semi-democráticos, como os do Leste Europeu e, os membros da OPEP. O Brasil encontra-se em posição muito mais favorável em termos de desenvolvimento humano do que vários do que nos antecede nessa lista.
Aos pessimistas de plantão, o blog está oferecendo bolsas de estudo (na moeda local) com passagem somente de ida para Albânia, Belarus, Cuba, Líbia, Quatar, Panamá e Romênia. Todos países melhor classificados do que o Brasil.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Os bastidores de um ótimo artigo científico: a segurança das estatinas e o mercado americano OTC

Quinta-feira à noite é publicado no The Lancet uma revisão excelente mostrando que as estatinas são muito seguras, mas como pouco destaque para a efetividade desse grupo de medicamento. Confesso que não entendi o desbalanço dessa revisão, mas fui convencido que o medicamento deve ser amplamente comercializado no Brasil. Tanto que no domingo, eu recomendei nesse blogue que as estatinas façam parte do rol do programa Farmácia Popular. Além disso, já há genéricos da lovastatina, pravastatina e lovastatina no mercado brasileiro. Segunda-feira, à noite, compreendi a preocupação com a segurança das estatinas expressa no referido artigo. Publicou-se a notícia que a Glaxo Smith Kline (britânica como The Lancet) comprou os direitos da lovastatina nos Estados Unidos para venda livre de receita. O FDA não aprovou o uso sem receita (OTC, over the counter) por causa dos riscos do uso indevido do medicamento, principalmente lesões musculares e hepáticas. A recusa ocorreu em duas oportunidades, mas no Reino Unido há permissão para venda sem receita. Ou seja, há uma possibilidade maior de aprovação para venda OTC.
Como se pode deduzir, as decisões editorias do The Lancet são bem independentes e, desligadas de qualquer interesse empresarial.

Glaxo Gets Rights to Sell ProposedOver-the-Counter Cholesterol Drug
By JEANNE WHALENNovember 26, 2007 3:28 p.m.
GlaxoSmithKline PLC acquired the rights to sell a cholesterol-lowering drug without a prescription in the U.S. but could face a tough time winning Food and Drug Administration approval to actually sell the product.
Glaxo said Monday that it has bought the marketing rights to the drug Mevacor from
Merck & Co. for an undisclosed sum. Despite two past attempts, Merck has so far been unable to get the FDA to approve Mevacor for sale without a prescription.
Selling a cholesterol-lowering drug without a prescription could potentially be big business for Glaxo. The drugs, known as statins, are available only by prescription in the U.S. today and are among the industry's top sellers. The drugs racked up U.S. sales of $21.6 billion last year, according to IMS Health, a healthcare research firm. An FDA advisory panel is scheduled to meet Dec. 13 to consider Merck's most recent application to sell Mevacor without a prescription. A Merck spokesman said the company plans to present new data addressing earlier concerns that consumers wouldn't take the drug correctly. Merck will handle that FDA meeting, but Glaxo will take over marketing of the drug should the FDA grant approval, the Merck spokesman said. Merck will receive royalty payments on any sales, he said. The company's decision to sell the rights does not reflect any concern that OTC Mevacor won't be approved. "We're optimistic," he said.The FDA's rejection of Mevacor goes back to 2000, when it rejected an application by Merck to sell a weaker version of the drug without a prescription. In 2005, the FDA again rejected an application for over-the-counter Mevacor, this time filed by Merck and former partner Johnson & Johnson, after advisers to the FDA expressed concern that consumers would use the drug incorrectly.
In 2004, the U.K. approved for sale a non-prescription version of the statin Zocor, which is sold by a joint venture between Merck and Johnson & Johnson—and is similar to Mevacor. When they started selling the drug, the companies estimated that the market for an OTC statin was about £600 million ($1.25 billion) in the U.K. alone.
Merck began selling prescription Mevacor in 1987. The U.S. patent for the drug expired in 2001

Homicídios: Nova Iorque, Rio de Janeiro e São Paulo

Bem, continuando o texto publicado na Folha de S.Paulo, por Alba Zaluar, que afirma que a experiência do criminólogos americanos indica que o homicídio é o indicador de violência menos influenciável pelo policiamento. Ela traz de volta a questão do crack tanto nos EUA como no Brasil como sendo o determinante maior da epidemia de homicídio, uma hipótese muito plausível. Abaixo, o texto

E no Brasil, como estamos? Mal. É verdade que a epidemia de crack também se abateu sobre as cidades do Sudeste, a região mais rica do país, em diferentes momentos e ritmos. No Rio de Janeiro, em 1998 morreram assassinadas 2.406 pessoas, das quais 94% eram homens. Destes, 29% eram brancos, 13% negros e 42% pardos. Em 2005, nos últimos dados disponíveis no Ministério da Saúde, foram 2.044 homicídios, dos quais 95% de homens, 30% brancos, 17% negros e 52% pardos. Uma suada diminuição de 15%. Na taxa de homicídio entre homens de 15 a 39 anos, a queda naquela cidade foi de 20%. No mesmo período, essa taxa de homicídio em São Paulo diminuiu 55%. Em Belo Horizonte, ao contrário, a taxa subiu 230%. Em parte porque as epidemias da cocaína e do crack não foram simultâneas; em parte pelas diferentes estratégias adotadas pelas polícias em cada estado. De todo modo, a queda registrada ainda é muito pouca diante dos extraordinários números de assassinatos nas três cidades mais ricas do país.

Um momento! se, em Nova Iorque a queda foi de 81% de 1990 até 18/11/2007, não é justo afirmar que a queda do Rio de Janeiro de 15% é "suada" entre 1998 e 2005. Simplesmente, não dá para comparar. O mesmo vale para o que ocorre em São Paulo. A queda de 55% em sete anos é muito expressiva, talvez superior ao observado em Nova Iorque.

Outro comentário: a autora reconhece que diferenças entre as três cidades brasileiras (SamPa, Rio, BH) deve-se também a "diferentes estratégias adotadas pelas polícias em cada estado", ou seja o policiamento conta.
Uma picuinha, pela primeira vez na grande imprensa há informação do aumento dos homicídios em BH, que já mostrei superaram as taxas do Rio de Janeiro em 2005. A aliança tucano-petista mineira ignora o problema.
Finalmente, encerrando meus comentários. Os cientistas sociais precisam acreditar que polícia pode e deve ser forma de administração da democracia e, não um "aparato repressivo da burguesia" como gostam de repetir frases dos surrados (e, mal traduzidos) textos do final do século XIX.

Homicídios em Nova Iorque: queda de 400% ?

De, Alba Zaluar - uma das acadêmicas mais produtivas e competentes na área de violência (leiam o texto "8 pontos para debate", por exemplo) - a prova que o erro pode estar presente até em textos de abalizados intelectuais. Detesto corrigir , mas essa afirmativa foi muito forte, nem o marqueteiro Rudy Guiliani endosssaria. Abaixo, trecho do artigo na Folha de S. Paulo.
Que guerra é essa?
O HOMICÍDIO É O CRIME menos suprimível pela polícia, concluem criminólogos e policiais na cidade de Nova York. Ali se comemora a contínua queda do número de homicídios desde o início dos anos 90, após a severa alta provocada pela epidemia de crack nos anos 1980. Em 1990, a cidade registrava o número mais alto de assassinatos em um ano -2.245-, quando predominava a violência entre estranhos. Em 2007, até 18 de novembro, foram mortas 428 pessoas, ou seja, a queda foi de mais de 400%. E agora se pergunta: o que fazer para manter a façanha?
A queda não foi 400%, mas 81%. ((2245-428)/2245)) Uma conta, simples, mas que começou com o ataque à logica que se consagrou na imprensa brasileira : a tal expressão "cinco vezes menos recursos no orçamento", quando o correto é "um quinto do orçamento anterior".

domingo, 25 de novembro de 2007

Estatinas no programa "Farmácia Popular já!"

The Lancet apresenta um revisão excelente sobre as estatinas.(infelizmente, somente para assinantes) Medicamentos para redução do colesterol, cuja ação na redução de eventos cardiovasculares suplanta aquele obtido na diminuição dos lípides séricos. A primeira geração das estatinas - lovastatina, simvastatina e pravastatina - já estão disponíveis na formulação de medicamentos genéricos. O primeiro estudo que mostrou utilidade dessa classe de medicamentos foi em 1995, o 4S ( The Scandinavian Simvastatin Survival Study Group. Randomised trial of cholesterol lowering in 4444 patients with coronary heart disease: the Scandinavian Simvastatin SurvivalStudy (4S). Lancet 1994; 344: 1383–9.) destinado a quem já tinha doença coronariana. Posteriormente, outros estudos foram mostrando que as estatinas vieram para ficar no arsenal terapêutico da aterosclerose. Aqui, no Brasil as estatinas de primeira geração poderiam ser incorporadas de imediato no programa Farmácia Popular com preços reduzidíssimos.

sábado, 24 de novembro de 2007

Programa antitabágico: aumentar o imposto (IPI) do cigarro

Após avanços na última década, o programa antitabágico perdeu o foco, ou melhor, deixou de ser interessante para efeitos midiáticos. Melhor, discutir descriminação da maconha ou o aborto ou mesmo a obesidade infantil. Apesar de reduções importantes na prevalência, a magnitude do problema é maior do que das três situações acima somadas. Veja divulgou estudo pouco conhecido feito entre outros por Vera Costa e Silva, uma das responsáveis pelo sucesso do plano brasileiro no início dos anos 90. Abaixo, trecho da reportagem.
O programa brasileiro de combate ao cigarro colecionou uma série de avanços ao longo das últimas duas décadas. O país foi o primeiro no mundo a proibir, nas embalagens, o uso de palavras que poderiam levar o consumidor a uma falsa idéia de segurança. Eram termos como "light" e "baixos teores". Também se destacou por fazer constar nos maços fotografias pavorosas sobre os males do fumo à saúde. Foram os primeiros passos de uma campanha que teve no banimento da propaganda do tabaco seu ponto forte. Nos primeiros sete anos conseguiu reduzir o consumo per capita de cigarros em 33,6%. Com medidas e resultados assim, o programa, criado em 1987, deu ao país uma posição de liderança na luta contra o tabagismo. Mas as notícias agora já não são tão animadoras. Ao completar duas décadas, acaba de sair do forno a primeira grande avaliação sobre sua eficácia. Um estudo do Banco Mundial, ao qual VEJA teve acesso com exclusividade, concluiu que o programa empacou. Desde 1994 ele não produz nenhum impacto significativo. O consumo per capita naquele ano era de 1.220 unidades e hoje se encontra em 1 200 . Pior, nada indica que será reduzido. A estagnação é preocupante. O tabaco é responsável por 200 000 mortes por ano no Brasil. Para vencer essa guerra, serão necessárias armas mais poderosas. A estratégia sugerida pelo estudo é mirar diretamente o bolso dos fumantes.
Nos anos 90, o maço de cigarros populares custava, em média, 2,45 reais. Hoje está em torno de 2,27 reais. Os pesquisadores perceberam que a queda do preço se deu em razão da redução do peso do imposto sobre produtos industrializados (IPI) no preço do cigarro. Nos anos 90, ele representava 41% do preço final do maço. Atualmente, equivale a 20%. (
assinante de Veja, clique aqui)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Vasectomias e esterilização: finalmente um pouco de inteligência

A Agência Nacional de Saúde Suplementar acertou com as operadoras a cobertura de vasectomia, esterilização tubárea e planejamento familiar. Nada mais certo e atrasado. Trata-se de um burrice. Vejam agora, a declaração do presidente da ABRAMGE na Folha de S. Paulo:
O presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo), Arlindo Almeida, afirmou que a inclusão de novos procedimentos "vai ter um impacto financeiro e influir nos preços dos planos"."Os cálculos ainda serão feitos, mas a previsão inicial é de que o impacto será de cerca de 10%." Almeida aponta a queda de abortos clandestinos como um benefícios para as próprias operadoras, o que pode suavizar o "impacto financeiro"."É louvável em certos aspectos, pois pratica medicina de planejamento. Com isso evita muitos abortos. As operadores têm um custo alto com as conseqüências destes procedimentos. A longo prazo, pode-se dizer que pode até ter uma vantagem [para as empresas]."
Há tempos que médicos clamam que esses procedimentos são lucrativos a longo prazo para as próprias operadoras.

Novartis em Pernambuco

Finalmente uma boa notícia da Big Pharma. A Novartis instalará planta industrial em Goiana, Pernambuco para produzir e exportar vacinas para meningite. Segundo, Valor Econômico será uma das poucas empresas do complexo industrial saúde que exportará mais do que importará. Pena que o site da empresa não explica nada.

A queda dos homicídios em São Paulo: enfim um pouco de lucidez

A Folha de S.Paulo traz hoje um artigo muito bom do já famoso coronel José Vicente. O título é ótimo: mais polícia e mais escola. Abaixo, trecho do artigo.
"O sr. Sérgio Salomão Shecaira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, argumenta ("Tendências/Debates", 30/ 10) que, além do esforço policial diferenciado, o fenômeno paulista se deveu também a outros fatores, como a recuperação do emprego e a retomada econômica. É curioso que esses fatores também tenham ocorrido em outras capitais sem que semelhantes resultados aparecessem. Em Porto Alegre, por exemplo, cidade com exuberantes programas sociais, os homicídios cresceram 16% no primeiro semestre, enquanto, na capital paulista, houve queda de 28%. O que fez diferença em São Paulo foi o sucesso na organização e na gestão do aparato policial, que quebrou o ciclo da violência e intimidou os criminosos após prender mais de 700 mil deles em sete anos. Nem o governo federal, nem os intelectuais, nem os tucanos reconhecem esse fato. Dois grandes entraves ideológicos prejudicam sistematicamente as medidas de redução da violência no país. Um deles é a mania de pensar o criminoso como vítima da pobreza e da injustiça da sociedade, concedendo-lhe, em decorrência, uma profusão de benefícios absurdos, como visita íntima nas prisões, liberdade provisória para autores de crimes hediondos, volta às ruas dos bandidos após cumprir um sexto da pena, ou considerando cruel e desumano o isolamento em cela individual dos piores criminosos. A pobreza não é fator criminógeno tão poderoso quanto a impunidade, cujo maior exemplo é o escárnio do criminoso paraibano Ronaldo Cunha Lima. Pobres, ricos, pretos, brancos, eleitos e eleitores cometerão menos crimes se forem intimidados por ações competentes e ágeis da polícia e da Justiça. Outro entrave é a descrença na capacidade do aparato policial, judicial e prisional de impor freios aos criminosos e reduzir a violência. ( clique aqui)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um limite para a judicialização da assistência médica (nos EUA)

Mitt Romney, ex governador de Massachusetts, candidato a presidente dos EUA pelo Partido Republicano tem uma proposta melhor do que o do partido dele, mas inferior ao dos democratas para aumentar o acesso à assistência médica. Devido a isso, resolveu atacar um outro problema sério: os processos por má prática médica, uma praga que enriquece advogados e, torna a medicina como um todo defensiva, com custos elevados. (abaixo parte de reportagem da AP).
Aqui, essa praga não pegou porque médicos e hospitais não são tão ricos assim para compensar a "indústria do processo". Porém, temos outro problema sério na judicialização: os processos para aquisição de medicamentos de alto custo. Mas, isso é assunto para outro momento.
Romney: Cap Medical Malpractice Lawsuits
By DAVID PITT – 1 day ago DES MOINES, Iowa (AP) — Republican presidential candidate Mitt Romney on Tuesday called for placing a cap on medical malpractice lawsuits, a point that drew loud applause at an Iowa medical school. Romney focused on health care in an address to some 500 students and faculty at Des Moines University. As governor of Massachusetts,
"I believe we have to enact federal caps on non-economic and punitive damages related to malpractice," Romney said. "These lottery-sized awards and frivolous lawsuits may enrich the trial lawyers but they put a heavy burden on doctors, hospitals and, of course through defensive medicine, they put a burden on the entire health care system." Romney also would encourage states to create health courts with judges experienced in handling medical liability cases and would ask states to adopt sanctions against lawyers and others who repeatedly file frivolous malpractice claims. "We've got to reign in the incessant cost of medical liability," he said.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Eleitorado americano quer mudanças no sistema de cobertura universal de saúde e mais gastos

The New England Journal of Medicine (acesso livre) debate o que se passará nos Estados Unidos depois da eleição presidencial, onde o tema "assistência médica " será o mais importante - como esse blogue insiste há mais de um ano - depois da questão Iraque.
A figura ao lado, reproduzida desse artigo, é o resultado de pesquisa da Kaiser Foundation, uma medicina de grupo da costa oeste americana. Essa enquete mostrou que mais da metade do eleitorado quer mudanças profundas.
A conclusão do artigo é uma síntese genial desse debate genuinamente americano sobre assistência médica.
The 2008 presidential election will not resolve the debate over health care reform, but the results will go a long way toward determining the future of U.S. health policy. It would be a mistake, however, to read the candidates' plans too literally. A plan offered during the primaries usually looks different in key respects from the plan that a newly elected president takes to Congress, to say nothing of any legislation that Congress actually passes. Still, it is clear that there is a wide partisan gap on health care reform that reflects ideological divisions over the roles that government and market forces should play in the health care system. And the further U.S. health policy moves from incrementalism, the more that partisan divide is likely to be exposed.

Autoria fantasma: reproduzido sem comentário do blogue do The Wall Street Journal

Odd Ghostwriting Offer Raises Researcher’s Blood Pressure Posted by Jacob Goldstein (blogueiro do The Walt Street Journal; a figura foi adicionada por mim)
Cornell researcher
Jean E. Sealey was a bit surprised — and eventually outraged — by an email she received on Nov. 12 from an employee of Medicus International, a London-based consultant that helps drug companies publish research on their drugs.
The email asked whether Sealey would be interested in authoring an abstract article for an upcoming meeting of the
American Society of Hypertension. The article would discuss research on nebivolol, a high blood pressure drug from Forest Laboratories, and the “effects of nebivolol in men versus women.”
Sealey, professor emerita of physiology and biophysics in medicine at the Weill Cornell Medical College, is a well-known expert in hypertension. But she was being asked to author a report on research she hadn’t conducted. In fact, she had never heard of the drug until receiving the email pitch.
To Sealey, it appears the company was shopping for a name to slap on the cover of internal drug company research. “I was totally perplexed,” she says. “I surmised they wanted a name and maybe a woman because they were going to compare the drug in men versus women.”
The email indicates the abstract would have to be submitted by Nov. 19 — just a week later. But the email assured Sealey that she wouldn’t have to do much work. “We can draft the abstract, offer our editorial support in developing the content of the abstract and help with the submission process on your behalf,” wrote Liz Burtally, who identifies herself in the email as a medical writer “for the nebivolol team working with Forest Laboratories.” Burtally sent another email on Nov. 13, and called Sealey the next day. Sealey asked a lot of questions. Would she be the only author? Yes, she says she was told. When Sealey asked if she would have access to the raw data, the phone went dead. Burtally never called or emailed again. The Health Blog called Burtally, who says she didn’t hang up on Sealey, but confirmed the call was cut off. She said Forest Labs had recommended Sealey for the authorship. Asked if it was common to ask someone to author an article on research they hadn’t conducted, she said “no, not really.” When told it appeared the company was offering to ghost write the abstract for Sealey, Burtally said she wasn’t sure what to call the proposed arrangement. She did say Forest wasn’t going to go forward with the planned abstract. A Forest spokesman said the abstract idea pitched to Sealey was for a sub analysis of data from already published studies. Under that circumstance, he said, the offer met guidelines established by the international association of medical journal articles. The Food and Drug Administration, meanwhile, is expected to make a decision by the end of the month on an application from Forest to sell nebivolol in the U.S

Variações temporais do suicídio

Ao lado encontra-se figura do artigo original Sunshine and suicide at the tropic of Capricorn, São Paulo, Brazil, 1996–2004 de autoria de Kennedy Nejar, Isabela Benseñor e Paulo Lotufo. Encontra-se disponível no site da Revista de Saúde Pública (acesso livre). O abstract segue abaixo:
Several studies have confirmed seasonal variation in suicide rates according to hours of sunshine. The suicide pattern was assessed in São Paulo, southeastern Brazil, at the tropic of Capricorn from 1996 to 2004. Poisson regression was employed to estimate parameters of seasonality, as well as to verify associations for each day between daylight duration and suicide. During the nine-year study period, there were 3,984 suicides (76.9% in men; median age=38.7 years old). Seasonal averages of suicides were similar, as were monthly averages. Poisson regression did not reveal any association between suicide rates and hours of sunshine (p=0.45) for both sexes. In conclusion, no seasonal pattern was observed for suicides.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Doença Cerebrovascular mata mais preto, depois pardos em São Paulo

A figura ao lado foi publicado nos Arq NeuroPsi (acesso livre) em artigo de minha autoria. Ele mostra a diferença por sexo das taxas de mortalidade pela doença cerebrovascular em São Paulo. Considerando as mulheres brancas (menor taxa) como padrão há 60% a mais de chance do homem branco na mesma idade morrer da doença. A mulher parda tem 40% a mais de risco, o homem pardo 90%, a mulher preta 100% e o homem negro 130%. Com esses dados quem continuar a afirmar que "negro morre de violência, branco de doença" está mal informado ou é racista, mesmo.

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (o fato)

O artigo que foi manchete da Folha de S.Paulo traz afirmativas, no mínimo, confusas. Não vou discutir que o perfil de mortalidade dos pretos é diferente dos pardos. Basta verificar os dados que os autores utilizaram os autores que motivou a matéria: o Datasus referente ao ano de 2005. Mas, vamos ficar somente na manchete do jornal.
Entre os classificados como pretos e pardos houve 366.082 óbitos, sendo 95.909 por doenças cardiovasculares, 62.095 por causas externas e 42510 por câncer. Ora, 95 mil é maior do que 62 mil, logo a afirmação não vale para ambos os sexos. Talvez, para o masculino. Mas, a má interpretação já foi feita. Quando se analisa, somente os homens, houve 54.073 mortes por causa externa e, 51.861 pelas doenças cardiovasculares. Mas, como a própria reportagem relatou há uma enormidade de óbitos mal definidos (quase sempre doença, raramente violência) entre os negros, revelando - concordo integralmente - um diferencial na qualidade da assistência médica. Ou seja, o risco maior dos negros é de morrer de doença cardiovascular e, não de violência.
Entro agora no título provocativo: "inocente útil". Os pretensos defensores da raça negra ao apresentar um dado - errado - permitiram que o jornalista fizesse um manchete que traz mais problema do que solução:"negros morrem de violência, brancos de doença". Isso é mentira! Negros têm maior risco de morrer seja de violência ou de doença. Precisam de acesso a unidades básicas de saúde, hospitais regionais e hospitais especializados. Precisam de cateterismo, transplante, quimioterapia etc etc etc
Esse discurso é a volta das do discurso "doenças de rico e doenças de pobre", agora "doenças de branco e doenças de negro".
Isso é retrocesso! A carga da doenças e dos agravos com violência se distribuem desigualmente na sociedade, afetando mais aqueles com menor capacidade de defesa social. Entre eles, pretos e pardos.

O inocentes úteis e o artigo escondido.

Esse artigo foi manchete da Folha de S.Paulo, no próximo post, explico os erros sérios apresentados no artigo. O texto não foi encontrado por mim utilizando PubMed, Scopus, Scielo, Google Schollar. Repete-se o mesmo com o trabalho da FGV sobre aborto e criminalidades. Não está publicado, mas já rende manchete. Acadêmicos podem e devem utilizar a imprensa, mas somente com artigos (livros, artigos originais, apresentação em congressos) que possam ser lidos e comentados pelos outros.

Violência é a maior causa de mortes entre homens negros
Principais causas de mortalidade de homens negros são externas, como homicídios; brancos morrem mais de doenças, diz estudoDe 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34; entre os negros, aumentou de 52 para 61
ANTÔNIO GOISDA SUCURSAL DO RIO A desigualdade racial brasileira, já bastante dissecada a partir de indicadores de renda e escolaridade, pode também ser constatada pelo padrão de mortalidade de cada grupo. Entre os homens negros, a principal causa de mortalidade foram as externas (homicídios, acidentes e outras razões não-naturais). Entre os brancos, essas causas são o terceiro item mais comum, atrás das doenças do aparelho circulatório e das neoplasias (tumores).Além de negros -somatório de pretos e pardos no estudo- e brancos apresentarem padrão de mortalidade diferente em 2005, estudo dos pesquisadores Marcelo Paixão e Luiz Carvano, da UFRJ e do Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais, mostra que, desde 99, cresce a desigualdade entre os dois grupos quando se comparam as taxas de mortalidade por homicídios, HIV, tuberculose e problemas no parto.Em alguns casos, essa desigualdade cresceu porque houve melhoria dos índices entre brancos e piora entre os negros. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os homicídios. De 1999 a 2005, a taxa de assassinatos por 100 mil homens brancos caiu de 36 para 34 mortes. No mesmo período, a mesma taxa entre os homens negros aumentou de 52 para 61 por 100 mil.O estudo mostra que esse padrão de aumento da desigualdade aconteceu mesmo de 2003 para 2005. Nesse período, as taxas em ambos os grupos caíram, mas a queda foi mais intensa entre os brancos.Ao trabalhar com os microdados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do DataSus, Paixão e Carvano mostram ainda que, se é verdade que homicídios vitimam mais os negros, também é verdade que os acidentes de trânsito matam mais os brancos: a taxa entre pessoas brancas em 2005 foi de 20,8 mortes por 100 mil habitantes. Entre as negras, ficou em 17,1 por 100 mil.Especificamente quando se analisa os atropelamentos, os dados se invertem: 5,5 mortes por atropelamento por 100 mil habitantes, ante 5,1 mortes por 100 mil entre os brancos.No que diz respeito à mortalidade por HIV/Aids, os pesquisadores identificaram que o único grupo em que há redução de 1999 a 2005 é o de homens brancos. Nos demais (homens negros e mulheres brancas e negras), as taxas aumentaram.Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que, entre os negros, o percentual de mortes por causas mal definidas -um indicador de maior precariedade no atendimento médico- é muito maior. Entre mulheres, 15% das mortes em 2005 não foram definidas, percentual que cai para 8% entre brancas.Quando se compara a mortalidade por problemas no parto, novamente é verificada melhoria na razão de mortalidade das mulheres brancas, enquanto entre as negras as taxas pioram.RazõesA dificuldade nesse tipo de pesquisa, comparando as causas de morte entre negros e brancos no Brasil, é identificar o quanto desse diferencial é causado pela discriminação racial e o quanto é explicada por razões econômicas ou sociais. Ou seja, como os indicadores de pobreza e escolaridade são piores entre os negros, é de se esperar que eles tenham pior acesso aos serviços de saúde.Segundo Paixão, no caso dos homicídios, não há dúvida de que há um componente racial. "Nas demais causas de mortalidade, minha hipótese é: se vivem de forma diferente, logo, morrerão de forma diferente."No estudo, os pesquisadores afirmam que as razões das desigualdades precisam ser melhor estudadas: "Chamamos a atenção para a existência de causas de mortalidade que afetam de forma muito especial a população negra, em muitos casos tendo sido verificados aumentos nas desigualdades raciais em termos do número de afetados ou das razões de mortalidade".

Os inocentes úteis: agora, os racialistas (origem)

Durante um bom período, discuti muito com sanitaristas que faziam um diagnóstico errado do perfil epidemiológico brasileiro: pobre morreria de doenças infecciosas e ricos de doença cardiovascular e câncer. A lógica deles propiciava um arranjo profundamente injusto: saneamento para os pobres e excelentes hospitais para os ricos, vide o InCor. Demorou para perceberem que a lógica da desigualdade social atua em quase todos os aspectos do binômio saúde-doença. Em outras palavras, o risco de doença cardiovascular e câncer é maior entre os pobres do que nos ricos. Somente, doenças que surgiram de fora, como a aids, tinham um padrão inverso, agora a realidade é inversa: o risco do HIV é maior entre os pobres. Todos estudos empíricos mostram que hipertensão, diabetes, obesidade e tabagismo são mais prevalentes entre pobres do que entre ricos ou (utilizando outra forma de medida) então entre os com menor escolaridade comparado àqueles com diploma universitário.
Voltando aos anos 80: esse raciocínio impediu que a tecnologia de atendimento à doença cardíaca se espalhasse nos hospitais da periferia. Afinal, para que? Conclusão, hoje o risco de morrer de doença cardíaca nos moradores dos bairros mais pobres é o dobro quando comparado ao dos residentes nos bairros afluentes. Bem, e o racialismo? Fica para o post seguinte.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Vacinação obrigatória mesmo

A vacinação obrigatória faz parte da história da humanidade. Agora, nos Estados Unidos, o sistema escolar está obrigando os pais a manter seus filhos com a "vacina em dia". Aqui, seria interessante afrontar a pseudo-ciência e religião que "condena" a imunização. Abaixo, o relato da AP.
UPPER MARLBORO, Md. (AP) -- Scores of grumbling parents facing a threat of jail lined up at a courthouse Saturday to either prove that their school-age kids already had their required vaccinations or see that the youngsters submitted to the needle.
The get-tough policy in the Washington suburbs of Prince George's County was one of the strongest efforts made by any U.S. school system to ensure its youngsters receive their required immunizations.
Two months into the school year, school officials realized that more than 2,000 students in the county still didn't have the vaccinations they were supposed to have before attending class.
So Circuit Court Judge C. Philip Nichols ordered parents in a letter to appear at the courthouse Saturday and either get their children vaccinated on the spot or risk up to 10 days in jail. They could also provide proof of vaccination or an explanation why their kids didn't have them.
By about 8:30 a.m., the line of parents stretched outside the courthouse in the county on the east side of Washington.
Many of them complained that their children already were properly immunized but the school system had misplaced the records. They said efforts to get the paperwork straightened out had been futile.
"It was very intimidating," Territa Wooden of Largo said of the letter. She said she presented the paperwork at the courthouse Saturday and resolved the matter.
"I could be home asleep. My son had his shots," said Veinell Dickens of Upper Marlboro, who also blamed errant paperwork.
Aloma Martin of Fort Washington brought her children, Delontay and Taron, in 10th and 6th grade, for their hepatitis shots. She said she had been trying to get the vaccinations for more than a month, since the school system sent a warning letter. She had an appointment for Monday, but came to the courthouse to be safe.
"It was very heavy handed," she said of the county's action. "From that letter, it sounded like they were going to start putting us in jail."
School officials deemed the court action a success. School system spokesman John White said the number of children lacking vaccinations dropped from 2,300 at the time the judge sent the letter to about 1,100 Friday.
After Saturday's session, 172 more students were brought into compliance, including 101 students who received vaccinations at the courthouse and 71 whose records were updated.
That still left more than 900 students out of compliance with vaccination requirements, White said.
"Obviously, we still have some more work to do," he said.
Any children who still lack immunizations could be expelled. Their parents could then be brought up on truancy charges, which can result in a 10-day jail sentence for a first offense and 30 days for a second.
Prince George's State's Attorney Glenn Ivey couldn't say Saturday whether he would prosecute parents who fail to comply.
"We have to sit down with school and health services," he said. "We haven't ruled anything out. We need to figure out where we stand."
White said the school system, with about 132,000 students, has been trying for two years to get parents to comply with state law. That law allows children to skip vaccines if they have a medical or religious exemption. It was unclear how many medical or religious exemptions were involved.
Maryland, like all states, requires children to be immunized against several childhood illnesses including polio, mumps and measles. In recent years, it also has required that students up to high school age be vaccinated against hepatitis B and chicken pox.
Nichols said nobody actually came before him Saturday, but he was there if any parent asked to see him.
The judge noted the unhappy looks of some of the kids in line waiting for vaccinations.
"It's cute. It looks like their parents are dragging them to church," Nichols said.
Several organizations opposed to mass vaccinations demonstrated outside the courthouse. While the medical consensus is that vaccines are safe and effective, some people blame immunizations for a rise in autism and other medical problems.
"People should have a choice" in getting their children immunized, said Charles Frohman, representing a physicians' group opposed to vaccines.
© 2007 The Associated Press. All rights reserved.

domingo, 18 de novembro de 2007

O consumo de benzodiazepínico: repórter compra receita

O Estado de S. Paulo relata pesquisa do CEBRID sobre o uso de benzodiapínicos no Brasil, entre jovens. O repórter comprou de um "homem-placa" no centro de São Paulo, receita falsificada e comprou o medicamento. Já alertamos da série epidemia de dependência a benzodiazepínicos, muitas vezes com beneplácito de médicos amigos. Leiam também o alerta de Elisaldo Carlini.
Um quarto dos jovens se droga com remédio
Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli
Marcelo, de 27 anos, mora com os pais e com o irmão mais novo, trabalha o dia inteiro, tem diploma universitário, namora sério, pratica esportes, faz planos para fazer uma pós-graduação no exterior e sai para a balada com amigos quase toda noite. Ele se considera um jovem “responsa”. Mas, ainda assim, precisa de ajuda química para dar conta da rotina pesada. “Maconha fumo eventualmente, mas não gosto muito. Prefiro o estimulante”, conta. “Não deixa cheiro, não dá bandeira em casa. Pode sair com ele na rua que a polícia não pega. E não deixa doidão. Você não corre o risco de pegar uma gorda achando que a mina é gata.”Marcelo pegou a dica do estimulante, do tipo anfepramona, na academia onde malha. Nas farmácias, uma caixa com 20 comprimidos custa, em média, R$ 17. Para conseguir comprar o remédio de tarja preta, ele pede a receita a um amigo médico. No começo da happy hour, Marcelo toma o remédio. Fica inteiro por toda a madrugada. No dia seguinte, volta a tomar para agüentar o treino na academia. “Parei porque com o passar do tempo você precisa aumentar a dose. Cheguei a tomar cinco de uma vez. Depois, quando o cansaço acumulado bate, você fica derrubado.”Nos Estados Unidos, jovens como Marcelo, que usam medicamentos que “dão barato”, ganharam um apelido: Geração Prescrição. E preocupam as autoridades. Pesquisa do Centro de Estudos sobre Drogas da Universidade de Columbia mostra que um em cada cinco jovens de 12 a 17 anos já usou medicamentos para fins recreativos. No Brasil, os índices são igualmente alarmantes e ainda pouco discutidos entre estudiosos e autoridades. O Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que entrevistou 7.939 pessoas em 108 cidades em 2005, apontou que 24,3% já usaram remédios vendidos em farmácias para fins recreativos. Lideram a lista os solventes (como éter e clorofórmio), seguidos de benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para aumentar apetite que são estimulantes) - sendo também mencionados xaropes à base de codeína, opiáceos, esteróides, barbitúricos e anticolinérgicos.FUGAO índice é ainda mais surpreendente por ficar bem acima do número verificado entre pessoas que consumiram drogas ilícitas. Disseram já ter usado maconha, cocaína, alucinógenos, crack, merla e heroína cerca de 14% dos entrevistados. “Em ambos os casos o jovem está atrás do barato, de uma alteração mental que o ajude a fugir da realidade. Mas apenas drogas ilegais ganham atenção do sistema policial, o que é um erro”, alerta Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo e um dos coordenadores do Cebrid.

sábado, 17 de novembro de 2007

Avandia, mudança de bula e ameaças a médico.

O caso Avandia ainda rende: essa semana, o FDA obrigou a empresa a modificar a bula do medicamento com alerta para risco potencial de infarto do miocárdio. Hoje, The Wall Street Journal relembra das pressões sobre pesquisador de diabetes há 8 anos por causa de suas críticas ao medicamento.

Glaxo's Handling of Physician Criticized
By JEANNE WHALENNovember 17, 2007
Over a period of several years, drug maker
GlaxoSmithKline PLC was so concerned about a prominent physician's negative views of its diabetes drug that it engaged in a concerted effort to intimidate him and stifle his opinion, a report by the U.S. Senate Finance Committee found. The report offers a window into the rarely acknowledged practice among drug companies of monitoring and seeking to influence the opinions of leading physicians, who can make or break a drug's sales. The report alleges that Glaxo Chief Executive Jean-Pierre Garnier and former research chief Tachi Yamada were involved in the intimidation.The Senate Finance Committee released the report Thursday, after researching Glaxo's relationship with John Buse, a diabetes expert and professor of medicine at the University of North Carolina in Chapel Hill. In 1999, Dr. Buse began expressing concerns about the cardiovascular risks of Avandia, one of Glaxo's top selling drugs. The Senate Finance Committee investigated the matter because it has jurisdiction over Medicare and Medicaid and wants to ensure that they are paying for safe and effective medicines, the report says. The committee, led by Montana Democrat Max Baucus and Iowa Republican Chuck Grassley, didn't recommend any particular action. It said it feared the Avandia case was part of a "troubling pattern of behavior by pharmaceutical executives." "The effect of silencing [Dr. Buse's] criticism is, in our opinion, extremely serious," the report concludes, noting that patients may have needlessly suffered heart attacks during the period. "Had GSK considered Avandia's increased cardiovascular risk more seriously when the issue was first raised in 1999 by Dr. Buse, instead of trying to smother an independent medical opinion, some of these heart attacks may have been avoided," the report says. This week, the Food and Drug Administration forced Glaxo to add a strong new warning to Avandia's prescribing label about potential heart-attack risks for patients taking the drug.
A Glaxo spokeswoman, Nancy Pekarek, said the company strongly disputes the committee's conclusions. She said Glaxo had tried to correct Dr. Buse's "inaccuracies" about Avandia but had never tried to intimidate or silence him. "People at the time were very passionate about this new medicine and could perhaps have handled the interactions with Dr. Buse better," she said. "We did apologize to Dr. Buse for the tone of some of the conversations, and he accepted that apology eight years ago." She said Dr. Garnier had no additional comment. Dr. Yamada, who is now president of the global health program at the Bill & Melinda Gates Foundation, was traveling Friday and unavailable for comment, his assistant said. In an interview last month with Nature magazine, Dr. Yamada said that he never pursued any "diabolical plot" against Dr. Buse. Dr. Buse was also traveling Friday and unavailable for comment.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Bahia Azul no The Lancet

O projeto Bahia Azul que parou a cidade de Salvador para drenar os esgotos da cidade e, levá-los para bem longe da baía de todos os santos mostrou que houve redução em 21% dos casos de diarréia em crianças. Trata-se de uma reedição do clássico trabalho de John Snow, agora de forma sofisticada e bem documentada. O artigo é de autoria do Prof Maurício Barreto do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, que poderá enviar o artigo completo solicitando em mauricio@ufba.br

Background A city-wide sanitation intervention was started in Salvador, Brazil, in 1997 to improve sewerage coverage from 26% of households to 80%. Our aim was to investigate the epidemiological effect of this city-wide sanitation programme on diarrhoea morbidity in children less than 3 years of age.
Methods The investigation was composed of two longitudinal studies done in 1997–98 before the intervention (the sanitation programme) and in 2003–04 after the intervention had been completed. Each study consisted of a cohort of children (841 in the preintervention study and 1007 in the postintervention study; age 0–36 months at baseline) who were followed up for a maximum of 8 months. Children were sampled from 24 sentinel areas that were randomly chosen to represent the range of environmental conditions in the study site. At the start of each study an individual or household questionnaire was applied by trained fieldworkers; an environmental survey was done in each area before and after introduction of the sanitation programme to assess basic neighbourhood and household sanitation conditions. Daily diarrhoea data were obtained during home visits twice per week. The effect of the intervention was estimated by a hierarchical modelling approach fitting a sequence of multivariate regression models.
Findings Diarrhoea prevalence fell by 21% (95% CI 18–25%)—from 9·2 (9·0–9·5) days per child-year before the intervention to 7·3 (7·0–7·5) days per child-year afterwards. After adjustment for baseline sewerage coverage and potential confounding variables, we estimated an overall prevalence reduction of 22% (19–26%).
Interpretation Our results show that urban sanitation is a highly effective health measure that can no longer be ignored, and they provide a timely support for the launch of 2008 as the International Year of Sanitation

Acomplia: Anvisa precisa se explicar.

Acomplia (rimonabant) não foi aprovado pelo FDA. Mas, a ANVISA aprovou para uso. Esse blogue já tinha alertado baseado na experiência de endocrinologistas e, sentido a "forçada de barra" do marketing em programas televisivos. Agora, a metanálise publicada no The Lancet.
The Lancet 2007; 370:1706-1713 Efficacy and safety of the weight-loss drug rimonabant: a meta-analysis of randomised trials Robin Christensen MSc a, Pernelle Kruse Kristensen BSc a b, Else Marie Bartels DSc c, Prof Henning Bliddal MD a and Prof Arne Astrup MD b
Since the prevalence of obesity continues to increase, there is a demand for effective and safe anti-obesity agents that can produce and maintain weight loss and improve comorbidity. We did a meta-analysis of all published randomised controlled trials to assess the efficacy and safety of the newly approved anti-obesity agent rimonabant.
Methods We searched The Cochrane database and Controlled Trials Register, Medline via Pubmed, Embase via WebSpirs, Web of Science, Scopus, and reference lists up to July, 2007. We collected data from four double-blind, randomised controlled trials (including 4105 participants) that compared 20 mg per day rimonabant with placebo.
Findings Patients given rimonabant had a 4·7 kg (95% CI 4·1–5·3 kg; p<0·0001) greater weight reduction after 1 year than did those given placebo. Rimonabant caused significantly more adverse events than did placebo (OR=1·4; p=0·0007; number needed to harm=25 individuals [95% CI 17–58]), and 1·4 times more serious adverse events (OR=1·4; p=0·03; number needed to harm=59 [27–830]). Patients given rimonabant were 2·5 times more likely to discontinue the treatment because of depressive mood disorders than were those given placebo (OR=2·5; p=0·01; number needed to harm=49 [19–316]). Furthermore, anxiety caused more patients to discontinue treatment in rimonabant groups than in placebo groups (OR=3·0; p=0·03; number needed to harm=166 [47–3716]).
Interpretation Our findings suggest that 20 mg per day rimonabant increases the risk of psychiatric adverse events—ie, depressed mood disorders and anxiety—despite depressed mood being an exclusion criterion in these trials. Taken together with the recent US Food and Drug Administration finding of increased risk of suicide during treatment with rimonabant, we recommend increased alertness by physicians to these potentially severe psychiatric adverse reactions

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Assistência Farmacêutica no Mundo

The New England Journal of Medicine traz texto com acesso livre sobre assistência farmacêutica nos assim chamados middle-low income countries. O autor faz um bom resumo da situação atual, mas a informação sobre a redução do custo do tratamento do HIV não confere com publicações mais recentes como a do Plos Medicine avaliando o custo no Brasil.
Outra informação relativamente desatualizada é sobre o custo do tratamento farmacológico da doença coronariana no Brasil. Hoje, com o suprimento das unidades básicas, programas dose certa e, principalmente da Farmácia Popular, a aquisição de aspirina-atenolol-captopril custa menos do que um maço de cigarro.
O mais importante desse artigo é lembrar que a capacidade do Brasil no mercado de genéricos não é desprezível. Distante da China, mas um fornecedor importante no mercado mundial.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O comércio de rins em discussão

O tema "transplante" já foi tratado aqui várias vezes, principalmente na questão da venda de rins. Agora, o tema está atingindo um nível nunca visto: professor da Universidade de Minesotta propondo a compra de rins. The Wall Street Journal trouxe matéria de capa extensa sobre o problema. Há cada vez mais candidatos ao transplante e menos doadores. A melhor proposta é óbvia: impedir que a doença progrida com programas específicos que estão cada vez mais difundidos. No Brasil, a situação epidemiológica da insuficiência renal crônica é semelhante à americana. No site do WSJ foi pesquisado internautas se eram a favor ou contra.
Dos 1311, 80% responderam serem favoráveis ao comércio de rins.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Uma proposta (ingênua) para a Bolívia: gás por programa para Chagas

Leiam os dois posts abaixo: o Brasil domina a tecnologia médica para diagnóstico e tratamento da Doença de Chagas (acrescento também a capacidade de controle do vetor) e, agora o monopólio de fabricação do benzonidazole, o único tratamento para a doença. A Bolívia tem uma prevalência elevadíssima de portadores com uma proporção expressiva da forma clínica. Daí, uma proposta ingênua: programa de Chagas em troca de gás.

Lafepe assume a produção do medicamento para Chagas

Abaixo, matéria antiga (31/08/2007) informando que o LAFEPE (Laboratório Farmacêutic do de Pernambuco) irá "produzir com exclusividade em todo o mundo o único medicamento que existe para combater a doença de Chagas. Ainda hoje, está programado para chegar ao estado o carregamento de 358 quilos de Benzonidazol, que é o princípio ativo do remédio. A mercadoria é oriunda da Basiléia, na Suíça. O remédio será produzido pelo Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe) e distribuído principalmente para o Ministério da Saúde, em Brasília, que redistribuirá os comprimidos para o resto do país através dos governos municipais e estaduais. O medicamento, no entanto, também será vendido para o público que procurar uma das 32 farmácias do Lafepe espalhadas pela capital e interior do estado. Estima-se que a cada ano, no Brasil, cerca de 6 mil pacientes morram por causas relacionadas ao mal, fazendo com que a doença de Chagas continue sendo considerada como um importante problema da saúde pública. Além disso, existem cerca de 3,5 milhões de pacientes crônicos remanescentes, dos quais 20% a 30% apresentam comprometimento cardíaco. Luciano Vasquez, presidente do Lafepe, explicou que o laboratório Roche, que produzia o produto, abriu mão da patente para o Brasil até mesmo porque foi um sanitarista brasileiro, Carlos Chagas, que descobriu o vetor da doença. "Primeiramente eles ofereceram para o Acre, mas não deu certo e eles nos ofereceram a produção", disse. Segundo Vasquez, o Lafepe vai se tornar referência internacional na produção do remédio. O presidente do laboratório explicou que o tratamento se dá com 100 comprimidos por paciente. Depois de aportar no Recife, a matéria-prima do medicamento será analisada durante 14 dias no Lafepe. A previsão é de que até o final de outubro o medicamento esteja disponível para venda. "Em até trinta dias pretendemos fabricar 3,5 milhões de comprimidos", anunciou Vasquez. Além da produção de Pernambuco, a Roche também tem pronta uma quantidade que dá para distribuir durante um ano, o Rochagan. O Ministério da Saúde, que comprava direto no laboratório da Roche, tem também uma reserva estratégica."

Chagas nos Estados Unidos

JAMA publica hoje as diretrizes para o tratamento da Doença de Chagas nos Estados Unidos com participação das equipes de Goiás e de Ribeirão Preto.
Evaluation and Treatment of Chagas Disease in the United States A Systematic Review
JAMA. 2007;298(18):2171-2181. Context Because of population migration from endemic areas and newly instituted blood bank screening, US clinicians are likely to see an increasing number of patients with suspected or confirmed chronic Trypanosoma cruzi infection (Chagas disease). Objective To examine the evidence base and provide practical recommendations for evaluation, counseling, and etiologic treatment of patients with chronic T cruzi infection.
Evidence Acquisition Literature review conducted based on a systematic MEDLINE search for all available years through 2007; review of additional articles, reports, and book chapters; and input from experts in the field. Evidence Synthesis The patient newly diagnosed with Chagas disease should undergo a medical history, physical examination, and resting 12-lead electrocardiogram (ECG) with a 30-second lead II rhythm strip. If this evaluation is normal, no further testing is indicated; history, physical examination, and ECG should be repeated annually. If findings suggest Chagas heart disease, a comprehensive cardiac evaluation, including 24-hour ambulatory ECG monitoring, echocardiography, and exercise testing, is recommended. If gastrointestinal tract symptoms are present, barium contrast studies should be performed. Antitrypanosomal treatment is recommended for all cases of acute and congenital Chagas disease, reactivated infection, and chronic T cruzi infection in individuals 18 years or younger. In adults aged 19 to 50 years without advanced heart disease, etiologic treatment may slow development and progression of cardiomyopathy and should generally be offered; treatment is considered optional for those older than 50 years. Individualized treatment decisions for adults should balance the potential benefit, prolonged course, and frequent adverse effects of the drugs. Strong consideration should be given to treatment of previously untreated patients with human immunodeficiency virus infection or those expecting to undergo organ transplantation. Conclusions Chagas disease presents an increasing challenge for clinicians in the United States. Despite gaps in the evidence base, current knowledge is sufficient to make practical recommendations to guide appropriate evaluation, management, and etiologic treatment of Chagas disease.
Author Affiliations: Parasitic Diseases Branch, Division of Parasitic Diseases, National Center for Zoonotic, Vector-Borne and Enteric Diseases, Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Georgia (Drs Bern, Montgomery, Herwaldt, and Moore); Anis Rassi Hospital, Goiania, Brazil (Dr Rassi); Medical School of Ribeirão Preto, University of Sao Paulo, Ribeirão Preto, Sao Paolo, Brazil (Drs Marin-Neto and Dantas); University of Maryland, Baltimore (Dr Maguire); Universidad Central de Venezuela, Caracas, Venezuela (Dr Acquatella); McMaster University, Hamilton, Ontario, Canada (Dr Morillo); University of Iowa, Iowa City (Dr Kirchhoff); Johns Hopkins University, Baltimore, Maryland (Dr Gilman); I. Chávez National Institute of Cardiology, Mexico City, Mexico (Dr Reyes); and Pan American Health Organization, Montevideo, Uruguay (Dr Salvatella).

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A desfibrilação e a proposta de Mário Henrique Simonsen sobre obras públicas.

O lobby para compra de desfibriladores está a toda na imprensa. Capa de Época no fim de semana. Hoje, a Folha de S.Paulo adere com novas "denúncias" que locais públicos não têm o equipamento. O alvo são sempre órgãos públicos ou empresas estatais. Para quem não está atento, a argumentação é a seguinte:
(1) uma pessoa (você) poderá ter um infarto do miocárdio com arritmia grave que poderá ser revertida com o choque do equipamento (desfibrilador); (2) como nunca sabemos onde pode acontecer, vamos convencer vereadores e deputados, a criarem leis que obriguem que todos os locais e estabelecimentos com muito público comprem o equipamento e, com isso você estará seguro"
Por último, há uma informação falsa, como no caso de hoje, a de que três pessoas poderiam ter sido salvas se houvesse o equipamento no local público. Falsa, porque a reversão da arritmia não significará necessariamente melhoria do prognóstico.
Vamos, agora por partes:
(1) equipamentos não salvam ninguém; salvamento necessita de pessoal habilitado para tal;
(2) locais de grande aglomeração necessitam sempre de vigilância e policiamento; essas são as pessoas treinadas para o atendimento básico, o qual poderá se incluir a desfibrilação;
(3) fundamental é ter uma rede de retaguarda após o atendimento básico;
Sobre o tema há muita discussão, mas o melhor texto é o livro "Sudden Death and the Myth of CPR" (Morte Súbita e o Mito da Ressuscitação Cárdio-Pulmonar) de Stefan Timmermans, Temple University Press, 1999. O autor estudou o atendimento hospitalar.
Bem, e Mário Henrique Simonsen?

domingo, 11 de novembro de 2007

DNA: para que e para quem ?

O uso cada vez maior de recursos decorrentes do sequenciamento do DNA tem produzido avanços importantes, a principal na medicina legal e forensica com determinação de paternidade, identificação de desaparecidos e, na condenação de criminosos. Na prática clínica, há ainda muito a ser feito. Recentemente, o National Health Institutes que financia quase todas as pesquisas médicas nos Estados Unidos, incluindo o famosíssimo Framingham Heart Study, liberou que vários estudos com material genético pudessem ser analisados por outros laboratórios, que não os originais, desde que minimamente gabaritados. Há dúvidas sobre o sucesso dessa estratégia, tal como as apresentadas por Bruce Psaty, nessa edição do JAMA. Hoje, The New York Times (acesso livre) relata mais uma vez o debate sobre o avanço real da genética na medicina, mas com a preocupação com o estímulo ao preconceito.
Reproduzo, um comentário que concordo integralmente.
I’ve spent the last 10 years of my life researching how much genetic variability there is between populations,” said Dr. David Altshuler, director of the Program in Medical and Population Genetics at the Broad Institute in Cambridge, Mass. “But living in America, it is so clear that the economic and social and educational differences have so much more influence than genes. People just somehow fixate on genetics, even if the influence is very small.”

sábado, 10 de novembro de 2007

O complexo médico-industrial midiático trabalhou bastante essa semana

Não houve chance para aumento do orçamento da Saúde e, o complexo médico-industrial lançou-se a toda na voracidade de vender exames como sendo saúde e prevenção. "Veja" fez um caderno com todos os exames, recheados de propagandas de hospitais. "Época" deu capa para divulgar a venda do desfibrilador, um produto de um grande anunciantes. Tudo bobagem: hospital de qualidade é resultado de recurso humano decente.
Por exemplo, um hospital muito citado como sendo "de ponta", nos últimos dois anos demitiu quase todos os médicos plantonistas com muita experiência porque o salário era elevado e os substituiu por médicos qualificados, mas menos experientes. Mas, pior foi a decisão de reduzir o número de enfermeiros por leito. A hipótese corrente é que a economia decorrente de demissões de médicos e enfermeiros serviu para financiar anúncios frequentes nas revistas semanais e jornais dominicais, além da assessoria de imprensa que "planta" várias notinhas favoráveis ao hospital.

Pelo fim da adjetivação social do criminoso

Caim, o primeiro criminoso. Era senhor ou escravo ? burguês ou proletário? Agora, virou moda identificar criminosos valorizando a origem social. Traficantes de ectasy e hackers em dois dias seguintes são valorizados porque pertencentes a classe média. E, daí. Além, da chance de um bom advogado? . Bandido é bandido. Essa qualificação é preconceituosa, por um lado, porque imputa ao pobre, uma condição inata, a de criminoso. Mas, por outro lado, é a base da justificativa da criminalidade, como se todos os delitos fossem crimes famélicos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sobre as cabeças, os aviões......

Nada como Tropicolulismo! Adiante, mais de Caetano e, a notícia da ligação Congonhas - Salvador.
E no jardim os urubus passeiam
A tarde inteira entre os girassóis
Viva Maria, ia, ia
Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
Folha de S.Paulo (09/11/07) O governo Lula recuou em mais uma medida relacionada ao setor aéreo. O Ministério da Defesa anunciou ontem à noite que vai autorizar excepcionalmente vôos mais longos partindo ou chegando a Congonhas, zona sul de São Paulo, durante o período de férias. Do dia 1º de dezembro ao dia 15 de março do próximo ano, Congonhas poderá operar com vôos que percorram até 1.500 km, ponto a ponto. governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que está em Madri, disse, por meio de assessores, que Jobim "agiu com eficiência e sensibilidade". Segundo ele, "foi uma vitória para a Bahia, que vinha perdendo divisas e visitantes".

Remédio maravilhoso aumenta agressividade

Jornalistas que estão sendo procurados para divulgar as maravilhas de medicamento para obesidade, diabetes, hipertensão, colesterol elevado fiquem atento que há relatos de uso desse medicamento adquirido na Europa que aumentou consideravelmente a agressividade do paciente. Palavra de vários endocrinologistas sérios. A Anvisa está com a palavra. O FDA recusou a licença nos EUA.

Vioxx, Merck faz acordo de quase US 5 bilhões

A Merck americana, aqui Merck Sharp & Dohme concordou em pagar até 4,8 bilhões de dólares a quem teve infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral isquêmico na vigência do uso de Vioxx. Isso não significa que há culpa no caso, pela legislação americana. Há uma imensidão de processos em todos os estados americanos. Esse caso teve de tudo, como fraude científica , informação distorcida, o lançamento de um me-too da concorrência (depois proibido em São Paulo e Brasil). A história original está contada em texto publicado em Diagnóstico & Tratamento. Agora, está se chegando ao seu quase final, afinal as ações da companhia subiram 2% com essa decisão. Uma lembrança: quando as primeiras publicações mostraram risco no uso do Vioxx, dois reumatologistas ´paulistas rapidamente foram acionados para defender a empresa e, desqualificar a pesquisa original. Onde estão eles agora? A declaração de hoje da empresa pode ser lida no The Wall Street Journal.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Uma verdadeira "mudança de paradigma" no controle da hipertensão.

A proposta de uma "vacina" para hipertensão existe há mais de duas décadas. Houve somente insucessos. Agora, na reunião da American Heart Association foram divulgados resultados auspiciosos sobre a administração intramuscular de medicamento que mantém a pressão arterial controlada por quatro meses. Se não houver sucesso nas novas fases de experimentação, haverá mudança radical no panorama do controle de hipertensão em todo o mundo. Vamos torcer.
Hypertension vaccine safe, well-tolerated in phase 2a study
November 6, 2007From
Medscape Medical News—a professional news service of WebMD
Orlando, FL - Results of a phase 2 study suggest that an investigational vaccine against angiotensin II was safe and well tolerated in patients with mild to moderate hypertension. The vaccine produced a long-lived antibody response with a half-life of about four months.
"Treatment with the high dose produced a significant reduction of daytime ambulatory blood pressure and a marked reduction in the early morning hours, when most adverse cardiovascular events occur," study author Dr Jürg Nussberger (Centre Hospitalier Université Vaudois, Lausanne, Switzerland) told attendees here at the American Heart Association 2007 Scientific Sessions. "Future studies will apply state-of-the-art formulations and treatment regimens to explore the full potential of this approach," he said. Good control of hypertension has been undermined by problems of patient compliance with antihypertensive medications. Although many effective drugs are available, only about 25% of patients are optimally controlled, Nussberger said. "This has probably something to do with the fact that these drugs have to be taken daily and lifelong." However, many of these drugs have a half-life of less than 24 hours, so if patients take them in the morning, the medications are at a trough in the early-morning hours, he said, just as the normal rise in BP takes place and when most cardiovascular events occur. "With a vaccine against angiotensin II, where there is a long-lasting effect with antibodies, you may not have this problem of peak-trough, and the patient has to come to the doctor maybe only two or three times a year," Nussberger said.
Previous work by Morris J. Brown and colleagues at the University of Cambridge, United Kingdom, had tested a vaccine against angiotensin I and shown some reduction of aldosterone, but no BP-lowering effect.
The current study explored the safety and tolerability of CYT006-AngQb, a viruslike particle-based conjugate vaccine that targets angiotensin II in a placebo-controlled phase 2a sequential two-dose comparison trial. The study enrolled 72 patients with mild to moderate hypertension, defined as a systolic pressure of 140 to 179 mm Hg and a diastolic pressure of 90 to 109 mm Hg; five patients dropped out for reasons unrelated to the study, he noted. The study was done over four months; patients were given 100 µg or 300 µg of the antigen or placebo at time zero, then at one month and three months, after which they were followed for eight months for safety. End points were safety and tolerability, with an "exploratory" look at efficacy with ambulatory BP measurements and plasma renin concentrations.
Adverse events occurred in all patients in both groups, a finding that was not unexpected, since even placebo patients received an injection of aluminum hydroxide emulsion and so reported pain, erythema, or edema at the injection site. Headache was also more frequent in the vaccination group, but all of these effects occurred over the first one or two days and were reversible

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Para quem os sinos não batem.......

Acompanhei a repercussão do LearJet que matou a família Fernandes na Casa Verde. E, hoje, massacre em escola na Finlândia. Os seres humanos que se foram valem menos do que aqueles que morreram na obra do metro, em Congonhas e na Virgínia Tech. Por que? Foram mortes que não puderam ser capitalizadas politicamente, por aqueles que desejam instalar uma tirania,onde somente suas vozes são ouvidas.
Sinceramente, estou farto do militantismo e do jornalismo engajado. Os urubus ficam voando atrás da carniça que os satisfaz, compaixão e solidariedade é coisa de .....

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

For Whom the Bell Tolls?

Como se esgotaram os cantores pop que fazem apologia do crime, a Folha de S.Paulo (clique aqui) ressuscitou a Bell Curve e suas conclusões para lá de enviesadas. Para economia de tempo dos leitores do blogue recomendo ler a página do wikipedia com os argumentos contra o famoso livro. A entrevista de Murray, hoje, mostra a forma pouco séria como expõe sua argumentação. Confunde o tempo todo o componente génetico e o adquirido. Ele erra ao criticar a ação afirmativa na sua origem. Hoje, a avaliação poderá ser outra, mas representou fator importante de inclusão dos negros na sociedade americana à época da implantação.
Para quem não sabe o título é do romance autobiográfico de Ernst Hemingway passado na Guerra Civil Espanhola, por sua sua originado de "Meditation XVII" de John Donne.

domingo, 4 de novembro de 2007

Médicos e indústria farmacêutica: pontos positivos

Recebi uma provocação sobre o post sobre a indústria farmacêutica - a Big Pharma - e relacionamento com os médicos. Os pontos negativos já foram tão ressaltados, que prefiro lembrar em outro momento. O ponto positivo foi a introdução das pesquisas clínicas na fase III ao mesmo tempo que em outros países. Para mim, representou o começo de um rigor inexistente nas pesquisas com seres humanos realizadas até então e, uma obsessão com a documentação da informação. Essa foi a contribuição principal que adquirimos em mais de dez anos de participação em pesquisas patrocinadas pela Big Pharma.

sábado, 3 de novembro de 2007

Doenças negligenciadas ganham revista com acesso livre

A figura ilustra a primeira edição do PLoS Neglected Tropical Diseases. Abaixo, o editorial de lançamento.
The neglected tropical diseases (NTDs) are a group of tropical infections, such as river blindness, hookworm, lymphatic filariasis, leishmaniasis, and trachoma, which represent some of humankind's most ancient scourges and possibly our greatest global health disparities. Largely confined to the unseen rural areas of the developing world, the NTDs were for centuries the forgotten diseases of forgotten people [1]. They are chronic, disabling, and often stigmatizing conditions, and their poverty-promoting features provide a genuine reason why parts of Africa, Asia, and the tropical regions of the Americas cannot escape their low-income status.
Although these diseases have been overshadowed by better-known conditions, especially the “big three”—HIV/AIDS, malaria, and tuberculosis—evidence collected in the past few years has revealed some astonishing facts about the NTDs. They are among the most common infections of the poor—an estimated 1.1 billion of the world's 2.7 billion people living on less than US$2 per day are infected with one or more NTDs. When we combine the global disease burden of the most prevalent NTDs, the disability they cause rivals that of any of the big three. Moreover, the NTDs exert an equally important adverse impact on child development and education, worker productivity, and ultimately economic development. Chronic hookworm infection in childhood dramatically reduces future wage-earning capacity, and lymphatic filariasis erodes a significant component of India's gross national product. The NTDs may also exacerbate and promote susceptibility to HIV/AIDS and malaria.
All hope is not lost. Through the provision of a package of preventive chemotherapy, we have a unique opportunity to reduce the health and economic costs of the NTDs, a strategy that cannot be applied to most other disease entities in the developing world. Such a package may also help to tackle the big three diseases. These drug packages are being administered by a group of NTD partnerships that are working together through the Global Network for NTD Control (
http://gnntdc.sabin.org/), while new product development partnerships have been established that will someday produce a revolutionary generation of additional drugs, diagnostics, and vaccines. Taking on the NTDs represents one of the most efficient and cost-effective means of achieving the Millennium Development Goals in the areas of child and maternal health, infectious diseases, poverty reduction, and building global partnerships, and is a step forward in achieving international human rights.
PLoS Neglected Tropical Diseases is an important new ally for global efforts to control and eliminate the world's most burdensome NTDs. We believe that our new journal, dedicated to publishing research that can help reduce disease and despair, is a modest yet important contribution to relieving suffering and building research and disease control capacity in developing countries. With unprecedented representation from women and developing countries on our Editorial Board, together with a magazine section devoted to policy, analysis, and debate, we hope that PLoS Neglected Tropical Diseases will promote a collective voice for the world's poorest people. And by adopting an open-access model—all articles are freely available worldwide and can be copied, distributed, translated, and built upon provided authors are credited and the source is cited—we hope to reach an audience of 6 billion.
PLoS Neglected Tropical Diseases was not launched in a vacuum. From its very beginning, the Public Library of Science's founders—Harold Varmus, Pat Brown, and Mike Eisen—grasped the power of open access for the developing world. Subsequently, the Bill and Melinda Gates Foundation recognized the potential of PLoS Neglected Tropical Diseases for building research and public health capacity in developing countries and awarded the journal a grant to cover its launch phase. The announcement of the journal was greeted with tremendous support by the popular press and by other scholarly journals. The Lancet, for example, in an editorial praising our launch, wrote: “We welcome this initiative. Any investment in scaling up communication about global health is to be warmly applauded”
. With all of this support comes a responsibility. We aspire to make PLoS Neglected Tropical Diseases an international resource, one that truly benefits the scientific, medical, and public health communities. This means that we need our readers to tell us how we can be helpful. We exist solely for the benefit of our constituents: the thousands of dedicated scientists, health care professionals, and public health experts, and the poor communities worldwide that you serve every day. This is a journal “run by and for the community,” and we look forward to receiving your best work

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Relação indústria farmacêutica e médicos

The New England Journal of Medicine (acesso gratuito) publica artigo sobre a relação indústria farmacêutica e médicos. Na figura há
apresentação dos relacionamentos mais descritos como amostras grátis, presentes etc etc.
O texto apresenta duas considerações bem válidas do lado positivo e negativo:
Clearly, relationships between physicians and industry can have some positive effects on patient care. Many, if not all, of the drugs currently on the market simply wouldn't exist if it weren't for relationships whereby physicians enroll patients in manufacturers' clinical trials and provide companies with advice on drug development. And even a relationship in the form of attendance at an industry-sponsored luncheon or dinner may lead physicians to recommend beneficial drugs that are being underprescribed — though there is no reason why an educational activity needs to be accompanied by an expensive meal or a trip to a tropical resort.
But physician–industry relationships can also have serious negative effects. For example, doctors with ties to industry may be more inclined than their colleagues to prescribe a brand-name drug despite the availability of a cheaper generic version. The provision of free samples may reinforce this behavior and perhaps stimulate off-label use of medications, which can pose risks for some patients. Industry relationships may stimulate the premature adoption of novel treatments, which could lead to serious health problems for patients. Industry inducements may reduce physician adherence to evidence-based practice guidelines in favor of company medications or interventions that are not recommended in independently developed guidelines. Finally, the financial rewards from industry relationships may reinforce a culture of entitlement among physicians, which could limit their ability to honestly acknowledge and manage the potential negative effects of these relationships. In general, physicians vehemently deny that their industry relationships have any of these negative effects — but they are less convinced that the same is true of their physician colleagues.