O Estado de S. Paulo relata pesquisa do CEBRID sobre o uso de benzodiapínicos no Brasil, entre jovens. O repórter comprou de um "homem-placa" no centro de São Paulo, receita falsificada e comprou o medicamento. Já alertamos da série epidemia de dependência a benzodiazepínicos, muitas vezes com beneplácito de médicos amigos. Leiam também o alerta de Elisaldo Carlini.
Um quarto dos jovens se droga com remédio
Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli
Marcelo, de 27 anos, mora com os pais e com o irmão mais novo, trabalha o dia inteiro, tem diploma universitário, namora sério, pratica esportes, faz planos para fazer uma pós-graduação no exterior e sai para a balada com amigos quase toda noite. Ele se considera um jovem “responsa”. Mas, ainda assim, precisa de ajuda química para dar conta da rotina pesada. “Maconha fumo eventualmente, mas não gosto muito. Prefiro o estimulante”, conta. “Não deixa cheiro, não dá bandeira em casa. Pode sair com ele na rua que a polícia não pega. E não deixa doidão. Você não corre o risco de pegar uma gorda achando que a mina é gata.”Marcelo pegou a dica do estimulante, do tipo anfepramona, na academia onde malha. Nas farmácias, uma caixa com 20 comprimidos custa, em média, R$ 17. Para conseguir comprar o remédio de tarja preta, ele pede a receita a um amigo médico. No começo da happy hour, Marcelo toma o remédio. Fica inteiro por toda a madrugada. No dia seguinte, volta a tomar para agüentar o treino na academia. “Parei porque com o passar do tempo você precisa aumentar a dose. Cheguei a tomar cinco de uma vez. Depois, quando o cansaço acumulado bate, você fica derrubado.”Nos Estados Unidos, jovens como Marcelo, que usam medicamentos que “dão barato”, ganharam um apelido: Geração Prescrição. E preocupam as autoridades. Pesquisa do Centro de Estudos sobre Drogas da Universidade de Columbia mostra que um em cada cinco jovens de 12 a 17 anos já usou medicamentos para fins recreativos. No Brasil, os índices são igualmente alarmantes e ainda pouco discutidos entre estudiosos e autoridades. O Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que entrevistou 7.939 pessoas em 108 cidades em 2005, apontou que 24,3% já usaram remédios vendidos em farmácias para fins recreativos. Lideram a lista os solventes (como éter e clorofórmio), seguidos de benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para aumentar apetite que são estimulantes) - sendo também mencionados xaropes à base de codeína, opiáceos, esteróides, barbitúricos e anticolinérgicos.FUGAO índice é ainda mais surpreendente por ficar bem acima do número verificado entre pessoas que consumiram drogas ilícitas. Disseram já ter usado maconha, cocaína, alucinógenos, crack, merla e heroína cerca de 14% dos entrevistados. “Em ambos os casos o jovem está atrás do barato, de uma alteração mental que o ajude a fugir da realidade. Mas apenas drogas ilegais ganham atenção do sistema policial, o que é um erro”, alerta Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo e um dos coordenadores do Cebrid.
Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli
Marcelo, de 27 anos, mora com os pais e com o irmão mais novo, trabalha o dia inteiro, tem diploma universitário, namora sério, pratica esportes, faz planos para fazer uma pós-graduação no exterior e sai para a balada com amigos quase toda noite. Ele se considera um jovem “responsa”. Mas, ainda assim, precisa de ajuda química para dar conta da rotina pesada. “Maconha fumo eventualmente, mas não gosto muito. Prefiro o estimulante”, conta. “Não deixa cheiro, não dá bandeira em casa. Pode sair com ele na rua que a polícia não pega. E não deixa doidão. Você não corre o risco de pegar uma gorda achando que a mina é gata.”Marcelo pegou a dica do estimulante, do tipo anfepramona, na academia onde malha. Nas farmácias, uma caixa com 20 comprimidos custa, em média, R$ 17. Para conseguir comprar o remédio de tarja preta, ele pede a receita a um amigo médico. No começo da happy hour, Marcelo toma o remédio. Fica inteiro por toda a madrugada. No dia seguinte, volta a tomar para agüentar o treino na academia. “Parei porque com o passar do tempo você precisa aumentar a dose. Cheguei a tomar cinco de uma vez. Depois, quando o cansaço acumulado bate, você fica derrubado.”Nos Estados Unidos, jovens como Marcelo, que usam medicamentos que “dão barato”, ganharam um apelido: Geração Prescrição. E preocupam as autoridades. Pesquisa do Centro de Estudos sobre Drogas da Universidade de Columbia mostra que um em cada cinco jovens de 12 a 17 anos já usou medicamentos para fins recreativos. No Brasil, os índices são igualmente alarmantes e ainda pouco discutidos entre estudiosos e autoridades. O Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que entrevistou 7.939 pessoas em 108 cidades em 2005, apontou que 24,3% já usaram remédios vendidos em farmácias para fins recreativos. Lideram a lista os solventes (como éter e clorofórmio), seguidos de benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para aumentar apetite que são estimulantes) - sendo também mencionados xaropes à base de codeína, opiáceos, esteróides, barbitúricos e anticolinérgicos.FUGAO índice é ainda mais surpreendente por ficar bem acima do número verificado entre pessoas que consumiram drogas ilícitas. Disseram já ter usado maconha, cocaína, alucinógenos, crack, merla e heroína cerca de 14% dos entrevistados. “Em ambos os casos o jovem está atrás do barato, de uma alteração mental que o ajude a fugir da realidade. Mas apenas drogas ilegais ganham atenção do sistema policial, o que é um erro”, alerta Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo e um dos coordenadores do Cebrid.
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