terça-feira, 31 de outubro de 2006

Genéricos cada vez mais populares nos Estados Unidos

Há dez anos, a situação era a seguinte: (1) Estados Unidos ninguém ousava falar em genéricos, exceto alguns idosos inconformados com os preços dos medicamentos, as farmácias escondiam na prateleiras e, os médicos não prescreviam; (2) no Brasil iniciava-se a discussão e processo de adoção de um projeto considerado obra de um "maluco', o então deputado Eduardo Jorge (PT-SP) e, por um Ministro "oportunista", José Serra. Vários médicos e professores de medicina diziam em alto e bom som, que os "genéricos não pegariam". Bem, a história brasileira é conhecida. A história americana pode ser acompanhada, hoje (31/11/06), no The Wall Street Journal na reportagem mostrando que todas as empresas de seguro-saúde e a maioria dos empregadores estão exigindo que se prescreva somente genéricos, ou que haja substituição do medicamento de marca pelo genérico.
Alguns planos de saúde não estão mais exigindo o pagamento do sistema de co-pagamento quando o medicamento for genérico, ou seja há subvenção total para genéricos. A comparação de novos genéricos lançados no mercado comparado ao medicamento de marca referência mostra que os genéricos suplantaram as vendas rapidamente dos medicamentos de referência.
Comentário: os medicamentos genéricos representam um avanço na assistência farmacêutica. No Brasil vingou porque houve determinação política, apesar da oposição da indústria farmacêutica, via porta-vozes na imprensa, academia e sociedades de especialistas.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Financiamento dos Republicanos à Big Pharma.

Essa informação é passada somente no original para não haver dúvida. Encontra-se no The Wall Street Journal de 25 de outubro de 2006. Reproduzo três parágrafos não consecutivos.

título : Fearing a Democratic Victory, Drug Makers Fund Key Races
(1) Few businesses have more at stake in next month's congressional elections than pharmaceutical makers. Assailed by Democrats, drug companies are pouring millions of dollars into close races, giving some Republicans a financial edge. In the process, the industry is becoming not just a campaign backer, but also a campaign issue.
(2) The Republican-controlled Congress has been kind to drug makers. As the prescription-drugs benefit was crafted, Republicans battled not just Democratic critics but also fiscal conservatives in their own party who opposed creating the expensive government program.
(3) Congressional Republican leaders prevented Medicare from negotiating prices with the industry. They also killed a proposal that would have allowed the government to offer its own coverage in competition with those sold by private companies. The industry successfully argued that the government's clout would mess up prices and stifle innovation.

Raça e Saúde: melhor ler, refletir e, depois opinar.

Na semana passada, notícias imputando afirmações que nunca um Ministro da Saúde faria: "O SUS é racista". Coisas da pressa em formatar manchetes. A questão é muito complexa e, não resolvida. Um blogue não é local adequado para expor toda complexidade que o assunto exige.
Recomendo a leitura de dois artigos de livre acesso que estão na secção "Cursos de Pós Graduação": "conceito de raça" e "raça e hipertensão' de Sérgio Danilo Pena (professor da UFMG) e Josué Laguardia (doutorando da FIOCRUZ), respectivamente.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Rastreamento para câncer de pulmão: finalmente algo novo!

O The New England Journal of Medicine publicou hoje os resultados do The International Early Lung Cancer Action Program Investigators , um estudo que realizou tomografia de tórax em 30 mil participantes que eram ex-fumantes ou com risco de câncer, diagnosticou câncer de pulmão em 484 participantes, dos quais 412 (85%) tinham a doença no estágio inicial e, a sobrevida em 10 anos estimadas foi de 88% nesse subgrupo. Entre os 302 participantes com estágio inicial que foram operados no primeiro mês de diagnóstico, a sobrevida subiu para 92%. Os 8 participants com doença na fase inicial que não receberam tratamento morreram dentro de 5 years depois do diagnóstico.
Comentário: o resultado desse estudo é esperado há muito tempo, depois do fracasso do rastreamento do câncer de pulmão por radiografia de tórax. Hoje, há verdadeira histeria pelo rastreamento de cânceres de crescimento lento e baixa letalidade e, verdadeiro desprezo em detectar o câncer que mais mata, o de pulmão. A proposta é de rastrear somente os ex-fumantes e fumantes passivos. Os fumantes atuais não devem ser submetidos e, sim tratados para cessar o vício. No caso da confirmação desses dados em outras pesquisas, estudos de custo-efetividade irão indicar o quanto e quando será adequado realizar rastreamento para câncer de pulmão. Conclusão, apesar de um ceticismo enorme em relação ao check up de uma forma geral, principalmente para câncer de próstata, adoto uma posição de otimismo cauteloso em relação à proposta de rastreamento com tomografia para ex-fumantes. Esse estudo dará muito o que falar.
O resumo do texto pode ser lido em http://www.nejm.org e, cópias do artigo original podem ser solicitadas à autora, Dra. Claudia Henschke em chensch@med.cornell.edu

Porto Seguro vende carteira de planos individuais

A Porto Seguro vendeu para a Amil a carteira de seguro saúde individual que representava um décimo do seu faturamento. Há rumores que outros empresas também estejam vendendo essa categoria de planos para se fixar nos planos corporativos. Essa pode ser uma tendência de especialização entre seguro saúde e medicina de grupo. Os primeiros teriam como foco o cliente empresarial e, o segundo o individual. Isso faz sentido com a proposta das medicina de grupo e, Unimed em aumentar os serviços próprios para controle de custo. Antes que alguém envie um email cobrando coerência, informo que o destaque nesse blog é para mostrar como o mercado privado está se organizando, somente isso. Como toda medida racionalizadora nessa área, os honorários médicos serão os mais atingidos.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Stents farmacológicos: cada vez mais, evidências contrárias.

Esse blog tem se dedicado a seguir a saga dos stents farmacológicos com três posts anteriores. Há bom tempo há evidências fortes que mostram risco aumentado de trombose nesses aparatos quando comparado àqueles sem proteção. O mercado de stents é da cifra de 5 bilhões de dólares e, duas empresas a Boston Scientific e a J&J dominam o mercado, cada um com sua marca, Taxus e Cypher, respectivamente. Alguns pesquisadores já questionaram se os stents farmacológicos forem implantados em todos os doentes com aterosclerose, não haveria quebra do sistema de saúde americano. Não, sei mas com certeza no Brasil isso ocorrerá. Ontem, no Transcatheter Cardiovascular Therapeutics 2006 realizado em Washington foi apresentada a avaliação dos dados primários dos principais ensaios clínicos, onde o uso do Cypher aumentou em 0,6% o risco de trombose e a aplicação do Taxus em 0.4%. Em outras palavras, 2-3 pessoas em 500 apresentam trombose comparada ao uso de stents sem tratamento farmacológico. Em termos populacionais, essa proporção tem impacto muito grande, além de implicar no uso continuado de medicação antiplaquetária por longo tempo.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

WSJ: Medicare restringe a "auto-referência" de ressonâncias magnéticas.

The Wall Street Journal (23/10/06) informa que autoridades federais americanas preocupadas com exames desnecessários e aumento de custos estão tentanto reduzir o rombo (to shrink loopholes). O Ministério da Saúde local está tentando impedir a auto-referência, ou como escrito to crack down on the practice of "self-referral," in which a doctor has a financial interest in tests or other services he or she orders for a patient.
Os custos de imagem são os principais do sistema Medicare, do governo federal para idosos com aumento de 20% ao ano desde 1999. Em 2005, Medicare gastou US$ 7 bilhões para tomografias e ressonâncias magnéticas. Por ser, o principal segurador, provavelmente a política do Medicare será seguida pelas empresas privadas.
Para exemplificar a situação atul, o jornal informou que a Siemens distribuiu um comunicado aos otorrrinolaringologistas estimulando a compra ou leasing de aparelhos de ressonância. Segundo a empresa, um aluguel de cinco anos por US $477,000 propiciará um rendimento de US$843,000 para cinco exames encaminhado por dia e, de US$2.1 million no caso do encaminhamento de 10 pacientes ao dia.
Comentário: se os Estados Unidos têm problemas dessa natureza, o que dizer do Brasil, com recursos bem menores, mas com a mesma volúpia de consumo de exames diagnósticos?

Planos de saúde ampliam serviços próprios

Valor Econômico (23/10/06) informa que a Medial Saúde captou R$500 milhões na bolsa de valores para ampliar os serviços próprios com a compra de um novo hospital. A empresa pretende aumentar de 39% para 50% das despesas de sua carteira nos próprios da empresa. Outra forma de redução de custo será a compra de laboratório clínico para fugir do controle das duas principais empresas, Fleury e Diagnóstico da América. A reportagem informa que a opção de serviço próprio foi também adotada com êxito pela Amil e Unimed Paulistana.
Comentário: o assim chamado “terceiro pagador”, no caso os planos de saúde não estão mais agüentando ficar no meio da corda entre hospital e cliente. A opção pela operação de clínicas e hospitais próprios reduzirá custo, principalmente o decorrente de honorários médicos.

domingo, 22 de outubro de 2006

Haim Gruspun: médico, psicólogo, advogado, escritor, intelectual...

Morreu Haim Grunspun, médico formado em 1952 na FMUSP e, com longa carreira na psiquiatria e psicologia infantil. Convivi com ele quando estudante de Medicina (lá nos anos 70) pela amizade que tinha com seu filho Henrique, passei a noite da invasão da PUC em 77 em sua casa, meio refugiado. Depois, na época da residência foi um bom conselheiro em relação médico-paciente. Poderia ter sido um médico popstar, mas sempre preferiu se expressar nos vários livros que publicou na sua área de conhecimento. Há muito tempo não o via. Para mostrar como foi sua carreira: judeu, teve direito a "missa" de sétimo dia em colégio católico. Haim!

sábado, 21 de outubro de 2006

Homicídios: imprensa e estatuto das armas

O Estado de S. Paulo (21/10/06) esconde um dado importante nas páginas internas: a queda de homicídios no Estado no terceiro trimestre em relação ao segundo de 2005 e no mesmo período de 2005. No primeiro semestre de 2006 ocorreram 1129 homicídios contra 1422 em 2005, ou seja uma queda de 20%, mesmo como os famosos ataques do PCC. Interessente não ter nenhuma chamada de capa! A queda dos homicídios na cidade, estado e no Brasil é um fato que merece ser muito discutido porque as causas são muitas e, merecem ser esclarecidas para que possam ser melhor implementadas. Porém, há um receio na imprensa em noticiar fatos agradáveis. A velha história do cão que mordeu o homem!
Hoje, completa um ano do plebiscito do controle de armas. Infelizmente, uma chance jogada fora para o estabelecimento da plena cidadania e, da segurança individiual contra acidentes domésticos, homícidios intradomiciliares e, suicídios. Irônico seria que se caso aprovado, os defensores da proposta vencida no plebiscito estariam mostrando o impacto positivo da redução das armas. Esse fato mostra que as relações de "causa e efeito" nas relações sociais é muito complexa e, a manipulação política muito provável. Cabe àqueles que conseguem ainda pensar além de Veja e CartaCapital discutir e avançar na compreensão desse e outros fenômenos.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Aumenta exportação de equipamento médico-hospitalar

Valor Econômico (19/10/06) informa que a indústria de equipamento médico-hospital aumentou 33% de R$ 46,3 milhões do primeiro semestre de 2005 para R$ 61,3 milhões no mesmo período desse ano. Considerando a defasagem cambial é um bom desempenho para um setor que fatura quase R$3,3 bilhões ao ano considerando também as importações. Calcula-se hoje que com material nacional é possível equipar 90% de um hospital geral. Na reportagem há vários relatos de fabricantes afirmando que a qualidade do nosso material não fica devendo nada aos demais. O Estado de São Paulo concentra 85% das empresas da área.
Comentário: esse fato é auspicioso porque permitirá (1) aumento da produção e redução do preço unitário devido a ganhos de escala; (2) melhoria da qualidade para atender a mercados mais exigentes com marcas regulatórias inflexíveis (houve investimento considerável para obtenção de certificados de qualidade; (3) aumento do número de patentes brasileiras.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Mais um golpe contra os stents: EVA 3S

O tratamento da doença aterosclerótica nos diversos territórios arteriais é motivo de polêmica em vários níveis: (1) mudança de "estilo de vida" vs tratamento medicamentoso; (2) tratamento medicamentoso vs intervenção cirúrgica; (3) cirurgia ou angioplastia com stent (foto); (4) stent nú versus stent revestido. O The New England Journal of Medicine (18/10/06) divulga o resultado do ensaio clínico francês EVA-3S que comparou tramento cirúrgico clássico com o implante de stent em pacientes com obstrução da artéria carótida e com sintomas. O resultado foi que após 30 dias da intervenção, a taxa de novo acidente vascular cerebral ou morte foi de 3,9% no grupo cirúrgico e 9,6% no grupo stent. Em seis meses a diferença continuava significativa entre os dois grupos, favorecendo a cirurgia.
A comparação de técnicas cirúrgicas, onde a habilidade e a curva de aprendizado interferem sempre deixam margem à dúvidas mesmo depois de ensaios clínicos como esse. Do ponto de vista econômico, a aplicação do stent é mais rentável para os setores dinâmicos e centrais da economia, leia-se Estados Unidos - únicos fabricantes do equipamento.

Mais um fonte da juventude que secou

Na segunda-feira (16/10/06), o Diário de S. Paulo foi o único órgão de imprensa a valorizar o Dia da Menopausa. No artigo, um propagandista da indústria farmacêutica alega que ensaios clínicos , como o Women´s Health Iniative eram "polêmicos". Pior, o artigo induz a erro de prescrição da hormonioterapia feminina, que nem a bula do principal remédio utilizado, o Premarin, indica, ao contrário, não recomenda e , adverte contra o uso da estrogênioterapia para prevenir doença cardiovascular. Hoje, quarta-feira o The New England Journal of Medicine divulga um ensaio clínico sobre outra proposta de reposição hormonal: testosterona, hormônio masculino tanto para homens ou mulheres idosos com níveis baixos de deepihidroandrosterona (DHEA) e de testosterona. Não precisamos gastar tempo para contar que após de dois anos de reposição não houve qualquer ganho na qualidade de vida na população testada. Como já citamos aqui, Brown-Sequard foi pioneiro há cem anos na hormonioterapia utilizando extratos de glândula de cães. Há poucos anos, pesquisadores australianos mostraram que a quantidade no experimento de Brown-Sequard era menor do que o fisiológico. O resumo do estudo acima pode ser lido em http://www.nejm.org. Em tempo, o DHEA é vendido nas lojas de vitaminas dos Estados Unidos há décadas.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Disney e a obesidade infantil

A Disney adota atitude inédita para evitar a obesidade infantil. Segundo Robert Iger, diretor da companhia, a Disney somente autorizará o uso do seu nome e de seus personagens em produtos destinados a crianças que sigam diretrize adequadas em termos de calorias, gordura, gordura saturada e açúcar. A Disney também planeja retirar alimentos ricos em trans fats servidos nos seus parques temáticos. Alguns produtos como bolos de aniversário e balas ainda não serão retirados do mercado, provavelmente por motivos contratuais.

domingo, 15 de outubro de 2006

Vacinação para pneumococos: devagar com o andor!

Um pressuposto básico para se acreditar nos dados e qualidade de sistemas de saúde em qualquer país é a existência de imprensa livre, ministério público atuante e poder judiciário independente. Entendam o recado a quem merecer. O pressuposto seguinte para a credibilidade do sistema é a crítica às três instituições acima citadas. Nesse domingo (15/10/06) o Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo deram um destaque exagerado à vacinação para pneumococos. Ou melhor, abriram uma porta de discussão que faltou apresentar um dos jogadores importantes nesse jogo: o Sabin Vaccine Institute que apesar de ser organização não-lucrativa faz um lobby (legítimo, legal e ético, porque não empurra bobagem), mas representa uma força cujo objetivo é a venda de vacinas. Tudo bem, vender não é proibido, nem imoral, porém os interesses devem ser esclarecidos aos leitores. Nas reportagens seria importante noticiar que que o Instituto realizará entre 13-14 de dezembro, o Second Regional Pneumococcal Symposium sem a participação de pesquisadores do Brasil (há brasileiros como o presidente do Instituto, Ciro de Quadros) para discutir a oportunidade da vacinação. Em tempo, sou favorável à vacinação antipneumocócica, mas aonde estão nossos especialistas? Na platéia? Abaixo o programa (muito interessante)

Objectives The Second Regional Pneumococcal Symposium will bring together policy makers, national public health and financial authorities, pediatric and infectious disease societies, scientists, researchers, bilateral and multilateral agencies, and other partners involved in supporting immunization programs in the Americas. Participants will benefit from seminars that: Review the epidemiology of pneumococcal disease, including estimates of the health and economic burden, Summarize the status of pneumococcal vaccine development and implementation. Identify key actions for the advancement of pneumococcal disease prevention in the Americas.
Venue São Paulo, Brazil has been chosen as the venue for the pneumococcal symposium. The Conference will be held at the Sofitel Hotel December 13-14, 2006.
Conveners: Albert B. Sabin Vaccine Institute; Pan American Health Organization ;GAVI's PneumoADIP at Johns Hopkins; US Centers for Disease Control and Prevention

Scientific Organizing Committee
Dr. Carlos Castillo-Solorzano, Pan American Health Organization
Dr. Ciro de Quadros, Albert B. Sabin Vaccine Institute (Secretary)
Dr. Orin Levine, GAVI’s PneumoADIP
Dr. Cynthia Whitney, Centers for Disease Control and Prevention and Prevention
Main Session Topics
Global Pneumococcal Epidemiology
Pneumococcal Epidemiology in Latin America
Impact of Conjugate Vaccines: Direct and Indirect Effects
Issues in Conjugate Vaccination and Vaccine Development Update
Opportunities for the Introduction of Conjugate Pneumococcal Vaccine
Perspectives on the Global Prevention of Pneumococcal Disease
Agenda
A working agenda will be posted on the conference website.
Poster Presentations
Poster submissions can be made through the Abstract Submission menu.
Contact Information Albert B. Sabin Vaccine Institute - 1889 F Street NW Suite 200S - Washington, DC 20006 Phone: (202) 265-6515 and (202) 842-5025 Fax: (202) 842-7689
ana.carvalho@sabin.org

sábado, 14 de outubro de 2006

Direto ao poder decisório em duas conferências decisivas.

Amigos e leitores desse blog questionam o porquê do destaque à indústria farmacêutica. A resposta é simples: a decisão do que será aplicado no país está muito mais na dependência da definição desse setor em acordos internacionais do que nas instâncias de decisões do Sistema Único de Saúde.
Considero melhor entender a lógica e, negociar com quem decide de fato do que ficar à mercê de três "pragas" atuais: speakers acadêmicos; empresas de relações públicas das farmacêuticas e, as ONGs de portadores de doenças (criadas somente quando há medicamento a ser comprado pelo governo). Essas são as três pontas de lança que impulsionam um produto goela abaixo das instâncias das três esferas de governo com a participação decisiva de revistas semanais com suas capas famosas. Bem, uma revista já está bem conhecida pelo modo de agir.
Tudo isso para indicar para quem tiver possibilidade de assistir, dois eventos de interesse, um sobre vacina e outro sobre novos medicamentos. Enfim, chega de intermediários, vamos às fontes. A página de referência é http://www.gtcbio.com/
4th International Conference on Vaccines: All Things Considered
Washington, 16-17 de novembro de 2006
1. New Targets and Technologies for Vaccines
2. New Vaccines for Children and Adults
3. Vaccines in Development
4. Vaccine Policy and Biodefense
5. Pandemic Influenza6. Vaccines for Emerging Markets
2nd Modern Drug Discovery & Development Summit
Filadelfia, 4-6 de dezembro de 2006
2. Model Organisms in Drug Discovery
3. CNS Diseases and Drug Discovery
4. Nanobiotechnology in Drug Discovery
5. Antibody Discovery and Development
6. Drug Delivery Technology
7. Medicinal Chemistry
8. Epigenetic Cancer Therapy
9. Stem Cell Research and Regenerative Medicine
10. Drug Safety and Pharmacovigilance
11. Biotech and Pharmaceutical Licensing and Deal-Making

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

India recebe pacientes americanos e de outros países.

Abaixo, segue a transcrição de três parágrafo do The New York Times, sem qualquer comentário.

(1) A few weeks ago, Carl Garrett, a 60-year-old North Carolina resident, was packing his bags to fly to New Delhi and check into the plush Indraprastha Apollo Hospital to have his gall bladder removed and the painful muscles in his left shoulder repaired. Mr. Garrett was to be a test case, the first company-sponsored worker in the United States to receive medical treatment in low-cost India.
But instead of making the 20-hour flight, Mr. Garrett was grounded by a stormy debate between his employer, which saw the benefits of using the less expensive hospitals in India, and his union, which raised questions about the quality of overseas health care and the issue of medical liability should anything go wrong.
(2) With medical costs in India routinely 80 percent lower than in the United States, experts predict that globally standardized health care delivered in countries like India and Thailand will eventually change the face of the health care business.
(3) Providing health care to foreigners could generate $20 billion for India by 2012, according to a study by McKinsey & Company, the consulting firm, although McKinsey did not say how many patients that figure represents. With 150,000 overseas patients last year — though only a small fraction of them Americans — India is already the global leader in importing foreign patients for low-cost treatment. Its best hospitals have Western-trained doctors and are equipped with modern equipment.

Jeca Tatu Legal: vacina para amarelão, indicada?

O Estado de S. Paulo (11/10/06) noticia que o Instituto Sabin de Vacina, o Instituto Butantan e a Fiocruz estão desenvolvendo conjuntamente um vacina para o amarelão ou ancilostomíase. O parasita (Necator americanus ou Ancilostoma duodenalis) que por sangramento gastro-intestinal produz anemia importante. O portador mais famoso foi Jeca Tatú, personagem imortal do imortal Monteiro Lobato.
Questiono a importância dessa vacina no Brasil de 2010 quando estiver em uso (se aprovada, evidentemente). Especulo, com chance de erro, que a botina e, principalmente a urbanização intensa trouxeram o Jeca Tatu para a periferia das cidades grandes, sendo agente ou vítima da violência e, estando hipertenso com risco de acidente vascular cerebral. Dois artigos para leitura, um de Luiz Rey na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical [2001; 34: 61-7] e outro do grupo que propugna a vacina publicado no International Journal of Parasitology.[2003; 33: 1245–1258]
Não consegui achar nenhum estudo empírico mostrando a prevalência desses parasista em população brasileira na última década. Quem souber que se manifeste.

Hipócrates traído: uma vez mais médicos e tortura.

Não li o livro, somente a resenha no The New England Journal of Medicine que presentou os leitores com acesso livre à crítica. Para quem tem lembraça das lambanças de médicos brasileiros no apoio à tortura, a descrição é muito ruim porque mostra a atualidade da cumplicidade dos médicos com a tortura.
Steven H. Miles escreveu um artigo no The Lancet em 2004 sob Abu-Ghraib, a infame prisão iraquiana onde médicos e enfermeiros descumpriram o compromisso básico de suas profissões.
O título do livro é
Oath Betrayed: Torture, Medical Complicity, and the War on Terror
Steven H. Miles. 220 pp., illustrated. New York, Random House, 2006. $23.95. ISBN 1-4000-6578-X
A resenha de Michael A. Grodin, e George J. Annash no NEJM encontra-se em
http//content.nejm.org/cgi/reprint/355/15/1624.pdf
O texto Abu-Ghraib its a legacy for military medicine no The Lancet pode ser lido em
Comentário: a discussão dos direitos humanos na ensino médico é fundamental para o bom funcionamento de qualquer sociedade.

Proposta do Wal Mart de venda de genéricos foi bem recebida

O The Wall Street Journal realizou pesquisa de mercado mostrando que a venda de genéricos a baixo custo (já aqui comentado) pela Wal Mart nos Estados Unidos atrairá uma grande quantidade de consumidores. Na amostra de 2.493 adultos com representativa para aquele país mostrou que um quarto sempre compra genéricos, 28% se possível compra e, soomente 19% afirmam que somente compram medicamentos de marca. Outra informação dessa pesquisa foi o local de compra de medicamentos: (1) cadeia de farmácias (Walgreens, CVS, Eckerd); 39%; hipermercados de desconto ( Wal-Mart, Target,Sam's Club) 13%; farmácia independente, 12%; online ou correio, 11%; farmácia em supermercado, 10%; farmácia em hospital ou centro de saúde, 5%; qualquer lugar, 3%; nunca compra remédios, 7%.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

piauí: sem "medicina & saúde".


O site “No Mínimo” fez uma resenha de uma nova publicação, a revista semanal “piauí”. O destaque fica para o comentário sobre a ausência de qualquer artigo relacionado a medicina e saúde na nova publicação.

Também não encomendaram a médico algum o decálogo para uma vida longa, nem a um mísero personal trainer sua lista de dicas de boa forma. Tudo isso está tão ausente da “piauí” quanto aquelas sensacionais matérias que proíbem – para no mês que vem reabilitar – o cafezinho, o ovo frito, o chocolate ou o nabo. Coma, não coma, faça, não faça, procurei esses imperativos com lupa nas 70 páginas de papel de livro (pólen soft 70g), em tamanho grande (26cm x 35cm), e não achei nenhum. Nem para remédio. Também não achei nenhuma matéria sobre remédio.

Farmácia Popular

Cometi um erro histórico com Miguel Arraes. Recebi um comentário educado de seu filho, nosso colega Luiz. A correspondência está no post abaixo. Pior, não atentei ao fato que Eduardo Campos, neto de Miguel, concorre ao governo de Pernambuco. Longe daqui qualquer incursão político partidária. Sempre enfatizo que as grandes mudanças ocorrem no consenso das forças políticas que impoem a sua vontade às forças econômicas. A Luiz, novamente obrigado pelo alerta.

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

O mercado farmacêutico se adapta aos genéricos e co-pagamento.

Causa estranheza ao visitante do país, mais especificamente de São Paulo, o número elevado de farmácias. Sem dúvida temos um número grande que proporciona competição, ao contrário dos Estados Unidos, onde há quase monopólio em algumas cidades. No DCI (07/10/06) revela alguns dados interessantes sob o ponto de vista de um distribuidora de medicamentos, a Panarello: (1) o medicamento genérico já representa 14% das vendas no país e, é responsável pela redução de preço dos medicamentos de marca; (2) as compras do governo aumentaram de 11% para 16% em 2006 do total de medicamentos; (3) três quartos do faturamento das farmácias vem da venda de medicamentos de prescrição; (4) a indústria farmacêutica está negociando diretamente com as grandes redes (11% das vendas dos laboratórios) , aumentando os descontos; (5) os atacadistas (74% das vendas dos laboratórios) estão com dificuldades em repassar descontos para os pequenas e médias farmácias; (6) as distribuidores, entre elas a Panarello, estão investindo na organização dos pequenos e médios para enfrentar a concorrência das redes; (7) o co-pagamento do governo federal já tem impacto no comércio varejista, os pequenos e médios deverão se organizar para aderir ao processo que envolvem investimento em informática.
Comentário: posso ser otimista em demasia, mas assiste-se a um raro acerto entre a eficiência da iniciativa privada e o papel regulador e estimulador do estado. O próximo passo será exigir e controlar as medicações prescritas, a somente - ironia - quem tiver prescrição médica. A política de genéricos (sempre bom lembrar que foi proposta do deputado Eduardo Jorge, então no PT e, aplicada pelo então ministro José Serra) e, agora o fracasso da Farmácia Popular (idéia de Arraes e Chaves), que para manter as aparências evoluiu para o programa excelente de medicamentos a custo baixíssimo para diabetes e hipertensão.

domingo, 8 de outubro de 2006

Antiangiogênese e degeração macular: uma história interessante

The New England Journal of Medicine (06/10/06) publica dois artigos originais, uma revisão e editorial sobre antiangiogênese para tratar (de fato, reduzir a evolução) a degeneração macular. A degeneração macular não é ainda a principal causa de cegueira (no Brasil, ainda a catarata; nos Estados Unidos, o diabetes), porém em poucas décadas será a causa número um porque a melhoria do tratamento do diabetes e, o aumento da sobrevida em geral aumentarão o número de idosos propensos a desenvolver a degeneração macular e, evoluir para cegueira. O único fator de risco para a degeneração macular é o tabagismo, mesmo assim ele explica muito pouco, afinal a doença já era conhecida no século XIX. O tratamento está vindo de medicamentos que “curariam o câncer”, os antioangiogêncios, como ranibizumab e o bevacizumab. Os primeiros ensaios clínicos foram “excitantes”. Vamos aguardar o que virá, porque se confirmar esses resultados a longo prazo com pouco risco haverá um tratamento efetivo para a doença. A história é interessante porque uma das maiores barrigas do "jornalismo médico" foi em 1998 quando Gina Kolata publicou no The New York Times que o câncer estaria curado em 2 anos com o advento da antiangiogênese. Até agora, o impacto dessa classe é quase nenhum, mas a perspectiva para o tratamento da degeneração macular tornará essa classe comercialmente muito, mas muito mais interessante. Todos os textos estão acessíveis somente para os assinantes da revista ou para quem tiver acesso aos periódicos CAPES. Acima, foto mostrando fotografia da degeneração macular em homem de 93 anos publicada no NEJM.

llegais sofrem mais com as doenças da limpeza do WTC

The Washington Post (08/10/06) relata o drama dos imigrantes ilegais que trabalharam na limpeza dos destroços do World Trade Center depois do 11 de setembro de 2001. Foram ao todo 40 mil trabalhadores que fizeram a limpeza manual porque o uso de máquinas e tratores estavam contra-indicados. Como já foi provado, os trabalhadores independentes da situação legal apresentaram tosse (33%), produção excessiva de escarros (24%) e chiado (18%). As grávidas tiveram filhos com peso menor do que o esperado. A alcalinidade elevada da poeira produziu hipereatividade bronquial, tosse persistente e, devido à alta concentração de asbestos há risco futuro maior de mesotelioma.
Entre os trabalhadores havia grande quantidade de mexicanos, centro-americanos, chineses, russos e poloneses ilegais que por esse motivo foram alijados de atenção médica. Devido a essa situação, o grupo Beyond Ground Zero conseguiu atendimento e recursos da Cruz Vermelha para atendimento dos “ilegais”, porém vários deles já se dispersaram no país ou voltaram ao local de origem.
O trabalho de PJ Landrigan e colaboradores mostrando os riscos dos trabalhadores que limparam o Ground Zero pode ser acessado em Health and environmental consequences of the world trade center disaster. Environ Health Perspect. 2004;112:731-9.

sábado, 7 de outubro de 2006

Publicação obrigada a reduzir os preços dos medicamentos


The Wall Street Journal (07/10/06) informa outra origem do aumento dos custos médicos nos Estados Unidos, principalmente da assistência farmacêutica, a mais cara do mundo. Há vários anos a Hearst Corporation publica uma revista de circulação restrita - First DataBank - indicando o que seria o preço médio praticado nas farmácias do país. No entanto, em 2002, a publicação aumento expressivamente o preço dos remédios, chocando até fabricantes como a Glaxo-Smith Kline que não entendeu o aumento de produtos da empresa cujo preço de venda no atacado continuava o mesmo. Em Boston, um juiz deu ganho de causa de várias instituições que financiam a compra de remédios, com os sindicatos e, obrigou a publicação a rever o preço praticado. A revista não soube explicar de forma convincente a medida adota que beneficiou as grandes redes distribuidoras de remédios e, causou prejuízo aos planos de saúde. A questão básica foi o preço referência publicado e, não aquele originário do fabricante. Acima, o lucro de alguns medicamentos, após a mudança do preço no First DataBank.

Farmacêuticas aumentam gastos com publicidade nos Estados Unidos.

A Associated Press divulgou que as indústrias farmacêuticas americanas aumentaram em 9% os gastos em publicidade na primeira metade de 2006 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Isso significa US $ 2,48 bilhões em seis meses. Os gastos são para publicidade em revistas e financiamento de campanha para alerta de doenças. As revistas ficaram com 34% da receita publicitária das farmacêuticas e a televisão 59%. Jornais somente 2,9%.
Comentário: uma explicação para o aumento dos preços dos medicamentos foi a liberação da propaganda direta nos Estados Unidos. Com isso houve desvio de recursos do setor produtivo, para o comercial. Depois, as indústrias não sabem porque não tem um portfolio atrativo e renovado.

Ranking das farmacêuticas no Brasil e a licença de genéricos.

Valor Econômico (06/10/06) noticia o ranking de vendas das farmacêuticas no Brasil: Sanofi-Aventis; EMS-Sigma-Pharma; Aché; Medley; Novartis; Pfizer; Eurofarma; Schering-Plough; Boehringer; Schering do Brasil. O destaque foi o aumento das vendas da Medley graças ao acordo com a Abbott que permitiu a comercialização da sibutramina - para emagrecimento - antes da expiração da patente da empresa americana. Apesar de não estar na agenda imediata de nenhuma empresa nacional, a congregação e fusão de todas elas e, posteriormente com outras da Argentina será um imperativo no agitado mundo das farmacêuticas.

Fraudes de usuários em convênios médicos

Gazeta Mercantil (05/10/06) publica artigo de Carlos Fagundes, diretor da empresa Polimed apresentando um problema muito conhecido, mas pouco discutido: a falsidade ideológica em convênios médicos, onde o segurado permite que outra pessoa - parente ou amigo - passe por ele para se beneficiar de consulta, exame ou mesmo cirurgia. Muito discutido, muito falado, mas para variar, nunca explicitamente denunciado. A fraude eleva os custos, afinal está incluindo com grande chance alguém doente. A discussão aberta do problema já é um bom início. A solução do articulista é a identificação biométrica com impressão digital, método já utilizado em academias esportivas.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Vacina para HPV: preço corrigido.

O Estado de S. Paulo (06/10/06) informa que ao contrário dos R$120,00 por dose anteriormente anunciado pelo fabricante, a vacina para o papilomavírus custará entre R$500-700. Ou seja, o esquema completo custará quase R$2.000,00. Coerente com o preço no mercado americano de US$350. Já discutimos o tema anteriormente citando Julian Tudor Hart e a inverse care law. Na comunidade européia, a tendência é vacinar todas as meninas entre 10-12 anos, proposta também do Estado de Michigan. Urge analisar e debater a propriedade da medida no Brasil, principalmente onde e para quem e, principalmente esperar o concorrente do produto da Merck Sharp Dohme, que será lançado pela Glaxo Smith Kline.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Importação de remédios do Canadá nos Estados Unidos.

The Wall Street Journal (04/10/06) noticia que a alfândega americana irá suspender a prática de reter remédios importados do Canadá pelo correio. O motivo a pressão do Congresso oriundo de milhões de idosos que se utilizam desse recurso para comprar medicamentos mais barato. O Canadá tem um sistema de compra e de controle de preço, ao contrário dos Estados Unidos, onde não há qualquer controle. Nas regiões próximas ao Canadá, como a Nova Inglaterra e Michigan é comum, idosos realizarem viagens a passeio para compra de medicamentos no país vizinho. Um equivalente do nosso sacoleiro no Paraguai, porém quase sempre compras de uso pessoal, sem revenda que nos Estados Unidos é punida severamente. Esse é um exemplo de como a questão do financiamento da saúde é complexa e, com inúmeros pontos de estrangulamento mesmo em sistema organizados como o Canadá ou muito ricos como os Estados Unidos. O Canadá tem problemas de acesso devido à universalização, porém tem uma assistência farmacêutica muito mais efetiva do que a americana.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Parceria Universidade Empresa: Aché e Unicamp

O laboratório Aché investiu R$ 2 milhões na UNICAMP para pesquisa com substância que poderá ser utilizada no tratamento do diabetes. Essa notícia veiculada na Folha de S. Paulo é rara. O relacionamento do setor industrial com a universidade é raro, principalmente na área da saúde e biotecnologia. Se a substância transformar-se em um medicamento, a Aché repassará de 2,5 a 4% para a UNICAMP.