segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Bill Gates, filantropia e prioridades em saúde

Época (27/11/06) apresenta entrevista com Bill Gates, da Microsoft, sobre a atividade de filantropia de sua fundação que terá fundo de US$3 bilhões em 2008. Fundações estrangeiras estimularam atividades na área da saúde no Brasil, como a Rockefeller que financiou a construção do prédio da Faculdade de Medicina da USP. Outras como Ford, Kellogs, Ludwig, Wellcome também atuaram e, ainda atuam trazendo recursos para pesquisas e atividades assistenciais em áreas diversas da saúde pública e da medicina. O objetivo de Bill Gates é financiar o tratamento e prevenção das assim chamadas "doenças neglicenciadas", como aids, tuberculose e malária, entre outras. Muitos brasileiros entendem que a proposta de Bill Gates é extremamente adequada à nossa realidade. Discordo.
Assumir a proposta de Gates implica negar as transformações radicais na relação urbano-rural e na dinâmica demográfica das últimas décadas. O Brasil do "Jeca Tatú" e de "Lampião" é hoje uma caricatura. Somos mais a "Cidade de Deus", um país, onde os problemas urbanos se avolumam em progressão geométrica com impacto em indicadores de saúde como doenças cardiovasculares, doenças mentais e violência.
Há dois anos escrevi editorial sobre doenças neglicenciadas, onde insistia que a doença cerebrovascular por apresentar taxas elevadas no Brasil, representava um exemplo de "negligenciamento" mais moderno. Isso porque a hipertensão arterial, causa principal da doença cerebrovascular, não era considerada como ação prioritária em saúde pública e, o tratamento dos casos agudos da doença cerebrovascular é muito ruim.
Os pronto-socorros de qualquer cidade do país estão lotados de pacientes de meia-idade e idosos com doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca, insuficiência arterial periférica, doença pulmonar obstrutiva crônica, traumas de todos os tipos. Entre as crianças há novos vírus como o sincicial respiratório e o metapneumovírus que causam mais internações que todas as negligenciadas somadas.
Bill Gates poderá ajudar as atividades de saúde pública, ou se mal orientado, poderá atrapalhar criando programas que não representam prioridade de ação de saúde pública.

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