domingo, 20 de abril de 2008

Demografia é destino: leituras do feriadão

A demografia finalmente entrou na moda. Planejar com dados de natalidade, mortalidade, nupcialidade, migração deveria ser obrigação, mas é exceção. A revista Exame traz na reportagem de capa onde utiliza todos os dados mais recentes sobre fecundidade, natalidade e mortalidade para traçar um panorama de consumo nas próximas décadas. Além disso, presenteia os leitores do site da revista com acesso a um aula de José Diniz Alves ( jose.diniz@ibge.gov.br ) que será também disponibilizada nesse blogue. Interessante notar que tanto os planejadores do SUS e, principalmente os professores da área de saúde não atentaram para a necessidade de considerar a demografia como destino, não como curiosidade. Bem, além de exame, mais três reportagens de folego.
O Estado de S.Paulo traz uma reportagem excelente sobre a situação italiana, onde a estagnação atende pelo nome de "encolhimento populacional". E, melhor ainda dados exclusivos de pesquisa feita pela UnB/UERJ sobre aborto no Brasil que reproduzo abaixo, a parte inicial
Brasileira que aborta é católica, casada, trabalha e tem filho, por Simone Iwasso
A brasileira que faz aborto é uma mulher casada, que já é mãe, trabalha fora e tem, em média, entre 20 e 29 anos. É católica e tem alguma escolaridade - completou ao menos os oito anos do ensino fundamental. A decisão pela interrupção da gravidez é tomada com o parceiro. Por se tratar de uma prática ilegal no País, ela opta por métodos caseiros, como ingestão de chás e ervas, misturados ao uso do misopostrol, medicamento de uso restrito cujo nome comercial é Cytotec. Apenas 2,5% das mulheres que abortaram ficaram grávidas ao terem uma relação eventual.
A Folha de S.Paulo publica pesquisa Datafolha com dados intrigantes sobre maternidade-paternidade: Quatro em cada dez filhos não foram planejados, por Antônio Gois.
A mais nova pesquisa Datafolha sobre fecundidade mostra que mais de 50 anos depois da invenção da pílula anticoncepcional, quatro em cada dez gestações ocorridas no Brasil não foram planejadas. E, embora isso aconteça com mais freqüência entre os mais jovens (56%) e os mais pobres (44%), não é fenômeno exclusivo deles: entre os que estão no topo da pirâmide social, 34% tiveram filhos sem planejar.
Cristiane Cabral, pesquisadora do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, lembra que esses percentuais seriam ainda maiores se fossem consideradas as gestações que acabaram em aborto, que não foram contabilizadas pela pesquisa.
"É sempre importante ter acesso à informação, mas o aprendizado sobre o manejo contraceptivo se dá também na prática, a partir da experiência de cada um, na tentativa e erro. Imprevistos acabam acontecendo, em todas as faixas etárias ou de renda", afirma.
A demógrafa Suzana Cavenaghi, da Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE) e secretária-geral da Associação Latino-Americana de População, afirma, no entanto, que não se deve confundir gravidez não-planejada com não-desejada. "É diferente, porque pode-se desejar ter o filho após saber da gravidez", diz Suzana. O Datafolha perguntou também a pais e mães: "Se pudesse voltar no tempo, você teria o mesmo número de filhos, mais, menos ou nenhum?" A maioria dos entrevistados (60%) afirmou que faria escolhas diferentes: 24% teriam menos filhos, 21% teriam mais e 15% não teriam filhos..

Um comentário:

Karl disse...

Vejo essa guinada demográfica da mídia a reboque da ridícula discussão (principalmente pelo lado europeu) da questão dos biocombustíveis.

Isso está mais me cheirando neomalthusianismo barato que preocupação demográfica.