domingo, 16 de novembro de 2008

Morte por falhas dispara no SUS ou Falhas disparam na imprensa?

Novamente, repito: não sou crítico da mídia. Mas, depois do 'aumento da aids em mais letrados', agora o Estadão publica que "Morte por falhas dispara no SUS". Eles comparam um período, janeiro a agosto de 1998 com o mesmo intervalo de meses em 2008. Apresentam que houve aumento da proporção de óbitos decorrentes de atos médico-hospitalares de 1 para cada 478 mortes em 1998 para 1 para 147 em 2008. Muito estranho. Primeiro, de onde vieram os dados de 2008? Desconheço tamanha velocidade de apuração. Segundo, a origem da informação é a declaração de óbito e, obviamente com o decorrer do tempo, a qualidade melhora. No caso específico, a subnotificação diminui. Terceiro, a declaração de óbito está longe de ser instrumento adequado a verificar erros na atenção médica.
Ou seja, não dá concluir nada, exceto que erros são mais comunicados agora do que antes, mas talvez em número menor.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A queda dos homicídios em São Paulo



Na revista Espaço Aberto da USP há uma reportagem que sintetiza pesquisa da Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo sobre a queda das taxas de homicídio na cidade publicada no livro Olhar São Paulo - Violêncai e Criminalidade. A tendência é semelhante à ocorrida no restante do estado. O dado importante e, relativamente previsível é que a distribuição espacial continua ainda sendo diferenciada na cidade.

A reportagem completa pode ser lida clicando aqui.O livro Olhar São Paulo – Violência e Criminalidade, já está disponível para a população no site da Sempla . As estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública podem ser conferidas aqui.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Aids em mais escolarizados

Esse blogue não faz parte dos "midia watchers". Porém, quando informações totalmente defeituosas são mantidas na imprensa, não há como ficar calado.
O Estadão, ontem e, a Folha, hoje insistem em repercutir notícia de que "aumenta o número de casos de aids entre mais escolarizados".
A leitura do relatado mostra a incapacidade de se trabalhar com conceitos mínimos em epidemiologia. Primeiro equívoco: a informação compara 1997 com 2007, justamente o período onde houve mais aumento de pessoas com escolaridade superior. Segundo equívoco: aumento proporcional não significa risco maior!!!! Simplesmente, pode ter havido queda muito expressiva entre aqueles com escolaridade inferior à universitária.
Bem, não somente a imprensa precisa ser criticada. Informações como essa precisam primeiro ser publicadas em órgãos com revisão por pares e, somente depois serem divulgadas ao grande público.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Entrevista ao ELSA Brasil

Entrevista na sala de imprensa do site do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, o ELSA. (http://www.elsa.org.br)
Dr. Paulo Andrade Lotufo leciona na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e é superintendente do Hospital Universitário da instituição. No ELSA Brasil, Lotufo é pesquisador principal e coordenador do Centro de Investigação SP.
Em entrevista ao site ELSA, o médico, autor de vários estudos epidemiológicos sobre doenças cardiovasculares, debate o andamento deste tipo de pesquisa no Brasil, além de falar sobre as crenças e tratamentos relacionados à atual conjuntura de aumento de doenças crônicas não transmissíveis no país.

ELSA Brasil: No Brasil, houve uma transição das principais causas de morte, de doenças infecciosas para as enfermidades crônicas não transmissíveis, em destaque as cardiovasculares. Como o senhor encara as condições do Sistema Único de Saúde para atender a população brasileira dentro desse novo contexto?
Paulo Lotufo: A transição epidemiológica em etapas é descrita somente com finalidades didáticas. De fato, o perfil das doenças se modifica no tempo de forma desigual tanto espacial como socialmente. Por exemplo, a mortalidade por doenças infecciosas é suplantada pela cardiovascular no Brasil nos anos 60, mas no Rio de Janeiro e São Paulo isso aconteceu vinte anos antes, em 1940. Mas, mesmo nessas cidades, a transição foi desigual de acordo com os segmentos sociais. Se essa dinâmica da incidência de doenças não é de assimilação fácil por cientistas, para os planejadores de saúde ela é muito mais difícil. De certa forma, o SUS está uma geração em descompasso com a realidade. Exemplifico: somente agora a hipertensão e diabetes foram alvo de uma política efetiva de controle com o co-pagamento de medicamentos nas farmácias. Aliás, um sucesso que o próprio governo federal não divulga e capitaliza a seu favor. Porém, essa proposta de assistência farmacêutica já era defendida pelos pesquisadores da época há mais de 20 anos, sem qualquer eco no Ministério e secretarias da saúde, cujos dirigentes raciocinavam como se o país estivesse nos anos 50. Agora, temos uma pletora imensa de idosos em pronto-socorros com insuficiência cardíaca, doença pulmonar obstrutiva e fraturas de fêmur, por um lado, e redução expressiva das taxas de fecundidade e natalidade, por outro lado. Mas, ainda há iniciativas em criar institutos da criança ou assemelhados pelo país afora.
E.B.: Estudos epidemiológicos sobre a efetividade de programas e serviços de saúde direcionados à prevenção e ao tratamento de doenças cardiovasculares têm sido desenvolvidos no Brasil?
P.L.: Sim, há cada vez mais estudos. A iniciativa do Ministério da Saúde, em conjunto com as Fundações de Amparo a Pesquisa do PPSUS, foi excelente. Aqui em São Paulo, na equipe que desenvolve o ELSA no Hospital Universitário, realizamos dois projetos. Um dos projetos identificou as internações evitáveis, por isso chamado de EVITA, e criou tecnologias de ação na atenção primária a programas de prevenção cardiovascular. Em breve, estaremos oferecendo um curso de especialização em doenças crônicas não-transmissíveis dirigidas inicialmente a médicos para que atuem na promoção de saúde, prevenção primária e secundária, aplicando os conhecimentos desse projeto. O outro projeto, com apoio do CNPq e FAPESP, é o Estudo de Morbidade e Mortalidade do Acidente Vascular Cerebral (EMMA) que estuda incidência, sobrevida e incapacidade com base hospitalar na fase 1, a mortalidade na fase 2 e a prevalência na fase 3. As informações dessa pesquisa orientarão a execução de ações de prevenção, tratamento e reabilitação.
E.B.: Existem muitas crenças errôneas em relação às doenças cardiovasculares, entre elas as de que tais males atingem apenas idosos e homens. Como evitar que tais idéias continuem se propagando, inclusive entre os profissionais da área médica?
P.L.: Sim, havia um estereótipo de que o “cardíaco” era um paulista ou carioca investidor da Bolsa de Valores, que habitava a ponte-aérea Rio-SP. Coube à atual geração de epidemiologistas demolir essa bobagem. O risco de morte por acidente vascular cerebral de um habitante da periferia de São Paulo ainda é o dobro do morador de regiões afluentes. Apesar da incidência e prevalência maior entre homens e idosos, as taxas de mortalidade na faixa dos 45-64 anos no Brasil ainda são das maiores quando comparadas à de outros países, principalmente entre as mulheres.
E.B.: Ainda que as doenças cardiovasculares sejam a principal causa de morte entre as mulheres, a preocupação com a saúde cardíaca feminina é recente. O que o reconhecimento desse dado implica no atendimento médico da mulher?
P.L.: A mulher é vítima da ginecologia, sempre gosto de brincar com o meu colega, Edmundo Baracat, professor de ginecologia aqui na USP. Incrível, mas mesmo setores feministas sempre viram a assim chamada “saúde da mulher” como algo relacionado à genitália e às mamas. Há uma obsessão em relação ao câncer, mas a chance de morte por doença cardiovascular é cinco vezes maior do que morrer por neoplasia de mama. O ELSA será um momento para testar a minha hipótese de que a sobrecarga de trabalho da mulher brasileira traz conseqüências terríveis refletidas na obesidade, tabagismo, hipertensão e diabetes.
E.B.: Em que estágio se encontra o campo de pesquisas epidemiológicas em doenças cardiovasculares no Brasil?
P.L.: Repetimos aqui uma seqüência que outros países já trilharam. Primeiro, os estudos de mortalidade pela simplicidade e baixo custo; depois, os inquéritos populacionais, caros e com muitos dados, mas com potencial baixo em comprovar hipóteses; agora, estamos com o ELSA avançando nos estudos observacionais. O próximo salto para 2012 será um ensaio clínico de grande envergadura. Aqui, em São Paulo, além das “mulheres ELSA, EMMA, EVITA”, temos também o projeto Avaliação do Grau de Aterosclerose em Adultos e Adolescentes, o AGATAA, que tem como objetivo avaliar populações específicas para verificar o grau de aterosclerose. O primeiro estudo está sendo realizado em pacientes HIV positivo em uso ou não de terapia antiretroviral. Um grande equívoco é insistir em estudos de prevalência, quando coortes ou ensaios clínicos trazem muito mais respostas às nossas indagações.
E.B.: E o que representa o ELSA neste cenário?
P.L.: Não sou modesto. O ELSA é um sucesso porque conseguiu colocar as doenças cardiovasculares e o diabetes na agenda da pesquisa epidemiológica brasileira. Ele é incrivelmente complexo, com muitas variáveis em estudo e, muitos desfechos a serem conferidos no tempo. Afirmei na inauguração do ELSA em São Paulo que se trata de projeto que visa a próxima geração, não a próxima eleição.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Reputação em Chamas

Cada vez me horroriza mais a sede de justiça daquele setor que o jornalista Jânio de Freitas denominou "classe média raivosa". Quem não pode gastar na Daslu deve ter ficado satisfeito com a prisão da sua proprietária da forma como foi feita. Quem não gostou de Celso Pitta deve ter se sentido vingado com sua prisão de pijamas. Um setor da blogosfera saudou a prisão de Daniel Dantas mais do que a conquista do pentacampeonato, agora viu-se os desmandos da PF, que atingiram o próprio autor dos desmandos iniciais. Agora, o sério problema das licitações em hospitais expõe personalidades médicas do mais alto quilate, queimando reputações contruídas com zelo por décadas.

Angola e o Brasil

Na semana anterior estive em Luanda, Angola, a convite da Clínica Multiperfil para apresentar junto com a professora Isabela Benseñor palestras sobre doenças cardiovasculares, em particular hipertensão arterial. Participaram também colegas da Medicina USP, David Uip, Dario Birolini e Marcos Boulos. O tempo foi curto lá, mas o suficiente para consolidar a idéia que será impossível ao Brasil desconhecer Angola. Empresas da construção civil já sabem disso, a Globo e Record dominam a televisão. Agora, caberá ao setor de educação e saúde colaborar na reconstrução do país. Vejam só: o governo angolano aprovou 150 bolsas de graduação em Cuba. Ora, a USP, UNIFESP, UNICAMP e UNESP podem fornecer vagas mais do que suficientes, somente em São Paulo, para suprir demandas e, também formar a elite científica daquele país.

Júpiter abala a Terra

Na reunião anual da American Heart Association que se realiza em Nova Orleans foi apresentado o JUPITER. Ensaio clínico que mostrou que uso de estatina reduz a incidência de infartos do miocárdio, acidente vascular cerebral, internação por angina instável e morte cardiovascular em indivíduos com colesterol normal, mas com valores elevados da proteína C reativa. Há muito a discutir. Importante que o professor Francisco Fonseca da UNIFESP participou do estudo e, quando ele voltar dos Estados Unidos será entrevistado pelo blogue. Aguardem. O texto completo pode ser acessado no site do The New England Journal of Medicine. O autor do texto é Paulo Ridker com quem trabalhei em Boston e, a segunda autora Eleanor Danielson é a mais fantástica organizadora de pesquisas que conheci. Interessante que administradores não recebiam autoria, agora, merecidamente Ellie está na lista.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Momento de lucidez vindo de Boston: "menas" concorrência em áreas vitais

Reproduzo, post do Running a Hospital, do diretor do Brigham and Women´s Hospital, afiliado à Harvard Medical School. Ele critica a competividade excessiva entre hospitais, principalmente no transplante de órgãos sólidos. O quadro apresentado em Boston, nada difere do existente em São Paulo, onde há excesso de equipes e, resultados que ficam aquém do da qualificação médica existente. Isso porque os resultados dependem de um número grande de fatores que necessitam ser rigidamente padronizados.
The downside of competition
A funny moment the other day.The CEOs of the larger Harvard hospitals founds ourselves in several meetings over the course of consecutive days, working together on areas of common concern -- clinical research, supporting greater diversity on our staff and faculty, and stimulating enhancements between engineering and medical care. These were great sessions, with a clear commonality of interest and purpose, characterized by healthy give-and-take in friendly and helpful discussions, and good progress. After the last of these sessions, one of my colleagues turned to the rest and said, "Okay, enough collaboration for today. Let's go back to competing."He was joking, of course, and we had a good laugh; but, as I have
noted before, this is in fact the nature of the relationship. It has its advantages and disadvantages.I think the major disadvantage is that the competition in the clinical arena is so intense that we end up duplicating services that could be consolidated or otherwise rationalized. (In saying this, by the way, I also mean to reference the duplication that also occurs when we include the non-Harvard hospitals in Boston.) I have talked about this before, focusing on the area of solid organ transplants. If there are fewer than say, 400, adult liver, kidney, and pancreas transplants in all of Eastern Massachusetts per year, does it make sense to spread them out among six or seven hospitals located within 15 miles of one another?Each hospital has to make major investments in staff and equipment to carry out a proper transplant program, and the current organization makes economies of scale impossible. It also means that each program is unlikely to be highly profitable -- or perhaps profitable at all -- because it lacks sufficient volume to spread the fixed costs across a large enough patient base.And yet we persist in this fashion, responsive to the demands and wishes of our physicians and because we have a mindset that we cannot be a "real" hospital unless we offer this service to the public.As I have said in recent forums and elsewhere, we need to be protected from ourselves in this regard, either by the insurance companies or the state government. Thus far, though, they have been too timid to act. The public ends up paying the price for this inefficiency.

domingo, 2 de novembro de 2008

Bendita crise econômica: a Big Pharma fora da jogatina

Não sou crítico de mídia. Mas, faltou uma análise mais econômica para explicar o que existe de errado com os remédios. Respondo, nada há de errados com os remédios. O que está errado é a Big Pharma. Mas, quem na Big Pharma? Pesquisa & Desenvolvimento? não! Departamento Médico? não! Departamento de Marketing? não! CEOs? em parte. A resposta é banal e um lugar comum: o capitalismo "selvagem". As indústrias farmacêuticas foram transformadas junto com o setor de informática em um dos mais lucrativos setores para o capital especulativo em bolsas de valores. Utilizando informações fajutas divulgadas em órgãos de imprensa confiáveis, o ganho com ações foi fantástico. De quebra, arrrebente com o FDA e, crie a expectativa da vida eterna. Pronto, a fórmula para o lucro está definida com ganhos astronômicos na Bolsas de Valores.
A principal diretriz foi de que todo medicamento novo, patenteado, é bom para todo mundo, sempre, sem qualquer limitação de uso. Com isso, remédios muito úteis foram "queimados". Exemplo: inibidores da Cox-2, excelentes para uso por poucos dias. Mas, forçaram a barra para uso crônico.
Agora, espera-se que quem entende de remédios comande a estratégia de lançamentos de medicamentos na Big Pharma. Porém, a realidade é que CEOs que ganharam bônus incríveis com a valorização das ações continuam morando bem nos subúrbios americanos ou nas vilas européias. Mas, pesquisadores e médicos corretos que trabalham na Big Pharma ao redor do mundo, correm o risco de desemprego.

o caso Acomplia: estava escrito nas estrelas

Na úlltima semana estive com vários pesquisadores que chegaram a trabalhar com o rimonabant (Acomplia). Vários deles trabalham na indústria farmacêutica. A dúvida, não era sobre a retirada do Acomplia do mercado, mas sim porque foi comercializado.Atitudes vindas de cima para baixo na Big Pharma, sem ouvir os departamentos médicos e científicos terminam dessa forma.
Leia mais, notícias de ontem nesse blogue sobre o Acomplia.