sábado, 30 de setembro de 2006

Bayer nega informação ao FDA: o caso Trasylol

Como apresentado no post anterior, parece que o FDA está menos submisso aos interesses das indústrias farmacêuticas. Ontem (29/09/06), a agência denunciou a Bayer de não informar sobre estudo de segurança do medicamento Trasylol (aprotinina) em reunião realizada há uma semana para verificar a segurança do medicamento. A história é interessante. O tratamento do infarto do miocárdio implica em uso de trombolíticos e antiagregantes plaquetários, porém quando há indicação de cirurgia cardíaca há necessidade de ministrar um anti-fibrinolítico para evitar sangramentos. Há três medicamentos no mercado mundial, o ácido epsilon aminocaproico, o ácido tranexamico e a aprotinina. Os dois primeiros são análogos da lisina e a última substância um inibidor da protease com ações semelhantes e, preços bem distintos, inclusive no mercado brasileiro. O Trasylol é exclusividade Bayer. Em janeiro de 2006, The New England Journal of Medicine publicou estudo observacional comparando os três medicamentos com um grupo controle que mostrava risco maior de insuficiência renal, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral. Depois dessa publicação, o impacto foi grande e, obviamente a tentativa em desacreditar os autores foi grande, porém o FDA foi obrigado a fazer um painel a respeito do problema Trasylor que terminou com conclusão favorável ao uso do medicamento. Porém, ontem se revelou que a Bayer ocultou resultado em 65 mil pacientes, aparentemente com resultados apontando para risco maior para quem recebeu a medicação.
O texto básico - um estudo observacional - pode ser lido na íntegra na página http://www.nejm.org para leitores cadastrados gratuitamente.
Mangano DT et al The Risk Associated with Aprotinin in Cardiac Surgery. N Engl J Med 2006;354:353-65.

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Não parece, mas o FDA reage à pressão da indústria e da Nasdaq.

The New York Times (29/09/06) publica reportagem sobre o Food and Drug Administration após a crítica severa do Institute of Medicine e outros sobre a leniência da agência na aprovação de novos medicamentos. Parte da reportagem merece ser reproduzida para mostrar quem de fato manda na assistência farmacêutica: “ The Nasdaq Biotechnology Index is down about 14 percent since late February, in part on Wall Street’s perception that the F.D.A. has become a tougher gatekeeper” . Parte disso é creditado ao posicionamento da agência após o escândalo Vioxx.

Para exemplificar, a reportagem cita que Genentech não conseguiu aprovar ainda o uso do Avastin utilizado como adjuvante para câncer de cólon para câncer de mama. Outros medicamentos já aprovados na Europa estão sendo melhor avaliados como Acomplia da Sanofi-Aventis para obesidade. Somente 1 em 14 fármacos aprovados em 2005 foram aprovados de primeira.
Acima, o gráfico distribuído pelo FDA mostrando que há mais rigor na aprovação de novos medicamentos.

Cópias de medicamentos para reduzir a concorrência do genérico.

The Wall Street Journal informa que hoje o Food and Drug Administration (FDA) irá autorizar a comercialização da paliperidona, medicamento para esquizofrenia da Johnson & Johnson, uma droga derivada diretamente da risperidona, o mais vendido pela empresa com vendas de The $3,55 bilhões. Genéricos da risperidona irão ao mercado em 2008.
Essa saída da perda da patente e aparecimento de genérico já ocorreu com a Schering-Plough com o Clarinex (desloratadina) substituindo o Claritin (loratadina) e com a Astra-Zeneca com o Nexium (esomeprazole) substituindo o Prilosec (omeprazole). A Wyeth submeteu ao FDA a aprovação da desvenlafaxine, derivada do Effexor (venlafaxina) ambos para depressão e, líder de venda da empresa.
Comentário: a questão será como os pagadores privados e estatais estão ou irão reagir à essa política. A questão do Nexium já apresentada nesse blogue, quando uma a UnitedHealth Group decidiu não mais pagar o medicamento, optando por genérico equivalente. No caso dos medicamentos antipsicóticos, o maior comprador é o sistema estatal.

A .

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

China: Democracia e Saúde

Jennifer Ruger da Yale University faz uma análise da relação entre política e saúde, mais especificamente entre democracia e saúde na China. Apresenta as bases filosóficas que apóiam a necessidade da democracia para melhores indicadores de saúde e, discute três momentos da história chinesa: a grande fome de 1958-61; a epidemia de SARS, recentemente e, da epidemia de HIV/aids que continua nos dias atuais. Relaciona a piora dos indicadores econômicos à ausência de imprensa livre, judiciário independente e, eleições multipartidárias. Acrescentaria também o exemplo de ser a China, o país mais infenso ao ataque da indústria do tabaco.
O artigo encontra-se disponível no sítio do Quartely Medical Journal. http://qjmed.oxfordjournals.org/
A referência do texto é Ruger J. Democracy and health QJM 2005 98:299-304

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

A atualidade do relatório Flexner

The New England Journal of Medicine apresenta texto de acesso livre em http://www.nejm.org/ analisando o ensino médico nos Estados Unidos quase 100 anos depois do famoso Relatório Flexner. As observações atuais são interessantes, mas muito próprias da realidade americana. Importante é destacar o impacto do Relatório Flexner. Trata-se do trabalho realizado para Fundação Carnegie pelo acadêmico da Johns Hopkins University Abraham Flexner (1866-1925) analisando escolas em todos os estados americanos e no Canadá. O diagnóstico da situação foi contundente, as suas proposições foram duras: excesso de escolas, má instrução e formação, profissionais mal formados e, ausência de controle externo. A influência do Relatório Flexner foi grande para a Fundação Rockefeller que financiou a instalação nos anos 10 e 20 a Faculdade de Medicina e Cirurgia e o Instituto de Hygiene, hoje, respectivamente Faculdade de Medicina e Faculdade de Saúde Pública, ambas da Universidade de São Paulo. Uma das propostas foi a construção de um hospital-escola, no caso o Hospital das Clínicas.
O modelo flexneriano seria esconjurado pelo movimento anti-científico dos anos 60 e, persiste sendo criticado até hoje quando é apresentado como “positivista, hospitalocêntrico e biologizante”. Entre seus críticos encontravam-se pedagogos sinceros, raros. Hoje, no entanto predominam oportunistas que utilizam linguagem radical para atuar no setor privado. Criaram, organizaram e orientaram escolas médicas sem qualquer condição de funcionamento, mas que não seguem o “padrão flexneriano”, porque não tem laboratório (não é biologizante!!), nem hospital-escola (não é hospitalocêntrica!!). Uma triste associação entre os empresários do ensino e os "revolucionários" do ensino médico, esses muito bem remunerados com suas “consultorias” pelos tubarões do ensino. Por outro lado, os "positivistas e flexnerianos" estão mantendo o nível nas escolas e hospitais públicos recebendo o salário de funcionário público e, se dedicando ao ensino público e gratuito e prestando assistência à população mais desprovida de recursos.
O texto completo do Relatório Flexner pode ser lido em

Gordura trans proibida em Nova Iorque

A Secretaria de Saúde de Nova Iorque proibiu em restaurantes, o o uso de gordura artificial com ácidos graxos com disposição trans. Trata-se de atitude radical, mas que algumas redes americanas como Wendy´s , Donkin Donuts e McDonald´s já realizam de forma progressiva. A associação dos restaurantes reagiu como se fosse uma "Orwellian regulation". O chefe do departamento de Nutrição da Universidade Harvard, Walter Willett, um dos pioneiros em mostrar o risco de alimentos ricos em ácidos graxos trans aplaudiu a idéia por considerar que há um excesso de mortes prematuras originadas pelo consumo excessivo desse tipo de gordura. O tema é complexo, porém representa mais um movimento do jogo de força cada vez mais complexo da prevenção das doenças cardiovasculares. Novamente interessante se deter alguns posts abaixo na discussão da responsabilidade individual e coletiva em saúde pública.
Uma compreensão maior do problema dieta e doenças cardiovasculares adaptada e explicada na realidade brasileira encontra-se no livro de Isabela Bensenor, Orientação Nutricional, Editora Sarvier de Livros Médicos, 2005.

Tabagismo passivo: controle maior à vista.

Circulation publica pesquisa que não deverá ter impacto imediato, porém poderá deflagrar ações rigorosas de controle do tabagismo. Em 2003, o condado de Pueblo no Estado do Colorado (EUA) votou em plebiscito o Smoke-Free Air Act que proibiu o fumo em lugares de trabalho, restaurantes, bares, boliches e qualquer outro local público. Multas pesadas foram aplicadas aos fumantes e proprietários de estabelecimento. Pesquisadores de Universidade do Colorado aproveitaram a oportunidade para avaliar a proposta utilizando outro condado como controle, El Paso. A prevalência do tabagismo em Pueblo é 22,6% contra 17,7% em El Paso. O trabalho consistiu em comparar a incidência de infarto do miocárdio 18 meses antes e 18 meses depois da nova lei. O resultado foi uma queda significativa de infartos na cidade de Pueblo de 257/100.000 pessoas-ano para187/100.000 pessoas anos, ou seja uma redução de 27%. Para os habitantes do condado fora da cidade, a redução que ocorreu de 15% não foi significativa. Porém, o mais importante foi que no condado vizinho a queda foi bem menor de somente 3%. Ressalte-se que a incidência em El Paso era menor 120/100.000 pessoas-ano.
Comentário: os resultados apresentados são exuberantes, mesmo considerando que o valor inicial da incidência de infarto do miocárdio em Pueblo era bem maior do que em El Paso. Esse resultado colabora muito para explicar a redução da mortalidade coronariana em vários locais acompanhado da diminuição do tabagismo como ocorreu no Brasil. Porém, dará novo impulso para a eliminação do tabagismo passivo. O futuro dos fumantes será comprar uma campânula onde poderão exercitar o vício.
O resumo poderá ser lido em http://www.ahajournals.org , o artigo somente para assinantes ou quem tiver acesso aos periódicos CAPES. A referência é Bartechi C et.al. Reduction in the Incidence of Acute Myocardial Infarction Associated With a Citywide Smoking Ordinance. Circulation 2006; 114: 1490-6.

Ameaça ao acervo da Faculdade de Medicina da Bahia

A Tarde (24/09/06) revelou que o acervo da Faculdade de Medicina da Bahia, hoje UFBA encontra-se ameaçado pelas condições que estão armazenados. Parte das teses e textos depositadas já foram restauradas, mas urge digitalizar todo o acervo mais importante da história médica do país. Para quem visita Salvador, com grande chance vai conhecer o Pelourinho e, passa pelo Terreiro de Jesus, onde se encontra o berço da medicina brasileira. Compensa parar e, entrar para visitar sua biblioteca. É fascinante a leitura das teses de conclusão de curso. O professor Fernando Ferreira Costa, da UNICAMP, sempre lembra que a determinação genética da anemia falciforme foi realizada primeira por um aluno da UFBA – Jessé Accioly – nos Arquivos da Faculdade de Medicina da Bahia, porém a lembrança da descoberta é somente creditada ao pesquisador americano James Neel que publicou estudo parecido na Nature.
Acima, foto da Faculdade de Medicina da Bahia no Terreiro de Jesus. Ainda bem que esse prédio foi preservado, porque o prédio da nossa segunda escola, a da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro foi demolida. A terceira faculdade, São Paulo, a querida Casa de Arnaldo, continua inteira em processo de total renovação.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

EUA: Seguro Saúde aumenta mais que salário e inflação.


Nos Estados Unidos onde os empregadores costumam bancar o seguro-saúde, o prêmio dos seguros aumentou em 2006, 7,7% em relação ao ano anterior. O gasto por família coberta é de $11.480, ou seja acima do salário mínimo. Hoje, 98% das empresas com mais de 200 funcionários fornecem seguro-saúde, mas somente 60% das empresas com número menor de empregados. Mesmo quando a empresa tem a política de fornecimento de seguro, nem todos os funcionários são elegíveis. O estudo foi realizado pela Kaiser Family Foundation e, pode ser lido na íntegra em http://www.kff.org/insurance/7527/index.cfm
Comentário: a realidade do país mais rico e que gasta mais em saúde é preocupante por uma única razão: médicos brasileiros querem aplicar no país, práticas diagnósticas e terapêuticas que não conseguem ser cumpridas nos Estados Unidos, ou quando o são, a custo elevado. As empresas como a GM e Ford não agüentaram bancar o plano de saúde próprio. Para se ter idéia do problema “saúde’, a página do The Wall Street Journal pesquisou qual o principal problema que preocupava seu leitores (imaginem o nível social): 32% aposentadoria, seguido de 27% plano de saúde. Acima, um gráfico mostrando a evolução histórica com a participação dos trabalhadores e empresas.

Liberdade Individual e Compromisso Coletivo em Saúde Pública

Um texto pequeno de leitura fácil publicado em Emerging Themes in Epidemiology analisa o dilema entre a opção individual e o compromisso coletivo.O autor distingue três propostas: a coercitiva, a comunitária e a liberal. Ele também apresenta exemplos do dia a dia: o tabagismo passivo, obrigatoriedade de vacinas e, a notificação de doenças sexualmente transmissíveis. Em síntese, sua análise é a seguinte:
"Coercive policies have the obvious disadvantages, first, that they may create improper infringements of individual rights, and, second, that they may grant too great an authority to specific individuals or agencies to determine of what the public good consists. For a communitarian, there is a similar emphasis on the public good, combined with the idea that our personal interests and identities are formed out of our membership of a community with specific values, rather than the nature of the community being fixed by our collected individual interests. Again, appeal to common interests solves the problem of individual-collective conflicts, but arguably at too high a cost in terms of infringements of individual liberties. The most likely solutions lie within liberalism. Following the ideas of John Stuart Mill, liberals believe that individuals should be free to live as they think best, subject only to the limitation that their actions and choices should not cause harm to others. This captures the idea that we should respect individual rights but also identify strict limits to those rights. A difficulty is that it is sometimes controversial what counts as a harm, and how significant it has to be for public policy to act to prevent it: a good example is the contemporary debate on second-hand smoke in public places."
O texto complete poderá ser acessado em http://www.ete-online.com

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Segurança de Medicamentos: proposta radical do Institute of Medicine.

O Institute of Medicine - equivalente à Academia Brasileira de Medicina - publicou The Future of Drug Safety: Promoting and Protecting the Health of the Public. Trata-se de uma resposta ao "clamor público" do risco das drogas aprovadas pelo Food and Drug Administration (FDA) que gerou uma desconfiança dos métodos adotados pelo FDA.
O diagnóstico foi duro e rigoroso e, exige mudanças, como pode ser lido no relatório:"FDA's reputation has been hurt by a perceived lack of transparency and accountability to the public, a legacy of organization changes that have not been completed or sustained, and an apparent slowness in addressing lack of (drug company) compliance. A proposta principal será o Centro de Segurança de Medicamentos e, incluirá entre outras sugestões, que novos medicamentos sejam identificados de forma diferenciada em relação aos demais.
O texto completo poderá ser acessado na página http://www.iom.edu

DCI: disputa interna paralisa patentes de medicamentos.

O DCI (22/09/06) publica extensa matéria mostrando que as disputas entre o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) , o Ministério do Meio Ambiente (MMA) está compromentendo a patente de substância que potencialmente poderão ser incluídas no rol dos medicamentos. O MMA exige que haja comprovação que o produto "foi obtido de forma legal e, com celebração de contratos entre os participantes , como por exemplo, indígenas e gestores de reservas ambientais e, o solicitante deverá repartir com eles os benefícios".
Comentário: enquanto ficamos discutindo questões como essa, a biopirataria avança sem destemor. Aliás, desconfio de excesso de legislação em área tão competitiva.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Wal Mart vira o jogo nos EUA com genéricos a $4.

The Wall Street Journal anuncia que a rede de supermercados Wal Mart no Estado da Flórida (EUA) irá vender medicamentos genéricos por valores de até $4,00. A explicação para tal medida é segundo a empresa: " lower prices will be funded by efficiencies in the company's supply chain, "primarily in the area of logistics and technology." Wal-Mart has been cutting supply-chain costs on "everything from the manufacturer's door to the customer's hands." Outro aspecto interessante ressaltado na reportagem é que " over the next two years, analysts estimate patents on about 75 brand-name drugs, including blockbusters like antidepressant drug Zoloft and Norvasc blood-pressure medication, will lose protection. The resulting wave of new generics will help pharmacies, which get the majority of their profits from generic drugs. Profits on brand-name drugs are typically less because of the manufacturers' control over pricing and distribution."
Comentário: os preço dos remédios nos Estados Unidos é abusivo. A rede Wal Mart que é odiada pelo sindicalismo americano, mas amada pelos consumidores dá um golpe na indústria farmacêutica e nas redes de farmácias que escondem os medicamentos genéricos. Essas últimas tiveram queda importante no valor das ações.

UFBA: ótima proposta (mal apresentada) para a universidade

Finalmente algo criativo e que poderá ter alcance muito maior do que as já famosas e desgastadas "cotas". Leio em todos os jornais que a Universidade Federal da Bahia (UFBA) irá fazer uma importante mudança. Pulo as manchetes, vou para o corpo das notícias e, dou o meu destaque: a UFBA está criando o curso básico ou o college brasileiro. Isso é muito bom!! Curso único, mas com várias optativas que será a base para a admissão nos cursos profissionalizantes como medicina e arquitetura, ou que permitirá cursar após a conclusão, um mestrado em administratação, por exemplo. A idéia é excelente porque faz um diagnóstico fundamental: a maioria dos jovens de 16 anos (na Bahia, em São Paulo, nos Estados Unidos, em qualquer lugar) não tem maturidade para escolher uma profissão como são obrigados a fazer atualmente no Brasil. O ponto desnecessário na proposta bahiana foram aqueles destacadas nas manchetes em detrimento do principal enfatizado acima: o fim do vestibular e a adoção do ENEM como forma de acesso. O ENEM será o vestibular da UFBA e, aqueles interessados em nela ingressar vão se preparar tal como fazer hoje para o vestibular. Pior, será somente uma prova com um número menor de questões.
Apesar dessa enfase desnecessária do "fim" do vestibular, a proposta é excelente e, merece de início receber parte considerável dos recursos do MEC que financia as escolas privadas em um programa demagógico - Uniqualquercoisa - para providenciar as alterações estruturais na UFBA que permitam criar esse curso básico. A experiência da UFBA deverá ser monitorada por todos.
Ressalto que para o curso de medicina, um período prévio será muito importante aumento a maturidade dos alunos.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Nacionalismo e Medicamentos: Suíça incomodada

Financial Times (20/09/06) informa que Daniel Vasella, presidente da Novartis (Suíça) e também da International Federation of Pharmaceutical Manufacturers and Associations: "we are seeing healthcare nationalism coming back. From Japan to the US, it's all over the place." Esse comentário foi feito após medidas do governo polonês a favor das indústrias locais. Cita também o exemplo da Alemanha que suspendeu as compras pelo Estado de Lipitor e, adotou uma estatina genérica. O próprio Estados Unidos por questão de segurança exigiu que a suíça Roche abrisse uma fábrica de tamiflú (para gripe) em território americano.
Comentário: interessante saber que países “estatistas” como Alemanha e Estados Unidos tenham essa preocupação que ainda está distante mesmo dos mais empedernidos nacionalistas brasileiros. Quem paga imposto no seu país tem o direito de decidir como será gasto o dinheiro. Um basta precisa ser dado por todos os cidadãos e contribuintes o pushing das indústrias farmacêuticas, principalmente da Suíça, que adoram impor seus medicamentos aos serviços públicos com seus speakers, ONGs, capas em revistas semanais etc etc.

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

WSJ: corrupção, uma das causas do custo elevado da assistência médica nos EUA.

The Wall Street Journal (18/09/06) apresenta matéria investigativa mostrando que os corretores encarregados de encontrar o melhor plano de saúde para uma empresa fornecer aos seus empregados, quase que invariavelmente recebem recompensas polpudas das empresas de seguro-saúde, além do valor do contrato inicial com a empresa. Diz a matéria:
"The episode spotlights a widespread and largely invisible practice that critics say boosts the cost of health care. Many consultants and brokers who are hired to help employers get the best deal on health insurance or prescription-drug coverage have significant financial ties with the health vendors they are supposed to be scrutinizing. The ties may take the form of bonuses for bringing in business, commissions or consulting fees. Often they are disclosed only partly or not at all."
O gráfico acima mostra o aumento nos últimos anos do gasto com saúde nos EUA.

domingo, 17 de setembro de 2006

Neomaltusianos não se emendam: contradição na Folha de S. Paulo

Ontem fiz um comentário sobre o resultado da PNAD mostrando que no Brasil em 2005 chegamos a uma taxa de fecundidade de reposição populacional. Hoje, Folha de S.Paulo (caderno Cotidiano) há um comentário de Gilberto Dimenstein: "...entre as famílias mais ricas e instruída, a taxa de fecundidade é um filho por mulher. Entre as mais pobres e menos instruídas, porém, é de seis filhos por mulher". Continua o neomaltusiano de plantão:"......se disseminassem o planejamento familiar, o combate à miséria seria menos difícil".
Fiquei surpreso porque duas páginas antes no mesmo caderno encontra-se a síntese do livro "A transição da fecundidade no Brasil" de Celso Simões comparando as taxas de fecundidade nos últimos quatro censos (70, 80 ,91, 00) por educação da mãe. Naquelas com escolaridade menor do que 3 anos de estudo a taxa caiu de 7,21 (1970) para 3,46 (2000), redução relativa de 52%; entre as mães com 4 a 7 anos de estudo a taxa caiu de 4,31 (1970) para 2,82 (200), redução relativa de 34,6% e, finalmente para mães com mais de 8 anos de estudo formal houve redução da taxa de 2,67 (1970) para 1,81 (2000), redução relativa de 39,2%. A diferença entre o número de filhos entre as menos e as mais instruídas caiu de 4,54 (1970) para 1,81 (2000), redução relativa de 60%!!
Ou seja, não adianta, os neomaltusianos não se informam nem no próprio jornal que trabalham. O destaque principal do texto da boa reportagem é a frase do autor do livro, Celso Simões: "mulheres de todos os níveis procuraram reduzir o número de filhos. Isso fez com que o país fizesse uma transição demográfica que, em países europeus, levou mais de 100 anos."

sábado, 16 de setembro de 2006

Dream: o óbvio é comprovado para o diabetes

The New England Journal of Medicine e The Lancet publicaram os resultados do braços ramipril e rosiglitazone, respectivamente, para a verificar a redução da incidência do diabetes (melito, tipo 2). O estudo patrocinado pela Glaxo Smith Kline para promover o Avandia, marca do rosiglitazone chama-se Diabete REduction Assessment with ramipril e rosiglitazone Medication, ou DREAM. A crítica inicial ao estudo é o propósito de se estudar incidência de diabetes com um medicamento que altera a o metabolismo de carbohidratos reduzindo a glicemia de de forma comprovada como o rosiglitazone. Explico melhor, a definição de diabetes é baseada no nível glicêmico e, arbitrária. Obviamente, tal como aconteceu com outros medicamentos para o diabetes –arcabose e metformina – a ação do fármaco reduziria o aparecimento de diabetes. E, de fato foi o que ocorreu após 3 anos na população de pacientes com intolerância à glicose: uma redução de 22% (placebo) para 11,9 %, em outras palavras haverá necessidade de se tratar 7 indivíduos nesse período para evitar um caso de diabetes e, considerando o custo de 8mg de rosiglitazone de R$9,00/dia teríamos um custo de aproximadamente R$70.000,00 para se evitar um novo caso de diabetes. Além disso houve 0,5% de insuficiência cardíaca no grupo da rosiglitazone contra 0,% no lado do placebo, novamente em outras palavras: para cada 25 pacientes que façam uso do medicamento, um desenvolverá insuficiência cardíaca. Outro aspecto importante é que nenhum dos desfechos clínicos – exceto insuficiência cardíaca já citada - como infarto do miocárdio, angina e doença cerebrovascular se alteraram com o uso da rosiglitasone. No braço do ramipril não houve diferença alguma, uma delas relativamente estranha: a não proteção do ramipril para eventos cardiovasculares, mesmo em tempo inferior de seguimento quando comparado a outro estudo (HOPE).
No entanto, o aspecto mais relevante é quanto que esse estudo representará em ganhos para a empresa. A Reuters noticiou que “....that is good news for Glaxo, which has two new rival diabetes treatments on its heels in the form of DPP-4 inhibitors Galvus from Novartis and Januvia from Merck & Co. Inc. , ....Bullish analysts, such as those at Deutsche Bank and Bernstein, have predicted the clinical results could help lift sales of Glaxo's second-biggest product to 2.8 billion pounds ($5.3 billion) by 2010 or 2011, from 1.3 billion in 2005. But others are more skeptical, with JP Morgan not seeing a significant sales lift from the latest data given the problems of identifying suitable patients and justifying treatment. …..” The potential market to be addressed in treating them could, in theory, be worth some $15 billion a year, according to Merrill Lynch." Voltando, aos artigos, editorialistas de ambas revistas sugerem que o fundamental é dieta com menos calorias e exercício físico.Os artigos e editoriais são de acesso livre em
http://www.thelancet.com e http://www.nejm.org

PNAD 2005: taxa de fecundidade = 2,1 filhos por mulher

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) de 2005. Entre vários resultados destaco o que merecia ser manchete de todos os jornais: a taxa de fecundidade que mede o número de filhos por mulher na fase reprodutiva foi de 2,1, ou seja aquilo que é considerado como taxa de manutenção. Os neomalthusianos que pululam na imprensa não gostam disso, porque adoram falar no "programa de controle populacional" como solução para os "males do Brasil". Balela, não precisamos de programa algum, simplesmente precisamos estender os direitos reprodutivos, entre eles a esterelização cirúrgica a todos, principalmente nos hospitais públicos e unidades básicas de saúde. A lei 9263 de 12/01/96 foi tardia e, ainda é restritiva, mas sua aplicação pode garantir que o direito de escolha possa ser exercido. Outro aspecto importante é o aumento da proporção de idosos em todas as regiões do país.
Abaixo, o texto da PNAD tal como publicado e, que poderá ser consultado na página do IBGE.
"Em 2005, a de fecundidade do País, estava em 2,1 nascimentos por mulher. A Região Norte apresentou a mais alta taxa (2,5), vindo, em seguida, a da Nordeste(2,3). A menor taxa de fecundidade foi a da Região Sudeste (1,9) e as das Regiões Sul e Centro-Oeste foram iguais (2,0). As estruturas etárias regionais retratam não só os efeitos diferenciados da evolução da fecundidade e da mortalidade, como, também, de distintos fluxos migratórios. As Regiões Sudeste e Sul apresentaram as estruturas etárias mais envelhecidas e a Norte, a mais jovem. A Nordeste, refletindo seu nível de fecundidade, inferior apenas ao da Região Norte, deteve a segunda maior participação de crianças de menos de 5 anos de idade e, devido ao seu histórico processo de emigração, apresentou a terceira maior participação de idosos de 60 anos ou mais de idade. No País, em 2005, o número de idosos de 60 anos ou mais de idade superava o de crianças de menos de 5 anos de idade em 24,2%. Em 2004, esse indicador estava em 17,9%. Em 2005, nas Regiões Sudeste e Sul o número de pessoas de 60 anos ou mais de idade suplantava o de crianças de menos de 5 anos de idade em, respectivamente, 58,0% e 51,1%. Na Região Nordeste, os números desses dois contingentes ficaram próximos, mas o dos idosos de 60 anos ou mais de idade superou em 1,6% o de crianças de menos de 5 anos de idade, o que ocorreu pela primeira vez. Nas Regiões Centro-Oeste e Norte, as crianças de menos de 5 anos de idade ainda eram mais numerosas que os idosos. Entretanto, na Região Centro-Oeste os números desses dois contingentes não estavam muito afastados (para cada 1000 crianças de menos de 5 anos havia 950 pessoas de 60 anos ou mais de idade), enquanto na Região Norte ainda estavam bastante distanciados (para cada 1000 crianças do primeiro grupo etário havia 593 idosos de 60 anos ou mais de idade)."

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Co-pagamento de medicamentos recebe adesão das redes privadas.

Parece que o bom senso passou a imperar nesse país. Valor Econômico (15/09/06) informa que as principais redes varejistas (Raia, São Paulo, Pacheco, Onofre, Drogasil, Drogão, Panvel, Pague Menos, Araújo) aderiram à fase 2 do programa Farmácia Popular, ou seja vender medicamentos para hipertensão e diabetes fabricados em laboratórios estatais com preço subsidiado. Esse esquema acabará (espera-se_ com a instalação das Farmácias Populares administradas pelo próprio governo, uma invenção venezuelana e que tinha sido aplicada também no governo Arraes em Pernambuco. que conseguiu ao mesmo tempo atacar as bases do Sistema Único de Saúde e a iniciativa privada. De duas, uma: o paciente não tem recurso e recebe gratuitamente na Unidade Básica de Saúde (que apesar de 420 em São Paulo, não permitem acesso 24 horas dia, sete dias por semana) ou se o paciente pode pagar um pouco procura das inúmeras farmácias (hoje, 2413) que existem nas grandes cidades e, compra por preço mais barato.
A chamada fase 1 da Farmácia Popular tornou-se mais um instrumento político eleitoral e, pouco eficaz porque o não se conseguiu criar mais de 200 farmácias populares em conjunto com prefeituras e filantrópicos. A chamada fase 2 da Farmácia Popular tem esse nome também por interesse político-eleitoral, porque se trata de prática já consagrada em vários países chamada de co-pagamento. O paciente munido de uma receita de antihipertensivo procura uma farmácia cadastrada, ao invés de pagar R$ 15,00 pagará R$ 2,00, somente como exemplo. A farmácia envia o dado da compra ao Ministério que reembolsa R$ 10,00. O paciente acabará comprando outros produtos da farmácia que necessita. Enfim, ganham todos.
Mais pontos positivos: (1) a obrigatoriedade de prescrição médica, que poderá evoluir para que o país chegue a ponto de ter dois tipos de medicamentos: os de prescrição e os de prateleira; (2) a possibilidade de se criar um banco de dados para a Central de Segurança de Medicamentos. Um ponto negativo, pequenas farmácias não conseguirão ter estrutura de informática para participar do programa e, poderão perder mais mercado ainda.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

DDT e Malária

A Organização Mundial de Saúde está propondo a volta do DDT para controle do mosquito vetor da malária com pulverização em paredes e outras superfícies de casa, mas em doses menores. O uso fora de casa continua sendo não recomendado. The Wall Street Journal (14/09/06) noticia: DDT already is on a list of WHO-approved chemicals for indoor spraying. But until now, the agency hadn't strongly endorsed its use, and donors funding malaria programs were reluctant to finance purchases of it. As a result, countries hit hardest by malaria generally have been unable to afford substantial supplies.
The WHO's new stance is aimed partly at encouraging even countries that ban the pesticide to help finance its use in areas ravaged by the disease.

The spraying of DDT has led to a sharp reduction in malaria cases in the few countries where it has been used, such as South Africa. Malaria experts say it is one of the cheapest and most effective forms of prevention. But it must be sprayed in more than 70% of the homes in targeted areas, and nearby regions also must be sprayed to halt mosquitoes there from reintroducing the disease.
Some environmentalists link DDT with cancer and disruptions of the endocrine system, but scientists disagree about DDT's effects on human health. The fear is that spraying DDT in high-risk areas would increase other health risks without eliminating breeding grounds of mosquitoes that spread the disease.

Wider use of DDT "is shortsighted and doesn't recognize the long-term problems and hazards," said Jay Feldman, executive director of Beyond Pesticides, a Washington group pushing for the elimination of toxic pesticides. "It behooves us to advocate the phase-out of this chemical around the world and find solutions to malaria that go to the cause of infestation."
He says officials need to focus more on eliminating mosquito breeding grounds, such as standing pools of water.
Some African government officials have expressed concern that increased use of DDT could hurt exports of agricultural products to the European Union, where the pesticide has been widely banned for more than 20 years. The EU is the main trading partner for most African countries, with EU imports from developing African, Caribbean, and Pacific countries totaling some $36.04 billion (28.4 billion euros) in 2004.
The malaria parasite, borne by infected mosquitoes, clogs a patient's circulatory system, impeding blood flow to the brain and other vital organs. There are drugs for the disease, but some of the cheapest and most commonly used aren't very effective because the parasite has developed resistance. Other pesticides and malaria-fighting methods have often proved to be less-effective and more costly than DDT. Insecticide-treated mosquito nets hung in sleeping areas are successful, but cost, distribution problems and varying usage make them less effective than they could be. Malaria experts say deployment of a malaria vaccine that is now in development could still be years away.

Por outro lado, há o apoio decisivo do Global Fund:
Pressure has been growing in the past few years for the WHO to support DDT more aggressively. Jon Liden, a spokesman for the Global Fund, which pays for indoor DDT spraying in 41 countries, says the organization welcomes the WHO's move. "The Global Fund ... is ready to finance increased use of the strategy if affected countries request it," he says.
In 2004, Africa Fighting Malaria, a not-for-profit health-advocacy group, accused the agency of ignoring advice and research from malaria-control scientists who advocate indoor spraying of DDT.
The U.S. government has stepped up support for indoor pesticide spraying of homes in Africa. While it spent less than $1 million on such programs in 2005, it plans to spend $20 million in fiscal 2007, according to Admiral R. Timothy Ziemer, coordinator of the President's Malaria Initiative and the U.S. Agency for International Development's malaria programs. This year, the U.S. government purchased DDT for a spraying program in Zambia
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Gates Foundation e três doenças neglicenciadas.

The Wall Street Journal anuncia que The Bill & Melinda Gates Foundation irá disponibilizar $ 68 milhões para o Infectious Disease Research Institute of Seattle e, para três vacinas para doenças neglicenciadas: a leishmaniose visceral ou calazar, em laboratórios dos Estados Unidos, Brasil e Peru e, com ensaios de eficácia na India e África. Outro financiamento irá para a Chapel Hill, Carolina do Norte para desenvolver medicamento para a doença do sono, ou tripanossomíase africana que causa mais problemas no gado do que em humano. E, por último verbas para o Sabin Vaccine Institute of Washington, para uma vacina para ancilostomíase ou amarelão.
Comentário: tenho muitas dúvidas sobre a vacina para leishmaniose porque o mais importante sempre será a vigilância sanitária ou controle da população canina nas cidades cujo aumento é devido aos românticos e ingênuos defensores dos animais, não tenho opinião sobre o tratamento da doença do sono, mas acho uma perda enorme de tempo e dinheiro a vacina contra a ancilostomíase, afinal Monteiro Lobato já tinha prescrito botina para o nosso Jeca Tatú.

Duro golpe contra os stents farmacológicos.

Na semana anterior (ver email abaixo), novos resultados do estudo Basket realizado na Suíça e, apresentados no Congresso Mundial de Cardiologia mostravam as limitações dos stents farmacológicos em relação aos ordinários (no mercado americano o custo é de $2000 versus $800) que rapidamente tornaram-se os mais implantados. No início da semana, Circulation divulgava uma análise do estudo Awesome (Cost-Effectiveness of Coronary Artery Bypass Grafts Versus Percutaneous Coronary Intervention for Revascularization of High-Risk Patients ) que valorizava a angioplastia como um todo e, por tabela os stents farmacológicos. Nessa pesquisa, a aplicação da angioplastia depois de 5 anos teve um custo total de 81 790 for contra $100 522 para a revascularização cirúrgica, uma difeerença de $18 732 com a mesma sobrevida.
No meio da semana, no entanto, The New England Journal of Medicine publica dois ensaios clínicos, um com o stent farmacológico da Boston Scientific e outro estudo com o stent da Johnson & Johnson onde a a vantagem sobre o stent regular para o infarto do miocárdio foi somente "marginal". O faturamento conjunto das duas empresas para stents chega a $5 bilhões. Hoje, The Wall Street Journal anuncia que "The Food and Drug Administration said it will convene a public meeting of experts to discuss the risk of potentially deadly blood clots in patients who have received drug-coated cardiac stents. Studies have shown the incidence of clotting, or thrombosis, appears to be higher in drug-coated stents than in earlier-generation, bare-metal stents. The risk in the drug-coated variety also extends for a longer period of months after implantation. Last week, Boston Scientific acknowledged that its Taxus stent carried a statistically significant risk of clots appearing months after implantation compared with bare-metal stents. The agency has met with J&J and Boston Scientific to discuss the companies' data on thrombosis.

Ensaio Clínico de Não Inferioridade e o Viés de Delineamento.

Um tema urgente a ser discutido na ANVISA, CONEP, CEPs, Universidades: o uso cada vez maior dos estudos de "não inferioridade". A motivação desses estudos é nobre, de início, porque seria realizado naquelas situações onde avaliar um novo medicamento contra o placebo seria anti-ético e, o tratamento corriqueiro traz muitos efeitos colaterais. Assim, admite-se que até o novo medicamento seja "discretamente" inferior ao tratamento usual. No entanto, essa prática está se disseminando abrindo brechas no famoso "good clinical practice". O tema merece muito mais. Uma revisão recente pode ser vista em www.annals.org/cgi/content/abstract/145/1/62 , publicada no Annals of Internal Medicine. Quem quiser o texto original pode requisitar a esse blogue.
Leiam abaixo essa notícia publicada no The Wall Street Journal, onde pela primeira vez se descreve um no tipo de "conflito de interesse": viés contra o delineamento de estudo!!
The Food and Drug Administration took the unusual step of removing a member of one of its influential advisory committees after the maker of a drug under consideration complained about a potential conflict of interest.Thomas Fleming, a prominent statistician at the University of Washington, said the FDA late last week rescinded his invitation to serve on a committee that yesterday reviewed a new use for Factive, an antibiotic made by Oscient Pharmaceuticals Corp. In a Sept. 1 letter, Oscient complained to the FDA that, among other things, Dr. Fleming was biased against a type of trial design the company used.
Continua o texto:
" .....he might have a conflict of interest because he has publicly questioned tnoninferiority trial." In a noninferiority trial, used in FDA approvals of antibiotics, a new drug's efficacy has to be shown to be roughly equal to an old drug. Critics argue it isn't always clear how much better the old antibiotics are than placebo pills. So if a new drug is approved because its results are slightly, but not significantly, worse than those of an old drug, there is a risk that it hasn't actually done better than a sugar pillhe type of study used to prove Factive's efficacy, known as a sugar pill".

DCI: Extensão das patentes de medicamentos

O Diário do Comércio e Indústria (14/09/06) informa que laboratórios estrangeiros estão apelando ao Judiciário para que a licença de medicamentos cuja patente esteja sendo renovada ou estendida no país de origem, seja automaticamente aceita no Brasil. Com isso, os laboratórios teriam mais produtos no seu portfolio e, os genéricos seriam lançados mais tarde no mercado. A lei brasileira considera somente o primeiro pedido de patente e, não aceita a “patente secundária” ou a “continuação” do registro. Em 2006, 55 medicamentos perderão a licença, mas em 2008 serão 102 e, em 2010 mais 155 medicamentos poderão ser comercializados como genéricos.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Criar os Centros de Segurança Medicamentosa.

No editorial de David Graham no JAMA sobre os inibidores da Cox-2 apresentado abaixo há uma sugestão que vem a calhar na pauta dos Centros de Pesquisa Clínica financiados pelo Ministério da Saúde: O Centro de Segurança Medicamentosa.

Only Congress can help prevent this from happening again by enacting legislation to create a separate and independent Center for Post-Marketing Safety within the FDA, empowered with the authority to identify and effectively deal with unsafe medicines and the companies that market them.
O Centro de Segurança Medicamentosa organizaria bancos de dados de paciente em uso de medicamentos específicos para seguimento longitudinal observando eventos graves como morte, infarto do miocárdio e câncer, por exemplo. Essa proposta custará muito, porém é factível no mundo informatizado. Por exemplo, podemos trabalhar tanto na dispensação das unidades básicas de saúde que estão bem equipadas em várias cidades, bem como com as redes de farmácias privadas. No momento, há publicações de bancos de dados do Health Gruoup e Kaiser-Permanent dos Estados Unidos e da província de Saskatcheuam no Canadá que analisam o medicamento em uso e desfechos clínicos. Será deles a saída para a confusão em todos dos anti-inflamatórios não-hormonais.

Pela limitação do uso de anti-inflamatórios não-hormonais.

JAMA publica mais dois artigos que mostram o risco do inibidores da Cox-2 e, mesmo de outros anti-inflamatórios. Uma metanálise mostra um dado novo, o risco cardiovascular aumentado para o diclofenaco e ibuprofeno. Salva-se o naproxeno. O resumo do resultado é o seguinte:
Data were combined using a random-effects model. A dose-related risk was evident with rofecoxib, summary relative risk with 25 mg/d or less, 1.33 (95% confidence interval [CI], 1.00-1.79) and 2.19 (95% CI, 1.64-2.91) with more than 25 mg/d. The risk was elevated during the first month of treatment. Celecoxib was not associated with an elevated risk of vascular occlusion, summary relative risk 1.06 (95% CI, 0.91-1.23). Among older nonselective drugs, diclofenac had the highest risk with a summary relative risk of 1.40 (95% CI, 1.16-1.70). The other drugs had summary relative risks close to 1: naproxen, 0.97 (95% CI, 0.87-1.07); piroxicam, 1.06 (95% CI, 0.70-1.59); and ibuprofen, 1.07 (95% CI, 0.97-1.18).
O destaque principal é para o editorial de David Graham denominado “COX-2 Inhibitors, Other NSAIDs, and Cardiovascular Risk. The Seduction of Common Sense”. Alguns tópicos merecem destaque como:
(1) resumindo (parênteses meus): What does this all mean? First, rofecoxib (Vioxx) increases the risk of acute MI (infarto do miocardio) at low and high doses. This risk begins early in therapy, probably with the first dose. There is no initial 18-month period of immunity from risk. Celecoxib (Celebra) also increases risk at doses higher than 200 mg/d; at lower doses, the potential risk is less clear. Several other NSAIDs increase risk, including the COX-2 selective NSAIDs diclofenac (Voltaren) and meloxicam, and the nonselective NSAID indomethacin (Indocid), and probably ibuprofen (Motrin). Meta-analyses of randomized clinical trials and observational studies agree that naproxen is neutral for MI risk.
(2) sugerindo aos médicos: What should physicians do? For most patients with arthritis or other conditions who require chronic pain relief, naproxen appears to be the safest NSAID choice from a cardiovascular perspective. For patients at high risk of NSAID-related gastrointestinal tract complications, naproxen plus a proton pump inhibitor is less costly and as effective, and probably safer, than low-dose celecoxib.
Em resumo, abandonar qualquer anti-inflamatório não hormonal inibidor da Cox-2, bem como outros como diclofenaco e ibuprofeno, ou seja resta somente naproxeno. No caso de irritação gástrica, associar inibidor de bomba.
O texto completo do editorial e mais dois artigos sobre o tema podem ser acessados sem ônus na página do JAMA para quem se cadastrar.
Comentário: tudo que começa mal e apressado evolui pior ainda, como ocorreu com a aprovação dos inibidores da Cox-2. Metanálise não é o melhor delineamento para verifcar risco, porém o único possível. Resta agora estudar bancos de dados já estruturados com menção ao uso de todos os antiinflamatórios.

segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Chrysler nos EUA quer acordo para plano de saúde

A Gazeta Mercantil (11/09/06) noticia que nos Estados Unidos, a Daimler-Chrysler está negociando com o sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística a redução do gasto anual de US$ 2,8 bilhões do plano de saúde próprio da empresa. A Chrysler solicita do sindicato, o mesmo acordo que permitiu à Ford e à General Motors a diminuição do valor aportado ao seguro-saúde de seus empregados.
Comentário: o custo da assistência médica está tão elevado, que nem a indústria automobilística agüenta pagar, mesmo com o retorno em produtividade proporcionado pelo seguro-saúde. Essa informação é muito importante, porque no Brasil ainda há pessoas com responsabilidade em empresas e no serviço público que não se deram conta da gravidade da situação da assistência médica. Ver os posts abaixo sobre stents, neseritide, coração artificial e Nexium com exemplos pontuais do problema.

domingo, 10 de setembro de 2006

Leitura de domingo: Publicações científicas e Felicidade

Nesse domingo (10/09/06) os conselheiros da saúde saíram da cidade. Isso permitiu que O Estado de São Paulo publicasse duas páginas criticando as principais publicações científicas. Citou três exemplos gritantes na Science e na Nature, mas haveria vários outros. Entrevistou vários cientistas, discutiu o preconceito velado contra pesquisadores fora dos grandes centros e, até mostrou que o problema maior é a "panela de citações", agora induzida e organizada pelas próprias revistas. Para finalizar, ainda entrevistou a editora da Nature. Em suma, uma reportagem de qualidade.
Comentário: o preconceito existe em todo o momento, mesmo dentro dos EUA com as universidades menores e, muito no Brasil. Na experiência de seis anos como editor médico afirmo que há uma certa "ação afirmativa" com os artigos enviados por pesquisadores de escolas e hospitais menos tradicionais e, rigor mais com artigos originados em "universidades de ponta".
A Folha de S. Paulo mostrou que a proporção de pessoas felizes no país é elevada (78%) e, aumentou em dez anos. Que decepção! Resolveram brigar com os números, desqualificar os felizes, imputar a quem respondeu "sim" ao que lhe era perguntado, uma séria de características que não podem ser deduzidas da pesquisa. Que coisa chata, um dado tão importante e, obtido com qualidade muito boa do Datafolha foi condenado. Uma provocação: qual a proporção de pessoas felizes nas redações de jornal? Em tempo, estou com a maioria!!

WSJ: Seguro saúde cancela dispensação de "Nexium "

The Wall Street Journal (07/09/06) informa que "UnitedHealth Group Inc., the country's second-largest health insurer, said Thursday it has decided to stop paying for Nexium, a drug for acid reflux, because there are less expensive, equally effective options available. It is unusual for a health insurer to completely stop paying for a medicine, but UnitedHealth said the move can save it about $150 million -- roughly half the amount it spends on the group of drugs known as proton pump inhibitors. For the vast majority of UnitedHealth's plans, the move went into effect this month. The rest will follow by the beginning of next year. UnitedHealth said proton pump inhibitors account for 3% of the $10 billion it is spending annually on medicines -- the second most expensive group after cholesterol-lowering statins."
Comentário: O Nexium -esopremazol - é mais um dos bloqueadores de bomba protiônica no mercado. O seu preço no Brasil é maior do que o do lansoprazol, porém sempre há o argumento de que a potência maior do medicamento mais caro, tornará o tratamento com preço equivalente ou menor. Um bom exercício a ser realizado.
Um detalhe importante: há uma cultura equivocada em tratar preventivamente "úlcera de estresse" motivado por internações, por isso há um abuso de prescrições profiláticas, primeiro foram os anti-ácidos, depois os bloqueadores H2 e, agora os inibidores da bomba protiônica. Ou seja, trata-se de momento onde se consegue reduzir custo e, melhorar qualidade, afinal acidez estomacal é benéfica ao ser humano......

NYT: A história do tratamento para depressão refratária pelo Skip.

The New York Times (10/09/06) apresenta extensa reportagem sobre o estimulador vagal - inicialmente utilizado para epilepsia - e, hoje proposta para tratamento da depressão refratária a medicamentos e ao eletrochoque. Ele é conhecido como Skip. O FDA nomeou comissão que recomendou a aprovação, mas dois meses depois resolveu negar a permissão de uso. O número de pacientes com indicação de uso é grande quando comparado ao de epilépticos, o que motivou a batalha da empresa Cyberonics em conseguir a sua aprovação. O custo do equipamento é de US$ 15 mil e, o implante custará nos EUA mais US$ 10 mil.
O tema tratamento da depressão será cada vez mais frequente devido à prevalência elevada da doença.
A reportagem completa poderá ser lida para quem se inscrever gratuitamente na página http://www.nytimes.com e o explicação do funcionamento do aparelho apresentado na figura poderá consultado na página da empresa em
http://www.vnstherapy.com/depression/main.asp

sábado, 9 de setembro de 2006

The Lancet : México, virada histórica ou mera propaganga?

Júlio Frenk, médico, professor e médico sanitarista "está" há seis anos Ministro da Saúde do México. Não sei se continuará no novo governo de Felipe Calderón. Nas páginas do The Lancet (texto com livre acesso para quem se credenciar na página http://thelancet.com) ele apresenta os resultados fantásticos obtidos na sua gestão. Frenk é acadêmico respeitável. Porém, como desconheço a realidade mexicana, não tenho como avaliar sua gestão. Os exemplos mostrados no texto indicam que há semelhanças com o Brasil, mas aparentemente estamos mais avançados em termos organizativos e, principalmente temos com o SUS, um arcabouço jurídico mais avançado do que o mexicano. Abaixo, reproduzo o ABCDE daquilo que seria a gestão adequada de um Ministro da Saúde, tal como publicado hoje no The Lancet.
Comentários transformados em reconhecimento a brasileiros:
A de Agenda, com destaque para o entendimento com o Ministério da Fazenda local (Adib Jatene que o diga o quão importante é o relacionamento com a área financeira); B de Budget ( ao ex-deputado Eduardo Jorge ao ex-Ministro José Serra e todos que lutaram pela emenda constitucional 29 e, continuam exigindo a sua regulamentação); C de Capacity (homenagem às universidades brasileiras, institutos de pesquisa como Fiocruz e Butantã e à FAPESP); D de Deliverables (sem menção, não temos prioridades); E de Evidence (ainda uma proposta não hegemônica, vale somente para economia para pobres, mas não para o alto custo)

Bridging the divide: global lessons from evidence-based health policy in Mexico
Julio Frenk, The Lancet
Agenda
The first ingredient for success is to advance the health agenda amidst competition for attention and public resources. Especially in their interaction with ministers of finance, health officials can make use of global evidence showing that, in addition to its intrinsic value, a well-performing health system contributes to the overall welfare of society by relieving poverty, improving productivity, increasing educational abilities, developing human capital, generating employment, protecting savings and assets, enhancing competitiveness, and directly stimulating economic growth with a fairer distribution of wealth.
Budget
By placing health at the centre of the broader development agenda of a country it is possible to endow it with the degree of priority that it deserves. Such priority enhances the negotiating power of ministers of health in their quest for increased budgetary support. In too many developing countries, current investment is simply not enough to face the growing demands placed on health systems by the double burden of disease. The Mexican experience shows the value of legislating specifi c entitlements and the associated resource requirements. Use of evidence on the value of health for development can help convince policy makers to mobilise more money for health, but the capacity to deliver more health for the money must also be demonstrated.
Capacity
There is no substitute for long-term investments in capacity building. These efforts should be focused on two main areas. The first refers to health-service delivery, through investments in physical infrastructure and, most importantly, in human resources. The second has to do with the development of institutions that can undertake the necessary research to generate sound evidence for policy. In Mexico, the current reform has reaped the benefits of 20 years of sustained efforts to establish and nurture organisations such as the National Institute of Public Health and the Mexican Health Foundation. These centres of excellence have produced relevant research and policy analysis, trained researchers who occupy key policy-making positions, and done independent and credible evaluations.
Deliverables
A key ingredient to garner public support for a reform is to identify and communicate its specific benefits. The best way to do so is to focus on priority diseases and risk factors. In this way, the public can link abstract financial and managerial notions to concrete deliverables. A fundamental lesson from the Mexican experience is that health-system capacity can be built up through the scale-up of effective preventive and therapeutic interventions against specific priority problems.
Evidence
Evidence derived from scientific knowledge has an empowering effect to transform health systems. There is a growing international consensus that the creation and diffusion of knowledge is one of the major driving forces for health progress. While research is a value in itself, an essential part of culture, knowledge also has an instrumental value as a means to improve health. This improvement is achieved through three mechanisms. First, and most obviously, knowledge gets translated into new and better technologies, such as drugs, vaccines, and diagnostic methods. Second, knowledge is also gained by individuals, who use it to structure their everyday behaviour in key domains like personal hygiene, feeding habits, sexual behaviour, and child-rearing practices. In this way, knowledge can empower people to modify their lifestyles and promote their own health. The power derived from knowledge also allows individuals to become informed users of services and citizens conscious of their rights. Third, knowledge becomes translated into evidence that provides a scientific foundation for decision-making both in the delivery of health services and in the formulation of public policies.

Guerra dos stents: perda para os dois lados.

A Boston Cientific e a Johsson & Johnson estão travando há mais de um ano uma guerra para mostrar que tem o melhor stent com medicamento no mercado. Ambas patrocinaram trabalhos que as favorecem, cada uma a seu tempo. Agora, duas apresentações no World Congress of Cardiology recém terminado em Barcelona, Espanha, reduziram as expectativas desse tipo de stent em relação ao tradicional. O melhor texto explicando a confusão é de hoje do The New York Times. Mas, voltaremos ao tema porque essa é uma questão central na organização da assistência ao infartado no Brasil. Interessante, que o estudo citado, o suíco Basket, não nega o uso desses stents, somente limita a sua indicação.
A grosso modo há um aumento considerável no gasto do atendimento ao infartado no mundo todo porque progressivamente os tratamentos mais adequados vão sendo superados por outros mais caros. Muitas aspas em adequados e superados.
Stent Makers Hurt by Reports About Safety
By
BARNABY J. FEDER
Published: September 8, 2006 (copyright NYT)
Shareholder qualms about growth prospects for the $5 billion coronary stunt business yesterday shook the stocks of Boston Scientific and Johnson & Johnson, the two leading stent makers. Shares of Boston Scientific fell 3.3 percent, or 57 cents, to $16.70. The stock of Johnson & Johnson, whose overall business is less dependent on stents, fell 46 ceNts, to $63.46. The declines came after a stream of reports about stent safety from a European medical meeting. Those included the disclosure yesterday that Boston Scientific had quietly told federal regulators this summer that new analysis of the company’s accumulating safety data found that patients using its best-selling Taxus stent had a slightly greater but statistically clear risk of developing potentially deadly blood clots compared with older stent designs. Among the earlier reports at the meeting was a Swiss study suggesting that in some patient groups the Cypher stent of Johnson & Johnson posed even higher long-term clotting risks than Taxus. Stents are metal sleeves inserted in arteries to keep them propped open after medical procedures to clear blockages. Although some are used during heart bypass surgery, most coronary stents are inserted as a follow-up to angioplasty, a less invasive procedure in which the blockage is cleared from inside the artery by inflating a balloon. The balloon and stent are delivered to the heart area via a long catheter inserted into a blood vessel in the patient’s thigh. Stents were first used in the 1990’s. The original designs were bare metal devices. Cypher, introduced in the United States in 2003, and Taxus, which was cleared for sale in 2004, are drug-coated devices. The coatings are meant to combat the tendency of arteries to form new blockages, a process called restenosis. Although the drug-coated devices cost more than $2,000 on average, compared with $800 or so for bare metal devices, they rapidly supplanted the older designs in the United States and now account for 85 percent to 90 percent of the market. Analysts said that the stock market reaction reflected fears that growth in the stent market would slow and that more doctors would prescribe the less profitable bare metal products. Word of Boston Scientific’s report to regulators, whom it met with on Aug. 1, and the news that Food and Drug Administration officials then asked Johnson & Johnson for more data on its Cypher stent, was reported yesterday in The Wall Street Journal.

PNAS: progestágeno levando a redução auditiva

A médica capixaba Patrícia Guimarães é a primeira autora no Proceedings of the National Academy of Sciences de pesquisa realizada na University of Rochester Medical School com 124 mulheres entre 60-86 anos. Foram 3 grupos: estrógeno-progestágeno, somente estrógeno para histerectomizadas e grupo controle . O primeiro grupo apresesentou redução auditiva maior quando comparada ao dos participantes dos outros dois braços de experimentação. O artigo em versão completa pode ser lido no site da revista.
Comentário: a reposição hormonal estrogênica-progestagênica era a a fonte da juventude, agora até se associa com perda auditiva. Qual será o próximo desfecho pior para a reposição hormonal?

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

J&J -Natrecor: lucros caem, a razão prevalece?

Será que estamos chegando à idade da razão nos estudos clínicos? Depois da festa dos anos 90 e início dos anos 00 quando a ordem no FDA americano era liberar o mais rapidamente possível os medicamentos com a argumentação de que a demora estaria provocando mortes, o momento parece outro, depois do caso Vioxx e, da independência cada vez maior dos editores de revistas médicas. A Johnson & Johnson´s está assumindo que o neseretide, um análogo do peptídeo natriurético B necessita de estudo com grande número de participantes com desfechos de qualidade como mortalidade e insuficiência renal. Investirá US$100 milhões tudo isso depois de cinco anos de aprovação. Abaixo o texto do The Wall Street Journal contando um pouco da história desse medicamento, que parecia promissor, mas o lançamento precoce e, alguns resultados indesejados, levaram que o “feitiço, voltasse contra o feiticeiro”.
Todas as informações do medicamento podem ser lidas também em http://www.natrecor.com, com destaque para o ocorrido no ensaio ProAction.

J&J Names Institute to Lead Trial of Its Natrecor Heart Drug. (copyright WSJ 2006)
J&J’ Sciso unit named Duke Clinical Research Institute to lead a 7,000-patient trial to test the safety and efficacy of its heart-failure drug Natrecor.
The announcement comes more than 15 months after an expert panel led by a Harvard University cardiologist recommended such a study in the wake of concerns that the medicine might increase the risk of death or kidney failure within 30 days of treatment among patients hospitalized with acute heart failure. The Cleveland Clinic also will help lead the study. By naming two prestigious centers to run a large-scale study, expected to cost more than $100 million, the company is making an important investment in the future of the drug, known generically as nesiritide -- albeit a commitment that some critics would like to have seen earlier. Robert M. Califf, director of the Duke institute at Duke University in Durham, N.C., will serve as chairman of the study and lead "a global consortium of academic leaders who will conduct the study with the type of independence" intended to instill confidence among cardiologists and patients in the findings. Natrecor was approved in 2001 on the basis of studies demonstrating its ability to quickly improve symptoms of shortness of breath among patients suffering from what doctors call acute decompensated heart failure, and it was a strong performer for J&J, which is based in New Brunswick, N.J. But the lack of data to resolve safety concerns has undermined physician confidence in the drug in the past year, contributing to a significant drop in sales. Dr. Califf said the study is also an opportunity to make an important advance for patients for whom there are few effective remedies. More than one million U.S. patients are admitted to hospitals with acute decompensated heart failure a year and as many as 8% die in the hospital.
When he began his career in a coronary care unit in 1980, Dr. Califf said, there were two kinds of patients: those with unstable chest pain called acute coronary syndrome that leads to heart attacks, and those with acute heart failure. Medicine has made major strides against heart attacks since, but almost no progress for acute heart failure. "Patients come in feeling like they're drowning and there is a very high rate of death and readmissions," Dr. Califf said. Natrecor helps relieve shortness of breath, "but what is not settled is what are the longer-term effects," he said. "I'm glad there's now a commitment to get the trial done."
The study, whose precise design has yet to be finalized, is expected to first evaluate safety and efficacy at 30 days after treatment. Enrollment of patients -- about half from North America and the rest from elsewhere around the world -- is expected to begin in the first half of next year. Dr. Califf said the first results should be ready in two to three years

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

WSJ: Merck se auto-absolve do caso Vioxx.

Segue abaixo, reportagem do The Wall Street Journal sobre a auto-absolvição da Merck Sharp Dohme no caso Vioxx. Apresentei em negrito, o único parágrafo onde o relatório pago pela própria empresa se auto-recrimina e, cita comportamentos pouco aceitáveis em relação aquilo que chamou de médicos "anti-Vioxx" ou "anti-Merck". Lembro que quando a análise do braço cardiovascular do Vioxx foi publicado, os médicos brasileiros "pró-Vioxx" e "pró-Merck" não perderam tempo em defender o produto.

By JOHN CARREYROU and HEATHER WON TESORIEROSeptember 7, 2006; Page D3 Copyright The Wall Street Journal.
An outside investigation ordered by Merck & Co.'s board largely exonerated the drug maker's management of any wrongdoing in developing and marketing the painkiller Vioxx, citing much of the same evidence that critics say shows Merck acted irresponsibly.
Plaintiffs' attorneys dismissed the investigation as a whitewashing exercise. Merck faces more than 14,200 lawsuits alleging that Vioxx caused heart attacks and strokes. So far, the company has won four cases that have gone to trial and lost four.
Summarizing the results of a 20-month investigation, retired U.S. District Judge John S. Martin Jr. took up 27 allegations that critics have leveled against Merck, ultimately rejecting the central elements of each one. Mr. Martin is with the law firm Debevoise & Plimpton LLP.
Merck's management believed Vioxx was safe until the company withdrew the drug from the market in September 2004 and never intended to mislead the Food and Drug Administration or the public, Mr. Martin's report says.
"Critics contend that senior officials at Merck knowingly put patients at risk of cardiovascular events rather than jeopardize the profits that Merck generated from the sale of Vioxx," the report says. "We have concluded that there is no basis for such a claim."
Plaintiffs' attorney Christopher Seeger called the report "a legal brief on behalf of the company." He added: "If law firms like Debevoise said anything negative about the companies that hire them to do these reports, they'd never be hired by a big company again."
At a news conference to present his findings, Mr. Martin said the report was "positive because that's what we found."
Investigations commissioned by companies' boards of directors have a mixed record of credibility, says Edwin Stier, a partner at the law firm Stier Anderson LLC, who has conducted several such probes and used to head the criminal division of the U.S. attorney's office in New Jersey.
"This report should be scrutinized with a great deal of skepticism," Mr. Stier says. But, "I think it's a mistake to automatically assume that an investigation is a whitewash because there's so much money at stake."
Analysts have projected Merck could face legal liability on Vioxx of anywhere between $4 billion and $30 billion. If Mr. Martin's report had laid blame on Merck's management, it would have been sure to feed the litigation frenzy.
Mr. Martin was assisted in his investigation by a team of lawyers and paralegals from Debevoise. The firm spent a collective 53,000 hours reviewing tens of millions of documents and interviewing dozens of Merck scientists and executives, as well as outside experts. However, none of the interviews were recorded and notes were taken by hand. The interviews aren't included in the report's appendices. Merck said it would pay the law firm $21 million for its services.
Mr. Martin's investigation found that some of Merck's sales tactics were overly aggressive, but it pinned the blame on individual employees and said upper management was either not aware of or didn't condone those practices.
One of them involved "neutralizing" physicians that sales representatives had identified as "anti-Vioxx" or "anti-Merck" with payments, support for their clinical studies, trips to "elegant" locations such as New York or Hawaii, and medical-school grants. The report says these were merely recommendations and there is no evidence they were ever acted upon.
The report also noted that a promotional aid called "the Cardiovascular Card" used by Merck sales representatives to pitch Vioxx to doctors didn't include data from a 2000 clinical trial that showed a higher incidence of heart attacks and strokes among patients who took Vioxx. But it excused this by saying that Merck provided a separate letter describing that trial to doctors who asked about it.
The report accepted Merck scientists' explanation that, at the time, they believed the higher rate of heart attacks and strokes detected among Vioxx patients in that clinical trial was due to the beneficial effects of the drug Vioxx was being compared to, rather than any negative effects of Vioxx itself. Outside scientists have frequently rejected that theory.
The report says an email that former Merck research head Edward Scolnick sent to colleagues in March 2000 after learning of the results of that trial, in which he acknowledged the cardiovascular data and called it "a shame," was merely an initial reaction. Subsequent emails show Dr. Scolnick changed his mind upon further reviewing the data, and he became convinced that Vioxx was safe, the report says. At the news conference, Mr. Martin called Dr. Scolnick "brilliant

FT: vacina da malária pode demorar sem apoio do G-7

The Financial Times (07/09/06/) revela que a Glaxo-Smith Kline, divisão de vacinas, informa que o esforço para a introdução da vacina da malária poderá ser retardado se não houver garantia dos países do G-7 em comprar o produto para ser aplicado em áreas endêmicas de malária. A GSK gastou US $25 milhões em seis anos em pesquisas que permitirá a fase final dos ensaios clínicos em 2007 e, recebeu também quantia equivalente da Bill & Melinda Gates Foundation. Segundo, o FT, "G8 officials working on plans to develop "advanced market commitments" (AMCs), by which government donors will pledge to buy agreed quantities of any successfully developed new vaccines or medicines. The initiative will provide a way of motivating pharmaceutical companies to develop cures and prevention techniques for diseases in the developing world, for which the commercial appeal is low because of the limited ability of the countries in need to pay.GSK and a number of other pharma companies have endorsed the idea of AMCs, which would provide them with enough certainty to continue investing in diseases otherwise considered too unpredictable.Italy, supported by the UK and Canada, have backed the idea of AMCs, as has the US. However, France, Germany and Japan have proved more reluctant". (destaque em negrito meu)
Comentário: as somas em jogos são minúsculas e, ridículas perto do esforço de guerra, ou das barreiras fronteiriças e aeroportuárias gastos por esses países. Se efetiva, a vacina contra a malária representaria um grande redução na mortalidade na infância na África. A proposta "AMC" é da maior importância e, pode ser solução para outras situações, como a já citada nesse bloq em relação à Doença de Chagas.
Na verdade, estamos falando do G-7, porque a Rússia não consegue nem cumprir em casa o calendário clássico de vacinação.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

FDA: Coração artificial aprovado.


O FDA (Food and Drug Administration) aprovou (05/09/06) o primeiro coração artificial para comercialização chamado AbioCor para pacientes em insuficiência cardíaca terminal. A decisão do FDA foi oposta ao comitê de especialista, contrário à liberação em votação apertada (7/6). A aprovação foi baseada em um pequeno estudo de 14 pacientes tratados entre 2001 e 2004. O aparelho aumentou a sobrevida em média 5,2 meses, embora um paciente sobreviveu por 18 meses. A idade de indicação é entre 25 a 50 anos, com peso de no mínimo 80 kg ou mais alto que 1,78 m. O aparelho custará US $250.000,00.

Comentário: apesar do preço estratosférico e da indicação restrita, casos anteriores mostram que há risco de que o "complexo médico - industrial - midiático" com o respaldo de ONGs iniciem um processo de sensibilização para dispensação do equipamento pelo SUS.

Conselhos de saúde na imprensa leiga: no meio do horror, um espaço para Stuart-Mill

Domingos, feriados e, principalmente feriadões são momentos de leitura mais cuidadosa de jornais e revistas. Poucos artigos interessantes com análises originais, a maioria segue a linha da auto-ajuda ou da intimidação à saúde do leitor, caso ele ou ela não siga os conselhos dos entrevistados. Primeiro foram os psicólogos/psiquiatras/psicanalistas, depois médicos em geral, agora professores de educação física com algum tipo de treinamento tibetano, falam da vida com um conhecimento próprio do Dalai Lhama. Os palpiteiros das várias profissões desconhecem como o "conhecimento" que divulgam de forma incompleta foi concebido. Pior ainda, eles não medem os efeitos negativos de recriminações ou de sugestões divulgadas relacionadas ao chamado "estilo de vida".
Eles conseguem espaço porque vendem um produto inexistente: a vida eterna e sem conflitos; Porém, essa questão não é nova. Trata-se de objeto da filosofia e da ética há muito tempo. Duas frases são fundamentais a serem lembradas, a primeira de John Stuart-Mill (1806-1872): "o único objetivo para o qual o poder pode ser justamente exercido contra o desejo de qualquer membro de uma sociedade civilizada é para evitar dano aos outros. Exercer o poder contra o desejo de um cidadão unicamente para evitar um prejuízo físico ou moral a ele próprio, não constitui justificativa aceitável." ( do original em Three essays: On liberty, representative government, the subjection of women (original 1859, London: Oxford University Press: "the only purpose for which power can be rightfully exercised over any member of a civilised community against his will is to prevent harm to others. His own good, either physical or moral, is not sufficient warrant") . A segunda bem mais recente de Ian Markham: "os pais tomam decisões por seus filhos na crença que isso é o melhor para eles. Permite-se aos pais o direito de ser paternalista. Contudo, médicos não são pais e adultos não são crianças. Embora seja tentador ao médico usar o seu conhecimento para decidir o que é o melhor, o respeito a autonomia do indivíduo deveria impedir tal ato". (traduzido de Markham, Ian S. Ethical and legal issues. Br Med Bull1998: 54:1011-21: "parents make decisions for their child in the belief that this is for the child's good without the child's permission. Parents are permitted to be paternalistic. However, doctors are not parents and adults are not children. Although it is tempting for the doctor to use their expertise to decide what is best, respect for an individual's autonomy should forbid this".)

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Alho, batata e limão para o HIV: a receita do Ministro sulafricano.

Eu também concordo com a carta enviada por mais de 50 cientistas pedindo a demissão do Ministro da Saúde da África do Sul. Ignorância pode matar mais do que conflitos armados.

Mr Thabo Mvuyelwa Mbeki
President
Republic of South Africa
Union Buildings
West wing
2nd Floor
Government Avenue
Pretoria
4 September 2006
Dear President Mbeki


We are members of the global scientific community working on HIV/AIDS who wish to express our deep concern at the response of the South African government to the HIV epidemic. HIV causes AIDS. Antiretrovirals are the only medications currently available that alleviate the consequences of HIV infection. The evidence supporting these statements is overwhelming and beyond dispute. Much credit for the impressive advancement of HIV science belongs to scientists and clinicians based in South Africa and elsewhere on the African continent. Their expertise should play a critical role in alleviating the awful consequences HIV has caused to South African society. We are therefore deeply concerned at how HIV science has been undermined by the South African Minister of Health, Dr Manto TshabalalaMsimang. Before and during the XVI International AIDS Conference, Dr TshabalalaMsimang expressed pseudoscientific views about the management of HIV infection. Furthermore, the South African government exhibition at the Conference featured garlic, lemons and African potatoes, with the implication that these dietary elements are alternative treatments for HIV infection. There is no scientific evidence to support such views. Good nutrition is important for all people, including people with HIV, but garlic, lemons and potatoes are not alternatives to effective medications to treat a specific viral infection and its consequences on the human immune system. Over 5 million people live with HIV in South Africa. According to the best estimates of South African actuaries, over 500,000 people without access to antiretrovirals have reached the stage of HIV disease when they now require these medicines to save their lives. We commend the South African Department of Health's Operational Plan for Comprehensive HIV and AIDS Care, Management and Treatment for South Africa released on 19 ovember 2003. This plan committed to treating over 380,000 people by this time in the public health sector. Unfortunately, fewer than half of that target number are currently receiving treatment in the public sector. Many people are therefore dying unnecessarily. We are also deeply concerned by the proliferation of unproven remedies being marketed in South Africa, some of them with the implicit or even explicit support of the Minister of Health. Slick marketing practices cause people not to take proven medications, or at best to waste money on false hopes. We condemn all those who profit from this type of quackery, at the expense of the sick and dying. We echo the words of Mr Stephen Lewis, special advisor to the UN Secretary General, that South Africa's response to AIDS is "obtuse, dilatory and negligent".

WSJ: falta de enfermeiros nos EUA levando a greves e aumento de salário.

The Wall Street Journal (05/09/06) relata que a redução de enfermagem nos hospitais americanos está propiciando greves e, consequentemente aumento de salários conforme mostrado nesse gráfico. O texto do WSJ é preciso sobre o que se passa no país: Given the shortage of nurses nationwide -- a report released in December by the American Hospital Association said U.S. hospitals needed roughly 118,000 nurses to fill vacant positions -- those companies are trying to woo nurses with special bonuses and wages that are far above the average. In addition to hiring out-of-state nurses as replacements, staffing companies try to lure nurses at nearby hospitals with high pay and bonuses to cross picket lines during their vacations.

Comentário: a política de redução de custos em hospitais com corte na folha salarial, ao contrário da indústria automobilística que pode substituir operários por máquinas novas, é catastrófica com piora de qualidade e, inevitavelmente levando a greve reinvidicativa forte o suficiente para conseguir aumento salarial. A saída de contratação de mão de obra externa, principalmente das Filipinas, parece que está alcançado o seu limite.

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Merck tem 5 anos para dobrar faturamento.

Isto É Dinheiro (6/06/09) apresenta a situação da indústria farmacêutica americana que poderá perder nos próximos cinco anos US$ 72 bilhões devido a perda de patentes de remédios como, por exemplo, os fabricados pelo laboratório Merck nos EUA (aqui, Merck Sharp&Dohme, MSD) que deixará de ter a patente do Zocor e Fosamax. Segundo consultores, a empresa deverá agregar mais US$20 bilhões ao faturamento atual de US$20 bilhões. Uma tarefa difícil para a empresa que enfrenta nos EUA, a batalha jurídica do Vioxx. A MSD conseguiu aprovar duas vacinas, o Gardasil para o papilomavírus (câncer de colo de útero) e Rotateq (rotavírus), Januvia ( fosfato de sitagliptina, inibidor da DPP-4, para o diabetes). Informa o texto que a MSD está interessada em abrir centros de pesquisas fora dos EUA, no Brasil, por exemplo. Essa proposta cairia muito bem apoiando os centros de pesquisa clínica que estão sendo instalados nas universidades com financiamento do Ministério da Saúde.
Comentário: trata-se de uma situação interessante, onde tanto o país poderá ganhar com o incremento da pesquisa e da inovação no país com o aporte de recursos dessa empresa na montagem ou financiamento de um ou mais centros de pesquisa ou poderá perder muito se converter o SUS em comprador desses novos produtos sem qualquer crítica. Essa é a possibilidade maior de ocorrer porque é sempre difícil controlar o lobby poderoso na mídia e entre médicos e organizações governamentais para implementar a compra de vacinas nas três esferas de governo.
Em cinco anos saberemos como colaboramos com a meta da MSD para dobrar seu faturamento: como sócios deles ou como fregueses.

domingo, 3 de setembro de 2006

O plebiscito já foi, mas a realidade continua: arma em casa aumenta risco de suicídio.

Um estudo de pesquisadores suiços publicado no American Journal of Public Health comparou em vários países a posse de armas em domicílio e a proporção de suicídios por arma de fogo em casa. O resultado foi que nos países onde desde 1980 houve redução de armas em casa, a chance de alguém da família se matar é menor.Os países onde essa associação foi bem marcante foram Noruega, Reino Unido, Canadá, Australia, e Nova Zelândia. O abstract desse texto pode ser lido na página da revista em
Apesar do resultado do plebiscito em outubro de 2005, o recado continua presente: arma em casa somente serve para fornecer equipamento para bandido e, aumentar o risco de suicídio.

sábado, 2 de setembro de 2006

Exjade: notícia sobre medicamento na coluna social

Um local inusitado para o anúncio de medicamento, o “Exjade”: a coluna social “Persona” do Estadão (02/09/06). A nota diz afirma que trata-se “ primeiro medicamento oral de administração diária para a sobrecarga de ferro no organismo que pode acarretar danos ao fígado, glândulas endócrinas (sic) e coração”. O "Exjade" é o deferasirox um quelante de ferro cuja informação completa pode ser consutada em http://www.exjade.com, porém não há informação completa em português. Interessante que a notícia publicada em setembro como exclusiva, de fato encontra-se divulgada no país desde fevereiro de 2006 quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o seu uso para talassemia, anemia falciforme e síndromes mielodisplásicas. Ou seja, são situações clínicas pouco freqüentes, mesmo quando considerada a hemocromatosose, a prevalência é baixa. Afinal, porque o destaque agora ? Estranho o mundo da divulgação farmacêutica!

Em tempo: a vinda de um medicamento oral para reduzir o ferro representa um sossego para os talassêmicos que sofrem com injeções e bombas de infusão. A prevalência da beta-talassemia no Brasil é elevada devido à imigração italiana e levantina que são os portadores principais dos genes da talassemia. Infelizmente, há médicos que confundem a microcitose da talassemia com deficiência de ferro e, prescrevem o que menos um talassêmico precisa, o ferro. Obviamente, o medicamento será de alto custo e bancado pelo Sistema Único de Saúde.